Eleições de 26 de setembro. Uns com tanto e outros com tão pouco


A política portuguesa avança a passos largos para novo ato eleitoral. As eleições autárquicas do próximo dia 26 de setembro marcam mais um importante passo que sinaliza a força ou fraqueza dos partidos políticos portugueses.


Sim, da mesma forma que se tiram ilações de eleições legislativas a nível distrital, com a distribuição na eleição dos deputados pelos seus círculos eleitorais, também nas eleições autárquicas há ilações a tirar do partido de quem governa e igualmente dos partidos de quem está em oposição. Quem não se lembra do pântano de António Guterres ou da data em que o PSD soube que ia despedir-se de Pedro Passos Coelho? António Guterres demitiu-se inclusive do cargo de primeiro-ministro, na sequência dos resultados obtidos pelos socialistas nas autárquicas de dezembro de 2001, para evitar o “pântano político” dizia. Já Pedro Passos Coelho, quase 16 anos depois, em outubro de 2017, anunciava a saída, após uns dos piores resultados do PSD de sempre a nível local, referindo que não se voltava a recandidatar à liderança do seu Partido no próximo Congresso Nacional.

Seguramente, não são casos isolados. Mas são dois exemplos de quem não se agarrou ao lugar sem olhar a resultados. Saíram, a nível nacional, porque analisaram os resultados a nível local. É o mais correto.

Mas, o que representa o que aí vem por cá? O que representam, também (tirando a governação e políticas públicas locais, evidentemente), estas eleições quando estamos há mais de ano e meio a sofrer depressões e hecatombes económicos a nível local, regional e nacional? Desde logo devia significar a existência de um maior debate económico porque é disso que todo o planeta se queixa.

Poderia haver esse debate, até, e não só, em virtude de uma curiosidade de calendarização eletiva para 26 de setembro de 2021. É que nesse mesmo dia, um domingo, vai ser eleito o futuro governo da maior economia da Europa, o Governo alemão.

Por lá, até 26 de setembro (na Alemanha irá durar para lá dessa data) vai ser interessante assistir aos leading media a tentarem falar para lá da economia, da dita economia, da propriamente dita economia e, por fim, da economia. Cá, no nosso lado da península ibérica, neste campo, tão importante e sobretudo atual face à crise que a pandemia expôs, seria importante debater, mas também fazer diferente.

Anteontem foi dado a conhecer os orçamentos de campanha para as eleições autárquicas de 2021. Não é bem a “economia” que mexe com os portugueses, mas é uma parte económica que reflete parte do que se quer transmitir aos eleitores todos certamente.

De acordo com os orçamentos de campanha disponíveis (desde quarta-feira) no website da Entidade das Contas e Financiamentos Políticos, os partidos e coligações preveem gastar um total de 31 milhões de euros na campanha eleitoral para as autárquicas de setembro.

Comparativamente, falamos de um valor menor do que os 35 milhões gastos há quatro anos. Hierarquicamente, o PS continua a ter o orçamento mais elevado, com uma verba próxima aos 11,43 milhões de euros de orçamento.

Sabemos, no entanto, que um orçamento é uma previsão, há concelhos espalhados pelo país em que claramente podemos aceder neste website a uma fantasiosa verba atribuída de menos de 3.000 euros para estruturas e outdoors e, depois, à data já sabemos que têm entre 20 e 30 estruturas montadas… logo, meus amigos, não é esse o valor real de gastos.

Ou seja, haverá mais gastos do que os que estas tabelas demonstram, não nos deixemos enganar por orçamentos apenas.

Não enganem os portugueses.

Quem deve estar enganado é todo e qualquer político que, numa altura destas, não faz da sua campanha de outra forma (falo dos Mandatários Políticos, os Mandatários Financeiros, os Diretores de Campanha de todos os Municípios e todos os partidos). Para os mais distraídos, em Portugal há 308 municípios (278 no continente, 19 nos Açores e 11 na Madeira) e 3.092 freguesias (2.882 no continente, 156 nos Açores e 54 na Madeira). Assim, são mais de 1.000 (por partido) aqueles que, de norte a sul e ilhas, têm responsabilidade direta nas escolhas e decisões sobre o que custará cada campanha eleitoral. Escolheram, a maioria, gastar tanto ou mais do que deviam.

Sem escolha, milhares de portugueses viram portas fecharem-se. Perderam sonhos, outros perderam rendimentos durante meses e meses a fio. E qual é a resposta que a esmagadora maioria das candidaturas autárquicas dá? Uma campanha com gastos de “tempos banais” como na década de 90 se fazia quando o digital não havia: Outdoors, papelada, brindes, carros de campanha… tudo igual.

Sem fintas à Cristiano Ronaldo, é uma ausência de respeito pelos milhões de portugueses que veem um país sem capacidade de resposta para dar liquidez às suas empresas, que recorre a “bazucas” da União Europeia, mas que numa campanha trata tudo como “gente rica”. É triste e todos os eleitores deviam pedir que cada candidatura expusesse publicamente tudo o que gastou (não são orçamentos, isso é “areia para os olhos” e bem sabemos que estamos em Agosto de praia).

O mundo mudou, mas os partidos políticos, na sua globalidade, continuam sem mudar. Não se adaptaram, como os orçamentos demonstram, à transição digital que todos defendemos na teoria – da União Europeia à vila mais pequena de Portugal -, à sustentabilidade que apregoamos e olhamos para cativar a aprovação europeia nos PRR’s desta vida.

Ainda ninguém votou, mas já perderam todos os partidos. Todos enchem a “urna” dos gastos como se a crise não existisse entre Agosto e Setembro de 2021. É uma não adaptação profunda aos tempos que vivemos e, sem receios, uma falta de respeito por todos aqueles que ao longo deste ano e meio não tiveram como pagar salários, contas da água e da luz.

Carlos Gouveia Martins

 


Eleições de 26 de setembro. Uns com tanto e outros com tão pouco


A política portuguesa avança a passos largos para novo ato eleitoral. As eleições autárquicas do próximo dia 26 de setembro marcam mais um importante passo que sinaliza a força ou fraqueza dos partidos políticos portugueses.


Sim, da mesma forma que se tiram ilações de eleições legislativas a nível distrital, com a distribuição na eleição dos deputados pelos seus círculos eleitorais, também nas eleições autárquicas há ilações a tirar do partido de quem governa e igualmente dos partidos de quem está em oposição. Quem não se lembra do pântano de António Guterres ou da data em que o PSD soube que ia despedir-se de Pedro Passos Coelho? António Guterres demitiu-se inclusive do cargo de primeiro-ministro, na sequência dos resultados obtidos pelos socialistas nas autárquicas de dezembro de 2001, para evitar o “pântano político” dizia. Já Pedro Passos Coelho, quase 16 anos depois, em outubro de 2017, anunciava a saída, após uns dos piores resultados do PSD de sempre a nível local, referindo que não se voltava a recandidatar à liderança do seu Partido no próximo Congresso Nacional.

Seguramente, não são casos isolados. Mas são dois exemplos de quem não se agarrou ao lugar sem olhar a resultados. Saíram, a nível nacional, porque analisaram os resultados a nível local. É o mais correto.

Mas, o que representa o que aí vem por cá? O que representam, também (tirando a governação e políticas públicas locais, evidentemente), estas eleições quando estamos há mais de ano e meio a sofrer depressões e hecatombes económicos a nível local, regional e nacional? Desde logo devia significar a existência de um maior debate económico porque é disso que todo o planeta se queixa.

Poderia haver esse debate, até, e não só, em virtude de uma curiosidade de calendarização eletiva para 26 de setembro de 2021. É que nesse mesmo dia, um domingo, vai ser eleito o futuro governo da maior economia da Europa, o Governo alemão.

Por lá, até 26 de setembro (na Alemanha irá durar para lá dessa data) vai ser interessante assistir aos leading media a tentarem falar para lá da economia, da dita economia, da propriamente dita economia e, por fim, da economia. Cá, no nosso lado da península ibérica, neste campo, tão importante e sobretudo atual face à crise que a pandemia expôs, seria importante debater, mas também fazer diferente.

Anteontem foi dado a conhecer os orçamentos de campanha para as eleições autárquicas de 2021. Não é bem a “economia” que mexe com os portugueses, mas é uma parte económica que reflete parte do que se quer transmitir aos eleitores todos certamente.

De acordo com os orçamentos de campanha disponíveis (desde quarta-feira) no website da Entidade das Contas e Financiamentos Políticos, os partidos e coligações preveem gastar um total de 31 milhões de euros na campanha eleitoral para as autárquicas de setembro.

Comparativamente, falamos de um valor menor do que os 35 milhões gastos há quatro anos. Hierarquicamente, o PS continua a ter o orçamento mais elevado, com uma verba próxima aos 11,43 milhões de euros de orçamento.

Sabemos, no entanto, que um orçamento é uma previsão, há concelhos espalhados pelo país em que claramente podemos aceder neste website a uma fantasiosa verba atribuída de menos de 3.000 euros para estruturas e outdoors e, depois, à data já sabemos que têm entre 20 e 30 estruturas montadas… logo, meus amigos, não é esse o valor real de gastos.

Ou seja, haverá mais gastos do que os que estas tabelas demonstram, não nos deixemos enganar por orçamentos apenas.

Não enganem os portugueses.

Quem deve estar enganado é todo e qualquer político que, numa altura destas, não faz da sua campanha de outra forma (falo dos Mandatários Políticos, os Mandatários Financeiros, os Diretores de Campanha de todos os Municípios e todos os partidos). Para os mais distraídos, em Portugal há 308 municípios (278 no continente, 19 nos Açores e 11 na Madeira) e 3.092 freguesias (2.882 no continente, 156 nos Açores e 54 na Madeira). Assim, são mais de 1.000 (por partido) aqueles que, de norte a sul e ilhas, têm responsabilidade direta nas escolhas e decisões sobre o que custará cada campanha eleitoral. Escolheram, a maioria, gastar tanto ou mais do que deviam.

Sem escolha, milhares de portugueses viram portas fecharem-se. Perderam sonhos, outros perderam rendimentos durante meses e meses a fio. E qual é a resposta que a esmagadora maioria das candidaturas autárquicas dá? Uma campanha com gastos de “tempos banais” como na década de 90 se fazia quando o digital não havia: Outdoors, papelada, brindes, carros de campanha… tudo igual.

Sem fintas à Cristiano Ronaldo, é uma ausência de respeito pelos milhões de portugueses que veem um país sem capacidade de resposta para dar liquidez às suas empresas, que recorre a “bazucas” da União Europeia, mas que numa campanha trata tudo como “gente rica”. É triste e todos os eleitores deviam pedir que cada candidatura expusesse publicamente tudo o que gastou (não são orçamentos, isso é “areia para os olhos” e bem sabemos que estamos em Agosto de praia).

O mundo mudou, mas os partidos políticos, na sua globalidade, continuam sem mudar. Não se adaptaram, como os orçamentos demonstram, à transição digital que todos defendemos na teoria – da União Europeia à vila mais pequena de Portugal -, à sustentabilidade que apregoamos e olhamos para cativar a aprovação europeia nos PRR’s desta vida.

Ainda ninguém votou, mas já perderam todos os partidos. Todos enchem a “urna” dos gastos como se a crise não existisse entre Agosto e Setembro de 2021. É uma não adaptação profunda aos tempos que vivemos e, sem receios, uma falta de respeito por todos aqueles que ao longo deste ano e meio não tiveram como pagar salários, contas da água e da luz.

Carlos Gouveia Martins