Sílvia Jácome tem 48 anos e cresceu numa aldeia a três quilómetros de Tomar. Em adolescente, costurava a roupa, através dos moldes que encontrava na revista de moda Burda. “Nessa altura, não se falava em sustentabilidade. Depois, fui-me tornando assumidamente sustentável. O meu marido comprou uma ruína antes de nos conhecermos. Ele não é português, é holandês, e quando me apresentou o projeto da casa ficou com receio de que não me identificasse com ela. Fiquei apaixonada desde o primeiro minuto”, explica a mulher que reside com o companheiro Paulo, de 55 anos, e o filho David, de seis, em Salir de Matos, uma freguesia das Caldas da Rainha.
“Vamos fazendo tudo à nossa maneira. As paredes não são direitas, mas isso não importa nada porque somos nós que as construímos. Apesar de ter 100 anos, a casa não tinha rede pública de eletricidade. Pelo valor que a EDP pedia, aderimos à energia pura, a solar, que é um investimento, mas fica para a vida”, explica a artista formada em Design e Tecnologias para a Cerâmica na Escola Superior de Arte e Design da cidade onde reside atualmente. “As práticas amigas do ambiente são sempre mais caras. Usamos revestimentos como a cortiça e pagamos muito mais do que se comprássemos esferovite. Os materiais são mais sustentáveis e a cara fica com melhores condições”, garante.
Trabalhou na indústria da cerâmica durante cinco anos e criou o projeto Sílvia Jácome Ceramics em 2009. “Trabalho em casa, tenho um ateliê construído de raiz. Não poderia ser de outra forma. Lá, não tenho um único caixote de lixo, porque aproveito tudo”, diz, admitindo que o facto de serem amigos do ambiente abrange as outras vertentes da suas vidas e, por isso, tentam o mais possível comprar produtos alimentares a granel. “Apostamos nos produtos locais e sazonais, mas também temos a nossa própria horta biológica. Consumimos muito mais comida vegetariana do que peixe e carne. Por exemplo, se vamos ao supermercado, levamos os nossos sacos e caixas”.
“Fazemos reciclagem, mas tentamos produzir a menor quantidade de lixo. Toda a água que consumimos, exceto a da sanita, vai para um tanque e temos plantas que oxigenam a água e a mesma é aproveitada para regar a nossa horta e o nosso jardim. Só compramos roupa quando precisamos mesmo e preferimos qualidade a quantidade”, sublinha, partilhando que o marido dedica-se à criação de jardins ecológicos desde o momento em que são projetados até à própria realização. “Ele avalia o sítio onde o jardim vai ser feito, escolhe as plantas e as árvores do local, dá muita importância às espécies autóctones e tenta que as pessoas não estejam sempre a regar o jardim, está tudo relacionado com o tipo de vegetação”.
“Gostava de dizer que as pessoas estão viradas para a sustentabilidade, apesar de haver exemplos horríveis, quero acreditar que sim. Somos bombardeados com notícias sobre aquilo que acontece no planeta e, mesmo assim, não fazemos coisas simples para ajudá-lo”, lamenta, recordando a tarefa árdua que constituiu encontrar uma mochila “diferente daquelas que se veem nos supermercados” para o pequeno David. “Não há quase marcas portuguesas a produzir estes materiais, mas encontrei, numa loja de consumo responsável, umas mochilas de marca alemã feitas de garrafas”.
“Temos de olhar para o nosso consumo e perceber que somos responsáveis pela casa que é de todos. Por isso, como família, também andamos de bicicleta todos os dias. Temos o orgulho de dizer que o nosso filho não está constantemente agarrado ao tablet ou ao telemóvel. Joga à bola, salta no trampolim e damos-lhe ferramentas para puder ser criativo. Há sempre pessoas que questionam a nossa maneira de estar, como se fôssemos ‘coitadinhos’, mas temos a maior riqueza”, finaliza a ceramista que organiza oficinas com crianças e famílias, “porque brincar com o barro tem benefícios terapêuticos comprovados e incentiva o desenvolvimento de habilidades sensoriais e motoras, tal como a imaginação e o foco”.
“Se todos fizéssemos o mesmo, seria muito prejudicial” Mas, afinal, o que é a sustentabilidade? O conceito prende-se com a capacidade de sustentação ou conservação de um processo ou sistema. Em termos práticos, diz respeito ao desenvolvimento sustentável, ou seja, a uma expressão que foi utilizada pela primeira vez em 1987, no Relatório Brundtland, um relatório elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada em 1983 pela Assembleia das Nações Unidas. No documento, lia-se que o termo diz respeito ao “desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades, significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e económico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da Terra e preservando as espécies e os habitats naturais”.
Para Ana Fetal, de 33 anos, a questão levantou-se “mais a sério” quando começou a gerir as finanças e percebeu que, à poupança, podia aliar a segurança e a preservação do meio ambiente. “Vivo num condomínio no Seixal com muitas casas e comecei a ver que, se todos fizéssemos o mesmo, seria muito prejudicial. Depressa consegui perceber que, não desistindo, conseguimos criar detergentes. Compro sabão, bicarbonato de sódio, vinagre branco, carbonato de sódio, percarbonato e acido cítrico – tira a gordura e deixa tudo brilhante – para o detergente da loiça”.
No entanto, as invenções de Ana não ficam por aqui: usa quase sempre a mesma fórmula para os restantes produtos de limpeza, como sprays para o chão e multiusos, conferindo-lhes o aroma que deseja através dos óleos essenciais, usados habitualmente na aromaterapia. “Temos sempre o número do Centro de Informação Antivenenos nos detergentes convencionais, mas estes que faço não são perigosos. Como mãe de uma criança de três anos, é um ganho e um descanso completo”.
“Sempre me preocupei com o ambiente porque nasci numa região de Leiria onde, desde pequena, fui ensinada a reciclar. Quando comprei casa e comecei a gerir tudo, e percebia que os produtos estavam a meio, comprava tudo. Quando mudei para os detergentes caseiros, descobri que andei meses a gastar aquilo que ainda tinha em stock”, confessa a mulher que, quando vai ao supermercado e percorre os corredores dos produtos de limpeza, pensa: “Não preciso disto”.
“Tenho os meus sprays e panos de microfibra que ponho na máquina e lavo. E já não uso esponjas normais, uso as de luffa, que é uma planta: dá para lavar a loiça, fazer esfoliação ao corpo… A próxima aquisição será o raspador de coco para substituir os esfregões de palha de aço”, assevera, declarando que se esforça ao máximo para não adquirir coisas “só porque sim” e, relativamente à roupa do filho, somente compra peças novas quando aquelas que tem no armário já não lhe servem. “Acho que aquelas que temos não chegam para duas semanas sem lavar”.
“Compro água de Monchique por questões de saúde, mas, de resto, uso um filtro de água e, recentemente, comprei um filtro de carvão ativado. Estou de férias e sei que, quando chegar a casa, terei de fazer muitos detergentes, mas torna-se um vício. É uma autêntica maravilha. Tive uma colega de trabalho que enveredou por esta vertente, fiz um workshop e comecei a experimentar, a ir por tentativa e erro e apaixonei-me. Enquanto fazemos o almoço ou outra tarefa, podemos fazer detergente em meia hora. Há uma sensação de poder e organização. Há muita mais variedade porque escolho os aromas através dos óleos essenciais. O meu marido era muito cético, mas agora já se rendeu”, narra.
Em novembro de 2020, a Deco Proteste veiculou os resultados de um inquérito através do qual tentou perceber como os consumidores portugueses encaram o impacto dos detergentes no meio ambiente. Concluiu-se que, para o consumidor nacional, o impacto causado por ação dos detergentes de uso doméstico no ambiente é uma preocupação, pois 70% dos inquiridos dizem considerar este aspeto ao comprar. No entanto, somente para 16%, essa preocupação pode ser determinante. Curiosamente, os consumidores entre os 25 e os 39 anos de idade são aqueles que se encaram como menos informados sobre este problema.
“As pessoas querem mudar alguma coisa nas suas vidas” “A preocupação com a sustentabilidade surgiu de forma gradual. Já tinha a parte da ecologia bastante vincada em casa porque fazia reciclagem com os meus pais, aproveitávamos tudo ao máximo, trocávamos roupa entre primos e irmãos, a minha mãe remendava a roupa toda… Fazíamos aquilo que conseguíamos para protegermos o ambiente“, conta Marisa Fernandes, de 43 anos, que considera que despertou verdadeiramente para a necessidade de preservar a capacidade de regeneração dos ecossistemas diante do uso abusivo dos recursos naturais e/ou da existência de eventos naturais como incêndios ou tsunamis quando estava grávida do primeiro filho, há 13 anos.
“Pensei: ‘Vou usar fraldas descartáveis? Vou fazer montes de lixo’. Comecei a pesquisar e descobri as fraldas de pano. Desvendei a ecologia na maternidade. Cinco anos depois, nasceu a minha filha e comecei a fazer fraldas e acessórios para bebés. Ao início, era eu que fazia tudo mas, depois, tive muitas encomendas. Ainda faço algumas coisas. Quando encontramos algodão biológico, usamo-lo, senão usamos algodão de excedentes de fábricas”, explicita a criadora da marca Fluffy Organic & Eco que tem por objectivo substituir os plásticos de uso único.
“A nível familiar, tentámos fazer mudanças em casa e na cozinha, aprendendo com quem já sabia mais do que nós e, até hoje, vamos melhorando. Podemos não ser zero waste, mas fazemos coisas como usar sacos de pano e garrafas reutilizáveis”, realça, referindo-se ao vocábulo que, normalmente, tem como significado a conservação de todos os recursos por meio da produção, consumo, reaproveitamento e recuperação responsável de todos os produtos, embalagens e materiais, sem queimá-los, e sem despejos no solo, na água ou no ar que ameacem o meio ambiente ou a saúde humana.
“Acho que ainda há algum caminho por trilhar mas, comparando com outras épocas, vejo uma evolução enorme, principalmente, desde 2018. As pessoas querem mudar alguma coisa nas suas vidas e vão comprando um ou dois produtos, fazendo-os em casa, e reaproveitam aquilo que têm. No entanto, sinto que temos de chegar a mais gente”.
“Mesmo no confinamento, não tive qualquer quebra nas encomendas” Vera Martins tem 44 anos e reside em Rio Tinto, no Porto, sendo fundadora da página de Facebook Panos da Vera. Aprendeu a andar de bicicleta aos 32 anos para ter a oportunidade de a usar como meio de transporte principal mas, antes, já se havia interessado pelos direitos dos animais – aprofundando o conhecimento acerca de temáticas como a das experiências com fins científicos ou do uso de animais para testes de produtos de limpeza ou cosmética -, volvidos três anos deixou de comer carne e, um ano depois, peixe. Em 2000, já não consumia qualquer produto de origem animal e, mesmo tendo tirado a carta de condução, não quer recorrer ao carro para evitar a poluição. Há alguns anos, uma amiga alérgica aos pensos higiénicos descartáveis pediu-lhe que fizesse uns de tecido, por ser formada em estilismo e modelismo e, desde 2006, ano em que este artigo mal era conhecido em Portugal, esta é a sua principal fonte de rendimento, sendo que começou pelo ebay.
Tendo por base tecidos excedentes – com defeito, sobras ou tudo o que por algum motivo já não serve para a indústria têxtil em larga escala – das fábricas do Vale do Ave, Vera costura pensos com os mais variados padrões. “Tive conhecimento da hipótese de compra dos excedentes dos tecidos numa feira à qual costumo ir e há pessoas que vendem tecidos. Normalmente, são retalhos pequenos, mas disseram-me que alguns armazéns fazem venda ao público. E noto que há pessoas que fazem o mesmo trabalho do que eu, mas não têm acesso a estes tecidos”, declara, adiantando que o ano de 2017 terá sido o auge do negócio.
“Mesmo no confinamento, não tive qualquer quebra nas encomendas, mas tem acontecido nos últimos meses. Em 2018, estive tão aflita com trabalho que nem conseguia ler todas as mensagens que me chegavam. Depois, felizmente, arranjei ajuda. Podia fazer outras coisas, mas prefiro focar-me nos pensos porque são produtos essenciais e ajudamos o ambiente”, frisa, sendo que, em 2015, este produto de higiene íntima representava, na área de Grande Lisboa, 5% do lixo produzido, segundo Carmen Lima, do Centro de Informação de Resíduos da Quercus. Como foi noticiado pelo Nascer do SOL, à época, se pensarmos a nível planetário, as mulheres deixam uma gigantesca pegada ecológica: as estimativas apontam para que cada uma utilize cerca de 17 mil produtos higiénicos descartáveis durante a sua vida fértil, produtos esses que demoram dezenas de décadas até, finalmente, se decomporem.
“Já poupei mais de 5 mil euros por ano” Elisa Manero tem 51 anos, é professora de Matemática, em Lisboa, e criou a página ”Economia circular Lx” no Facebook depois de ter fundado o blogue homónimo. “Roupas, calçado, objetos para a casa… Posso dizer que tudo se consegue. Há muitas pessoas com dificuldades económicas que fazem trocas por precisarem de outras coisas. Tenho dois filhos e eles também me acompanham. Eles próprios já me avisam quando a roupa não lhes serve e pedem para trocar. Ensino-lhes que existe um ciclo e, por exemplo, já tenho a roupa deles de inverno garantida. É claro que há peças que temos de comprar, mas só quando precisamos e não conseguimos por via das trocas”, refere, mencionando que o impacto da chamada fast fashion (moda que chega aos consumidores cada vez mais rápido) tem impactos ambientais ao nível do consumo de água, da erosão dos solos, da emissão de CO2 e dos resíduos e desperdícios resultantes.
“Imaginem que quero dar roupa a alguém: é pouco democrático enquanto, nas trocas, a pessoa não se sente diminuída e a sustentabilidade é fomentada. É socialmente mais justo”, diz, aludindo à melhor troca que já fez. “A minha sogra tinha uma série de eletrodomésticos antigos avariados e eu disse-lhe que tratava do assunto. Publiquei as fotografias com descrição, fui contactada por uma pessoa e troquei-os por uma bicicleta pequena e 30 canetas. Até já troquei explicações de Matemática por coisas que o meu filho queria!”, salienta, não escondendo, porém, que “há quem sobrevalorize as suas coisas e desvalorize as dos outros”.
“Pelas minhas contas, já poupei mais de 5 mil euros por ano fazendo todas estas coisas. Quero educar os meus filhos para o consumo regrado”. É de mencionar que 2020 foi “um ano turbulento e preocupante que nos deixou a todos à procura de um lado positivo – tanto na vida como nos negócios – tendo perfeita consciência que temos de fazer o melhor que pudermos [em 2021]”, pode ler-se no The State of Fashion 2021, um relatório elaborado pela McKinsey & Company que transmite uma visão geral da indústria da moda, questionando mais de 275 executivos de moda globais. O primeiro cenário, denominado de Recuperação Antecipada, aponta para um declínio das vendas de até 5% em 2021 em comparação com 2019. O segundo, Recuperação Tardia, prevê que as vendas caiam entre 10% e 15%, no ano corrente, em comparação com 2019.
“Os clientes ficaram porque perceberam que os produtos são tão válidos quanto os outros” “Abrimos a empresa em 2015, lançámos o site em 2016 – o ano de combate ao desperdício alimentar – e a ideia surgiu porque um dos sócios viu que este conceito já existia noutros países, como no Norte da Europa, e investigámos se era possível vender produtos que se encontram perto do fim do prazo de consumo preferencial”, destaca Chantal Gispert, , co-fundadora do GoodAfter, supermercado online destinado à venda dos produtos suprarreferidos.
Chantal elucida, logo no início da conversa, que existem dois tipos de prazos para os produtos alimentares: o prazo limite de consumo – “consumir até” – trata-se de um prazo máximo de consumo, da data a partir da qual os produtos não podem ser consumidos e comercializados. Este prazo aplica-se apenas aos produtos que, por razões de segurança alimentar, não podem ser consumidos ou vendidos após essa data, como é o caso dos produtos frescos e a data de consumo preferencial – “consumir de preferência antes de” – que diz respeito a um prazo mínimo de consumo, isto é, da data até à qual as marcas asseguram a qualidade ótima do seu produto. Esta data não tem a ver com segurança alimentar.
“Acho que cada vez mais as pessoas têm noção da diferença das datas. A lei distingue-as muito bem. A única coisa que pode estar em causa é coisas como uma bolacha estar menos crocante do que habitualmente. Não faz mal à saúde, daí a lei permitir. Ao GoodAfter não só chegam produtos que têm problemas de validade, mas também aqueles que foram descontinuados. As empresas mudam as embalagens, as capacidades, os rótulos, etc. com uma frequência alucinante, é tudo uma questão de marketing”, revela a empresária que já negociou com fabricantes que embalaram produtos dentro do prazo de validade com embalagens descontinuadas para evitar que as mesmas fossem para o lixo.
“Também vendemos produtos sazonais, por exemplo, chocolates de Natal. E há casos de bolachas natalícias que têm datas de validade dos meses posteriores, mas não valem nada em janeiro. Recebemos tudo aquilo que já não é vendido no canal habitual, digamos assim. Temos fornecedores com perdas a rondar um milhão de euros com estas quebras, mas há pequenas empresas com quebras grandes na sua proporção. Compramos e vendemos um bocadinho de tudo. Somos um supermercado de oportunidades”, denota, adicionando que os clientes compram muitos chocolates e bastante café. No entanto, por haver um “estigma muito grande, não é fácil vender leite”.
“Chegaram a nós produtos com formatos muito diferentes por causa da pandemia. Estou a lembrar-me de um cliente que tem um stock alucinante de frasquinhos de compota de laranja porque é a preferida dos ingleses que não vieram para cá fazer turismo. Independentemente da covid-19, o desperdício já acontecia antes”, repara, indo ao encontro das conclusões presentes no relatório da UNEP – Programa Ambiental das Nações Unidas que indicam que o mundo produz alimentos suficientes para 10 mil milhões de pessoas, porém, aproximadamente 17% desta produção é perdida. A perda e o desperdício alimentar chegam a atingir um terço dos alimentos gerados no mundo: importa clarificar que o termo perda de alimentos – tradução literal da expressão inglesa food loss – na fase da produção, envolvendo agricultores e fornecedores até chegar aos locais de venda difere do de desperdício alimentar – food waste – tem a ver com aqueles que são desperdiçados seja nos supermercados, nas mercearias ou até na própria casa do consumidor. Na totalidade, mais de 1,3 mil milhões de toneladas de alimentos são perdidos e desperdiçados, correspondendo a um custo estimado de 2,3 biliões de dólares americanos (cerca de 2 biliões de euros).
“Há dois ou três anos não falávamos tanto em sustentabilidade. Crescemos 250% em março, abril e maio do ano passado comparando com o período homólogo de 2019. Se compararmos os dois anos, crescemos 94%. Acho que o crescimento exponencial deu-se por causa da covid-19. Os clientes ficaram porque perceberam que os produtos são tão válidos como os outros. Começaram a experimentar”, avança Chantal. “Somos muito transparentes para que as pessoas saibam aquilo que estão a comprar”.
No passado dia 30 de julho, foi anunciado que Portugal vai realizar um inquérito nacional sobre o desperdício alimentar como objetivo de recolher dados que permitam obter um “diagnóstico realista sobre o nível de perdas alimentares no país”. O inquérito é dirigido aos agentes que estão envolvidos nas diversas fases da cadeia alimentar, designadamente na produção, no processamento, no armazenamento, no embalamento, no transporte, na distribuição, na venda e no consumo. Competirá, posteriormente, à Comissão Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar (CNCDA) determinar o procedimento metodológico e organizar a realização do inquérito. Sabe-se que este procedimento deve estar concluído seis meses após a entrada em vigor da lei, isto é, março de 2022.