Todos os indicadores apontam para sinais de recuperação da economia portuguesa. O emprego retomou os níveis de 2019, em consequência o desemprego mantém-se em níveis baixos e abaixo da média da UE, a actividade económica tende para que, no final de 2021, o país possa voltar a convergir com a Europa, alcançado um dos objectivos principais da legislatura (os dados do segundo trimestre publicados ontem indicam crescimento do PIB acima da média da UE).
Será o quarto ano de convergência, em seis anos de governação socialista. Por outro lado, as exportações e o Investimento Directo Estrangeiro (IDE) mantêm perspectivas muito positivas, revelando que Portugal consolida a sua capacidade competitiva, sobretudo porque ganha quota nas exportações e atrai, como nunca atraiu até hoje, IDE, muitos destes investimentos de elevada componente tecnológica.
É evidente que ainda persiste a incerteza em relação à evolução da pandemia e com ela as dúvidas sobre a consistência da retoma para níveis do ano 2019, sobretudo pela exposição do país ao turismo e o impacto incontornável das restrições de mobilidade relacionadas com a evolução da covid19.
É evidente que o combate aos problemas estruturais da economia portuguesa deve persistir, e até ser reforçado, aproveitando os meios extraordinários disponíveis, designadamente a produtividade que deve, sobretudo, assentar no reforço da I&D (a boa notícia mais recente foi o crescimento significativo da despesa desta variável em relação ao PIB) e nas qualificações dos portugueses.
Todavia, nesta fase há algumas conclusões, em relação às políticas públicas que deram corpo ao combate a está crise sem precedentes, que merecem ser sublinhadas.
A crise mais recente que abalou as bases da sociedade portuguesa e lançou debates apaixonados pelo mundo todo, e em particular pela Europa, deixou um rasto de desemprego galopante (no pico da crise em Portugal o desemprego quase alcançou os 18%) queda abrupta e profunda do rendimento das famílias, perda de poder de compra (materializado na queda de salários e reformas e com o fim, ou redução, de muitas prestações sociais ) diminuição drástica da capacidade produtiva com redução significativa do PIB potencial.
Problemas graves no sistema financeiro, que esteve, aliás, na origem da crise, e ausência de meios para reverter a travagem da actividade produtiva, que apesar de ter sido inferior ao que se passou em 2020, teve impactos tremendos na vida das famílias e das empresas.
Apesar de muitos não gostarem, e de estarmos perante crises de natureza diferente, vale a pena recordar as orientações que nortearam o combate à crise anterior e as que hoje dão corpo a variadíssimas políticas públicas, necessárias aquando a crise anterior, mas jamais admitidas e muito menos executadas.
No essencial, a crise do subprime que gerou um abalo sem precedentes nas dívidas soberanas de alguns países, incluindo Portugal, foram alvo de uma orientação punitiva que contraria a ideia racional da necessidade de introduzir políticas anti cíclicas de modo a permitir amortecer os impactos negativos no mercado e nas famílias dos efeitos da recessão.
Assim, à austeridade óbvia da crise, Portugal juntou, nessa altura, a austeridade da política pública: mais impostos, menos prestações sociais, menos salários, menos reformas, menos investimento público. Foi um tempo de trevas, gerando menos crescimento económico e mais dificuldade de pagar a divida (objectivo principal do governo de então), menos rendimento, menos poder de compra, menos emprego e arrefecimento do mercado interno levando a um colapso no consumo e no investimento privado.
A recuperação deste estado de coisas foi lenta e apenas em 2017 foi visível, com a inversão total da orientação vigente e, por essa via, das políticas. Hoje leio muita boa gente falar que o rendimento disponível caiu com a crise actual. É compreensível avaliando pelo que aconteceu entre 2012-2014, mas não é verdade. Em 2020 os rendimentos das famílias aumentaram e os depósitos das empresas também. Mais. Em 2020 a capitalização das empresas está melhor e a rendibilidade também.
Os dados conhecidos de 2021 mostram que o emprego está a crescer acima de 2019 e as exportações batem recordes em relação ao tempo pré-pandemia. Nada disto acontece por acaso. Houve e há uma orientação clara de aguentar o emprego e manter a capacidade produtiva. Este esforço está a surtir os seus efeitos.
Com um maior controle da pandemia e consequente desconfinamento, o país dispara em termos de actividade económica. Isso acontece porque as empresas estão vivas e as famílias têm rendimentos, permitindo manter ou reforçar o mercado interno e assegurar o reforço de produção de bens transacionáveis, negociados no mercado internacional. Se a vacinação surtir os efeitos que a ciência tem demonstrado, o país está no bom caminho para retomar a convergência com a Europa.
Economista e vice-presidente do grupo parlamentar do PS