Já era tempo de afinarmos os critérios, as leis e afins


É muita obra para demasiada falta de liderança estratégia para o país. Enquanto o povo gostar ou tolerar, andaremos nisto, depois dizem que haverá sucessores à altura. Do quê? De mais do mesmo, certamente.


A geometria variável é uma forma de vida. Pensa-se, diz-se e faz-se em função dos interesses ou das circunstâncias para proteger os interesses particulares. Em Portugal, a avaliar pelos quadros de referências vigentes, nos comportamentos individuais e no funcionamento da sociedade, adoramos a geometria variável e convivemos bem com as incoerências, que estão longe de ser um privilégio da classe política. É claro que a memória curta ajuda.

É evidente que um certo laxismo e uma cultura de baixa exigência facilita, mas algum dia convinha acertar o passo aos critérios que queremos para nos reger, sob pena de nunca virmos a ser levados a sério.

Queremos voltar ao normal, ao pré-pandemia, mas alguns recusam-se a receber as doses de uma das vacinas desenvolvidas pela ciência em tempo recorde, como se não fossem useiros e vezeiros a absorverem coisas bem piores, a começar pelas fatias de estupidez e pela negação das evidências.

Queremos igualdade, justiça e desenvolvimento, mas alguns persistem em prosseguir formas criativas de não observar os mais elementares deveres da vida em comunidade, de fugirem às obrigações fiscais de um Estado que pela carga excessiva incentiva essas atitudes e de procurarem sempre os elos mais fracos das construções legais para não ter de cumprir.

Aceitamos o tempo mediático da exploração do acessório, da desgraça e da “última hora”, mas depois alguns querem rigor, consistência e equidade.

Vejamos o caso dos órgãos de comunicação social, que vivem num registo de conquista pura de audiência, mesmo com todas as dúvidas sobre a fiabilidade das métricas dos públicos por quem tem manifestas convergências com a Impresa e a Cofina. Os partidos que surfam a maionese do tempo de antena na emissão, do acessório em detrimento do essencial e dos fins que justificam os meios, ficam em situação fragilizada quando querem que as televisões tenham debates eleitorais com todos. O “todos” pode ser o critério da lei, mas não é o modus operandi dos media, tolerando em cada dia do ano pelos mesmos que protestam quando lhes convém.

E o mesmo se passa no funcionamento das diversas instituições do Estado e da sociedade. Não se pode pedir convergência e articulação na ação, a entidades que passam o quotidiano em competição entre elas, em pequenas invejas e na salvaguarda das quintinhas do poder. Num país sem cultura de partilha, de sustentabilidade e de exigência, com recursos escassos, mal distribuídos pelo território e com distorções graves, um dos papéis de quem lidera é promover as convergências necessárias para que se constituam em rotinas de serviço às pessoas, aos territórios e ao país.

Há uma pedagogia da convergência que não se decreta, antes implica um trabalho sustentado, algo muito alheado do atual ciclo de exercício do poder como este de anteriores, mais apostados em esvaziar o Estado e reforçar os negócios e as oportunidades dos privados, mesmo quando não eram nacionais e ficavam na posse de ativos estratégicos nacionais, como por exemplo a infraestrutura aeroportuária, muito mais relevante que a TAP para a coesão territorial.

Além do deficiente funcionamento das respostas, este perfil individual e comunitário, é gerador de uma perceção de injustiça pelos cidadãos e de infindáveis oportunidades para os populismos e os restantes “ismos”, que gravitam na nossa órbita.

Basta ver as tensões existentes entre as forças de segurança, na proteção civil ou entre os diversos pilares das funções de soberania do Estado para constatar que face à cultura de parcialidade instalada, há uma manifesta insuficiência do esforço da liderança para a convergência, a partilha e o essencial. A invariável fatura é paga pelas pessoas e pelos territórios, sujeitos a modelações decorrentes da falta de visão estratégica para o país, da medíocre gestão dos recursos e da insuficiência da ação, no tempo normal ou em situação de emergência. O caso da task force das vacinas é bem o exemplo desta realidade.

Não havendo rotinas e não havendo em determinado momento vacinas, foi preciso uma farda militar para impor um rumo. Depois do susto e da emergência de saúde pública, o que será alterado para reforçar a resiliência? Pouco ou nada, porque o importante é viabilizar o próximo Orçamento de Estado ou tentar aceder ao poder.

Não havendo impulsos estruturais, aposta-se tudo na circunstância. O verão tem sempre um efeito de relaxamento generalizado, com mais ou menos exuberância das vivências individuais, o nível de vacinação atingido e a redução das limitações impostas pelo risco pandémico, geram um ambiente positivo para a circunstância das eleições autárquicas e da negociação orçamental.

Dificilmente, alguém arriscará uma crise ou opções aventureiras, num quadro em que as exigências, apesar da bazuca, serão mais do que muitas. Aos problemas estruturais somaram-se os impactos negativos da pandemia e os que já estavam no horizonte das alterações climáticas à transição energética ou digital. É muita obra para demasiada falta de liderança estratégia para o país. Enquanto o povo gostar ou tolerar, andaremos nisto, depois dizem que haverá sucessores à altura. Do quê? De mais do mesmo, certamente.

Notas Finais

Bancos a catalisar endividamento Entre aumento de taxas cobradas e redução de funcionários, com inevitáveis impactos negativos na proximidade territorial às pessoas, os bancos têm passado o verão a enxamear os clientes com sms e emails de apelo ao crédito pessoal em regime simplex. Fácil e nada barato. Não aprenderam nada com o passado e esperam que os portugueses também não tenham feito.

A teimosia da extinção do SEF-Take2 Extinguir o SEF é um erro estratégico, com impactos visíveis e invisíveis. Os governos civis emitiam passaportes, o SEF passou a assumir o processo integral da sua emissão e agora há uma terceira entidade. Conclusão: reduz-se a agilidade dos cidadãos aos passaportes, aumenta o tempo de espera. É uma espécie de simplex da irresponsabilidade. Sou do tempo em que, por dificuldade de emissão de passaportes nos consulados,  portugueses vinham de low-cost a Lisboa tirar o documento e regressavam ao país de residência ao final do dia com o novo passaporte na mão. Agora, parece que é preciso 2 meses para ter agendamento.

A deriva populista do PAN A causa animal está quase mais na moda do que a causa humana é preocupação. O PAN fez aprovar uma lei no parlamento que criou mais problemas do que soluções em todo o país. Proibiu abates, sem garantir condições para a construção dos equipamentos municipais ou intermunicipais de acolhimento. Agora, num incêndio com centenas de animais selvagens e  rurais mortos, o foco é uma instalação ilegal com 14 animais. Enfim, uns são cães, outros enteados. 

Já era tempo de afinarmos os critérios, as leis e afins


É muita obra para demasiada falta de liderança estratégia para o país. Enquanto o povo gostar ou tolerar, andaremos nisto, depois dizem que haverá sucessores à altura. Do quê? De mais do mesmo, certamente.


A geometria variável é uma forma de vida. Pensa-se, diz-se e faz-se em função dos interesses ou das circunstâncias para proteger os interesses particulares. Em Portugal, a avaliar pelos quadros de referências vigentes, nos comportamentos individuais e no funcionamento da sociedade, adoramos a geometria variável e convivemos bem com as incoerências, que estão longe de ser um privilégio da classe política. É claro que a memória curta ajuda.

É evidente que um certo laxismo e uma cultura de baixa exigência facilita, mas algum dia convinha acertar o passo aos critérios que queremos para nos reger, sob pena de nunca virmos a ser levados a sério.

Queremos voltar ao normal, ao pré-pandemia, mas alguns recusam-se a receber as doses de uma das vacinas desenvolvidas pela ciência em tempo recorde, como se não fossem useiros e vezeiros a absorverem coisas bem piores, a começar pelas fatias de estupidez e pela negação das evidências.

Queremos igualdade, justiça e desenvolvimento, mas alguns persistem em prosseguir formas criativas de não observar os mais elementares deveres da vida em comunidade, de fugirem às obrigações fiscais de um Estado que pela carga excessiva incentiva essas atitudes e de procurarem sempre os elos mais fracos das construções legais para não ter de cumprir.

Aceitamos o tempo mediático da exploração do acessório, da desgraça e da “última hora”, mas depois alguns querem rigor, consistência e equidade.

Vejamos o caso dos órgãos de comunicação social, que vivem num registo de conquista pura de audiência, mesmo com todas as dúvidas sobre a fiabilidade das métricas dos públicos por quem tem manifestas convergências com a Impresa e a Cofina. Os partidos que surfam a maionese do tempo de antena na emissão, do acessório em detrimento do essencial e dos fins que justificam os meios, ficam em situação fragilizada quando querem que as televisões tenham debates eleitorais com todos. O “todos” pode ser o critério da lei, mas não é o modus operandi dos media, tolerando em cada dia do ano pelos mesmos que protestam quando lhes convém.

E o mesmo se passa no funcionamento das diversas instituições do Estado e da sociedade. Não se pode pedir convergência e articulação na ação, a entidades que passam o quotidiano em competição entre elas, em pequenas invejas e na salvaguarda das quintinhas do poder. Num país sem cultura de partilha, de sustentabilidade e de exigência, com recursos escassos, mal distribuídos pelo território e com distorções graves, um dos papéis de quem lidera é promover as convergências necessárias para que se constituam em rotinas de serviço às pessoas, aos territórios e ao país.

Há uma pedagogia da convergência que não se decreta, antes implica um trabalho sustentado, algo muito alheado do atual ciclo de exercício do poder como este de anteriores, mais apostados em esvaziar o Estado e reforçar os negócios e as oportunidades dos privados, mesmo quando não eram nacionais e ficavam na posse de ativos estratégicos nacionais, como por exemplo a infraestrutura aeroportuária, muito mais relevante que a TAP para a coesão territorial.

Além do deficiente funcionamento das respostas, este perfil individual e comunitário, é gerador de uma perceção de injustiça pelos cidadãos e de infindáveis oportunidades para os populismos e os restantes “ismos”, que gravitam na nossa órbita.

Basta ver as tensões existentes entre as forças de segurança, na proteção civil ou entre os diversos pilares das funções de soberania do Estado para constatar que face à cultura de parcialidade instalada, há uma manifesta insuficiência do esforço da liderança para a convergência, a partilha e o essencial. A invariável fatura é paga pelas pessoas e pelos territórios, sujeitos a modelações decorrentes da falta de visão estratégica para o país, da medíocre gestão dos recursos e da insuficiência da ação, no tempo normal ou em situação de emergência. O caso da task force das vacinas é bem o exemplo desta realidade.

Não havendo rotinas e não havendo em determinado momento vacinas, foi preciso uma farda militar para impor um rumo. Depois do susto e da emergência de saúde pública, o que será alterado para reforçar a resiliência? Pouco ou nada, porque o importante é viabilizar o próximo Orçamento de Estado ou tentar aceder ao poder.

Não havendo impulsos estruturais, aposta-se tudo na circunstância. O verão tem sempre um efeito de relaxamento generalizado, com mais ou menos exuberância das vivências individuais, o nível de vacinação atingido e a redução das limitações impostas pelo risco pandémico, geram um ambiente positivo para a circunstância das eleições autárquicas e da negociação orçamental.

Dificilmente, alguém arriscará uma crise ou opções aventureiras, num quadro em que as exigências, apesar da bazuca, serão mais do que muitas. Aos problemas estruturais somaram-se os impactos negativos da pandemia e os que já estavam no horizonte das alterações climáticas à transição energética ou digital. É muita obra para demasiada falta de liderança estratégia para o país. Enquanto o povo gostar ou tolerar, andaremos nisto, depois dizem que haverá sucessores à altura. Do quê? De mais do mesmo, certamente.

Notas Finais

Bancos a catalisar endividamento Entre aumento de taxas cobradas e redução de funcionários, com inevitáveis impactos negativos na proximidade territorial às pessoas, os bancos têm passado o verão a enxamear os clientes com sms e emails de apelo ao crédito pessoal em regime simplex. Fácil e nada barato. Não aprenderam nada com o passado e esperam que os portugueses também não tenham feito.

A teimosia da extinção do SEF-Take2 Extinguir o SEF é um erro estratégico, com impactos visíveis e invisíveis. Os governos civis emitiam passaportes, o SEF passou a assumir o processo integral da sua emissão e agora há uma terceira entidade. Conclusão: reduz-se a agilidade dos cidadãos aos passaportes, aumenta o tempo de espera. É uma espécie de simplex da irresponsabilidade. Sou do tempo em que, por dificuldade de emissão de passaportes nos consulados,  portugueses vinham de low-cost a Lisboa tirar o documento e regressavam ao país de residência ao final do dia com o novo passaporte na mão. Agora, parece que é preciso 2 meses para ter agendamento.

A deriva populista do PAN A causa animal está quase mais na moda do que a causa humana é preocupação. O PAN fez aprovar uma lei no parlamento que criou mais problemas do que soluções em todo o país. Proibiu abates, sem garantir condições para a construção dos equipamentos municipais ou intermunicipais de acolhimento. Agora, num incêndio com centenas de animais selvagens e  rurais mortos, o foco é uma instalação ilegal com 14 animais. Enfim, uns são cães, outros enteados.