As férias grandes estão a terminar, o que significa que, não tarda, as escolas iniciam mais um ano letivo e lá teremos nós que ir preparando este regresso com a devida antecedência. Desde os livros escolares ao material de apoio e até, quem sabe, uma nova mochila, há, também, que começar a planear o horário semanal para incluir as atividades extracurriculares.
Para quem tem vários filhos, trata-se de um verdadeiro Tetris que se vai jogando até meados de outubro, altura em que finalmente se estabilizam os horários e tudo começa a funcionar com regularidade. Até lá, é um desafio diário que nos obriga a correr de um lado para o outro e que toma grande parte do nosso tempo com esta organização.
Podemos dizer que setembro está por conta dos filhos e que as nossas horas vagas são passadas a forrar livros, a procurar pincéis n.º2 em todas as papelarias da cidade, a encaixar os horários deles nos nossos (ou será ao contrário?) e a começar os dias numa batalha para que se levantem a horas de chegar à primeira aula sem atrasos.
Cá em casa, costumo dizer que, nas primeiras semanas, todos eles sofrem de jet lag, mesmo sem terem saído do país; os sintomas são quase idênticos: cansaço, sonolência, má disposição, insónias, dificuldades na concentração (não ouvem nada do que lhes digo até à escola) e variação de humor.
Assim como as famílias se preparam para mais um início de um ano escolar, o Governo faz o mesmo, ou pelo menos, deveria.
O regresso à escola traz algumas preocupações e suscita dúvidas pertinentes na cabeça de quem tem por hábito organizar e planear os seus dias, semanas e meses. Apesar do processo de vacinação estar prestes a ser concluído e de, neste momento, termos 70% da população com a vacinação completa, sendo que os grupos etários acima dos 65 anos já se encontram perto dos 100% e os mais novos vão sendo vacinados a um bom ritmo, a verdade é que o verão nos demonstrou que o vírus continua entre nós e que continuará a propagar-se, mesmo entre os que já foram vacinados – quanto a isto não havia grandes dúvidas.
Os surtos que ocorreram em alguns pontos do país, onde se registou maior concentração de jovens, confirmaram que a transmissão do vírus é extensível até aos familiares que já tinham a segunda dose da vacina.
De Israel chegam notícias que enfrentam o quarto surto de contágios e que, rapidamente, se aproximam dos números negros do último inverno, com 230 mortes registadas neste mês. O governo acabou por reintroduzir algumas restrições e está a considerar um novo confinamento. Desde março que, em Israel, se retomou a normalidade com a realização de concertos e de eventos desportivos, abertos a quem estivesse vacinado.
A conclusão de estudos mais recentes emitidos pelo Centro de Controlo e de Prevenção de Doenças nos Estados Unidos relata que, pese embora as vacinas se demonstrem muito eficazes contra a hospitalização e o aumento de óbitos por covid, a barreira de proteção desenvolvida vai enfraquecendo com o passar de poucos meses.
Assim, os israelitas com mais de 40 anos vão receber a terceira dose, numa tentativa de combater a variante Delta, ainda que a Organização Mundial de Saúde tenha recomendado um adiamento das terceiras doses de reforço, de forma a haver vacinas disponíveis para os países mais pobres, que têm baixas taxas de vacinação.
O quadro não é o mais favorável, nem tampouco nos deixa descansados com as prováveis reincidências que irão ocorrer e que obrigarão o nosso Governo a tomar medidas de contenção. A questão é saber se já há um plano de contingência para um cenário semelhante a ocorrer em Portugal, ou se vamos estar à espera que o mal nos bata à porta para refletir, planear e executar estratégias que nos permitam continuar a beneficiar de alguma normalidade já adquirida.
Por exemplo, no que respeita aos computadores prometidos pelo Primeiro-Ministro para setembro do ano passado… já estamos em condições de avançar para o ensino à distância em igualdade de circunstâncias para todos os alunos? Ou, em caso de novo confinamento, iremos ter que levar com o Ministro da Educação e com os seus complexos de igualdade medíocre, numa tentativa frustrada de escamotear a sua incompetência em dotar as escolas com as condições básicas para o ensino à distância?
Pelas notícias, vamos sabendo que o Ministro da Educação tem estado ocupado em gizar um projeto de educação alternativo, açambarcando três milhões de euros da “bazuca” europeia destinados para comprar bicicletas. A sua prioridade educativa, em contexto de pandemia, é ensinar os alunos do 2º ciclo a andar de bicicleta, para se tornarem amigos do ambiente e, quem sabe, justificarem a utilização de ciclovias mal construídas, como é o caso da ciclovia da Avenida Almirante Reis, em Lisboa, entre outras.
Se as verbas do Plano de Recuperação e Resiliência vão ter destinos semelhantes a este último, bem pode a economia real e o setor privado (exceção feita aos fabricantes e vendedores de velocípedes) desiludir-se com qualquer expectativa de apoio à recuperação de empresas e à retoma da economia. A criatividade do Governo para gastar dinheiro é infindável e ilimitada, além de que nos surpreende todos os dias com a sua capacidade para nos ludibriar com medidas tão inusitadas como esta.
O novo ano letivo está aí. E o que sabemos nós sobre os seus preparativos, além da aposta no ciclismo, a nível nacional? Valer-nos-á de muito, se voltarmos a ter as crianças em casa… Não consigo imaginar uma aula de ciclismo on-line, simplesmente porque muitos alunos não terão computador para assistir a essas aulas. Talvez recebam uma bicicleta antes do computador e se tornem autodidatas na aprendizagem – que orgulho seria para o Senhor Ministro.