A retoma e as clientelas


Há bons sinais de retoma e movimentação por parte das pessoas normais, mas persistem exemplos de demagogia e clientelismo.


1. Baixa de Lisboa, 7 de agosto, um sábado à tarde. Dá gosto ver as ruas novamente cheias. Gente nova e velha, normalmente com máscara. Lamentavelmente, alguns (estrangeiros sobretudo) não usam e ninguém fiscaliza. Turistas por todo o lado. Esplanadas compostas. Brasileiros a dar com um pau. Paquistaneses e nepaleses também. A comunidade africana novamente à volta do Teatro Nacional. Regressam tuk-tuks, alguns altamente poluidores. Os TVDE estão por todo o lado. Guiam muito pior do que os taxistas, mas são limpinhos. Reaparecem trotinetes e ciclistas que quase atropelam os peões. Autocarros “Hop On Hop Off” circulam com boa lotação. As lojas de recordações expõem os célebres galos de Barcelos “made in” Vietnam. Há uma manifestação de tolinhos anti-vacinas no Rossio, enquanto circulam, vestidos com uma espécie de escafandro branco, uns quantos que apelam à vacinação, ostentando tabuletas. A baixa está suja, ou melhor porca. As lojas internacionais estão animadas, mas ainda longe dos máximos. São as mulheres que lideram a retoma no consumo, tirando na venda de carros. Já andam na Rua Augusta os mesmos vendedores de droga, verdadeira e falsa. Como habitualmente, não há polícias de giro, sobretudo os municipais. Esses adoram chatear quem trabalha e não a criminalidade, porque é gente perigosa. A confusão incipiente sabe bem agora, quando antes saturava. Dá esperança e trabalho a muitos. À noite, a malta vai para os bares à força toda. O perigo ainda espreita. Estes passos são inseguros, mas devem de ser dados. Desta vez com menos riscos por causa da vacina massificada. Essa descoberta tem de valer o Nobel coletivo para a gente da ciência e da saúde. Há uma Barbie nova que celebra as famílias profissionais que travaram o vírus. Bela homenagem. Pena as bonecas serem caras. A eliminação do vírus passa basicamente pela existência de um medicamento, como os da gripe. Há boas notícias nesse campo. Chegam de Israel e obviamente a SIC deu-as através do Cymerman. Oxalá não seja propaganda de Estado. Num quadro de melhoria, não podemos esquecer os mais indefesos. São os que entre nós não têm ainda acesso às vacinas por motivos diversos, como a falta de legalização. São seres humanos, dr. Costa e Prof. Marcelo! Ajudem! Marcelo liderou a ideia de vacinar as crianças entre os 12 e os 15. Ganhou. Havia um mistério na resistência da DGS. Provavelmente, era a porca da política a não assumir a falta de vacinas. Ontem, Graça Freitas recuou. Subscreveu a necessidade de vacinar universalmente os adolescentes daquelas idades. Alegou estudos científicos que dizia não estarem consolidados há duas semanas. A União Europeia encomendou 900 milhões de doses, o que explica muita coisa. Já é evidente que vai ser necessária uma terceira dose generalizada. Depois, talvez uma anual, como na gripe. O almirante vai ter de aguentar, apesar de se ter sabido, recentemente, que para a metodologia o Estado anda a recorrer a um método japonês, pago a peso de ouro por adjudicação direta (mais uma). No meio disto, vem a notícia de que André Ventura está contaminado, isolado e não vai de férias. Colheu o que semeou, ao expor-se e sujeitar outros em bravatas políticas irresponsáveis. Quando vacinaram os deputados, assegurou que seria ser o último a ser inoculado. Nunca foi um negacionista assumido. Andou num funambulismo político, porque no Chega há radicais contra a vacina e contra quase tudo. Espera-se que Ventura não tenha sofrimento e que a contaminação o traga para o lado da saúde pública. Planetariamente, os mais ricos têm, entretanto, de saber que, enquanto houver países com menos de 5% de vacinados, toda a população mundial está em risco. O vírus chinês e as suas derivações espreitam permanentemente.

2. A propósito de vacinas, aí estão os professores a exigir serem os primeiros a levarem a terceira dose. Querem todos os alunos, a partir dos 12 anos, vacinados antes do início do ano letivo. São sempre os primeiros a reivindicar e a arranjar pretextos para não dar aulas, no ensino público! No privado, a questão não se coloca. Coitados dos miúdos do público: estão entregues a si próprios, apesar do custo por aluno no Estado ser brutal.

3. Foi positiva a nossa prestação olímpica. Não foi tão ditirâmbica como o comité e o governo proclamam. O mérito é sobretudo dos atletas. São dos que internacionalmente menos apoio recebem. Em Portugal, o investimento na competição é dos mais baixos da Europa. O desporto escolar é uma falácia. Em Tóquio, perdemos na comparação com a maioria dos nossos parceiros europeus e países desenvolvidos da mesma dimensão. Prudentemente, os nossos responsáveis fixaram objetivos abaixo do expectável. Uma habilidade destinada a potenciar sucessos. A grande lição positiva é que a comitiva mostrou pela sua composição multiétnica (portugueses nativos, brasileiros, asiáticos, afrodescendentes e recém-naturalizados) que em Portugal pode haver lugar para todos os que vierem com vontade de se integrarem, em qualquer área. Talvez Mamadou Ba possa pensar nisso, ajudando à integração em vez de incitar ao racismo que obviamente existe em Portugal em sentidos cruzados.

4. A ministra da Segurança Social, Ana Godinho, é uma bonita e simpática nulidade. É lamentável a sua irresponsabilidade em áreas que tutela e envolvem tragédias humanas. Tudo sem que a oposição a denuncie por práticas sucessivas de crueldade administrativa e de falsidades políticas. Foi preciso vir o Público para que se soubesse que o governo só gastou 797 mil euros no apoio aos cuidadores informais, quando tinha orçamentado 9 milhões e 900 mil euros. E como é que se faz a trapalhice? É simples. Cria-se a lei e depois complicam-se os acessos até mais não. A notícia devia ter dado origem a reações enérgicas e manifestações de rua. Houve apenas reparos e pedidos de explicação. É agosto e há férias! E os incapacitados e os seus cuidadores não têm hipótese de vir para a rua defender-se. Uns estão retidos. Outros estão a cuidar, dia e noite.

5. A Carris é hoje uma empresa municipal. O Governo Costa pegou no passivo todo e passou-o ao Estado. Por magia, a companhia ficou saudável. A fatura é repartida pelos contribuintes, mesmo que estejam no Corvo ou em Bragança. Como se não bastasse, soube-se há dias (pelo Observador) que o PS tomou de assalto a empresa. Tem lá mais 300 militantes que são essenciais para quem quiser ganhar o PS. Ocupam lugares que vão do “pica” à administração. São os vampiros do Zeca a comer tudo. Era bom olhar também para a EMEL e mais umas quantas empresas municipais, e não só.

6. Chama-se João Pedro Costa, sendo doutorado em arquitetura. É vereador em Lisboa. Foi eleito pelo PSD, mandato que exerceu de forma não alinhada e controversa. Mesmo assim, pediram-lhe para fazer o plano do urbanismo e de gestão da cidade para os próximos quatro anos. A ideia era manter-se no executivo em quarto lugar, na lista de Moedas. Entregue o documento, nunca mais teve notícias. Não está na lista. Estão lá outros que vão com muita sede ao pote, mas não sabem onde fica o Pote de Água.

7. A pergunta tem de voltar a ser feita, neste espaço: quais são as regras que vão vigorar na Festa do Avante! que promete grande enchente? São 100 anos de PCP e em véspera de autárquicas decisivas para a CDU. Confluem futuro imediato e passado oficial (o real é muitas vezes omitido). A festa comunista é também o único festival de verão que este ano que pode mesmo acontecer em pleno.

 

Escreve à quarta-feira


A retoma e as clientelas


Há bons sinais de retoma e movimentação por parte das pessoas normais, mas persistem exemplos de demagogia e clientelismo.


1. Baixa de Lisboa, 7 de agosto, um sábado à tarde. Dá gosto ver as ruas novamente cheias. Gente nova e velha, normalmente com máscara. Lamentavelmente, alguns (estrangeiros sobretudo) não usam e ninguém fiscaliza. Turistas por todo o lado. Esplanadas compostas. Brasileiros a dar com um pau. Paquistaneses e nepaleses também. A comunidade africana novamente à volta do Teatro Nacional. Regressam tuk-tuks, alguns altamente poluidores. Os TVDE estão por todo o lado. Guiam muito pior do que os taxistas, mas são limpinhos. Reaparecem trotinetes e ciclistas que quase atropelam os peões. Autocarros “Hop On Hop Off” circulam com boa lotação. As lojas de recordações expõem os célebres galos de Barcelos “made in” Vietnam. Há uma manifestação de tolinhos anti-vacinas no Rossio, enquanto circulam, vestidos com uma espécie de escafandro branco, uns quantos que apelam à vacinação, ostentando tabuletas. A baixa está suja, ou melhor porca. As lojas internacionais estão animadas, mas ainda longe dos máximos. São as mulheres que lideram a retoma no consumo, tirando na venda de carros. Já andam na Rua Augusta os mesmos vendedores de droga, verdadeira e falsa. Como habitualmente, não há polícias de giro, sobretudo os municipais. Esses adoram chatear quem trabalha e não a criminalidade, porque é gente perigosa. A confusão incipiente sabe bem agora, quando antes saturava. Dá esperança e trabalho a muitos. À noite, a malta vai para os bares à força toda. O perigo ainda espreita. Estes passos são inseguros, mas devem de ser dados. Desta vez com menos riscos por causa da vacina massificada. Essa descoberta tem de valer o Nobel coletivo para a gente da ciência e da saúde. Há uma Barbie nova que celebra as famílias profissionais que travaram o vírus. Bela homenagem. Pena as bonecas serem caras. A eliminação do vírus passa basicamente pela existência de um medicamento, como os da gripe. Há boas notícias nesse campo. Chegam de Israel e obviamente a SIC deu-as através do Cymerman. Oxalá não seja propaganda de Estado. Num quadro de melhoria, não podemos esquecer os mais indefesos. São os que entre nós não têm ainda acesso às vacinas por motivos diversos, como a falta de legalização. São seres humanos, dr. Costa e Prof. Marcelo! Ajudem! Marcelo liderou a ideia de vacinar as crianças entre os 12 e os 15. Ganhou. Havia um mistério na resistência da DGS. Provavelmente, era a porca da política a não assumir a falta de vacinas. Ontem, Graça Freitas recuou. Subscreveu a necessidade de vacinar universalmente os adolescentes daquelas idades. Alegou estudos científicos que dizia não estarem consolidados há duas semanas. A União Europeia encomendou 900 milhões de doses, o que explica muita coisa. Já é evidente que vai ser necessária uma terceira dose generalizada. Depois, talvez uma anual, como na gripe. O almirante vai ter de aguentar, apesar de se ter sabido, recentemente, que para a metodologia o Estado anda a recorrer a um método japonês, pago a peso de ouro por adjudicação direta (mais uma). No meio disto, vem a notícia de que André Ventura está contaminado, isolado e não vai de férias. Colheu o que semeou, ao expor-se e sujeitar outros em bravatas políticas irresponsáveis. Quando vacinaram os deputados, assegurou que seria ser o último a ser inoculado. Nunca foi um negacionista assumido. Andou num funambulismo político, porque no Chega há radicais contra a vacina e contra quase tudo. Espera-se que Ventura não tenha sofrimento e que a contaminação o traga para o lado da saúde pública. Planetariamente, os mais ricos têm, entretanto, de saber que, enquanto houver países com menos de 5% de vacinados, toda a população mundial está em risco. O vírus chinês e as suas derivações espreitam permanentemente.

2. A propósito de vacinas, aí estão os professores a exigir serem os primeiros a levarem a terceira dose. Querem todos os alunos, a partir dos 12 anos, vacinados antes do início do ano letivo. São sempre os primeiros a reivindicar e a arranjar pretextos para não dar aulas, no ensino público! No privado, a questão não se coloca. Coitados dos miúdos do público: estão entregues a si próprios, apesar do custo por aluno no Estado ser brutal.

3. Foi positiva a nossa prestação olímpica. Não foi tão ditirâmbica como o comité e o governo proclamam. O mérito é sobretudo dos atletas. São dos que internacionalmente menos apoio recebem. Em Portugal, o investimento na competição é dos mais baixos da Europa. O desporto escolar é uma falácia. Em Tóquio, perdemos na comparação com a maioria dos nossos parceiros europeus e países desenvolvidos da mesma dimensão. Prudentemente, os nossos responsáveis fixaram objetivos abaixo do expectável. Uma habilidade destinada a potenciar sucessos. A grande lição positiva é que a comitiva mostrou pela sua composição multiétnica (portugueses nativos, brasileiros, asiáticos, afrodescendentes e recém-naturalizados) que em Portugal pode haver lugar para todos os que vierem com vontade de se integrarem, em qualquer área. Talvez Mamadou Ba possa pensar nisso, ajudando à integração em vez de incitar ao racismo que obviamente existe em Portugal em sentidos cruzados.

4. A ministra da Segurança Social, Ana Godinho, é uma bonita e simpática nulidade. É lamentável a sua irresponsabilidade em áreas que tutela e envolvem tragédias humanas. Tudo sem que a oposição a denuncie por práticas sucessivas de crueldade administrativa e de falsidades políticas. Foi preciso vir o Público para que se soubesse que o governo só gastou 797 mil euros no apoio aos cuidadores informais, quando tinha orçamentado 9 milhões e 900 mil euros. E como é que se faz a trapalhice? É simples. Cria-se a lei e depois complicam-se os acessos até mais não. A notícia devia ter dado origem a reações enérgicas e manifestações de rua. Houve apenas reparos e pedidos de explicação. É agosto e há férias! E os incapacitados e os seus cuidadores não têm hipótese de vir para a rua defender-se. Uns estão retidos. Outros estão a cuidar, dia e noite.

5. A Carris é hoje uma empresa municipal. O Governo Costa pegou no passivo todo e passou-o ao Estado. Por magia, a companhia ficou saudável. A fatura é repartida pelos contribuintes, mesmo que estejam no Corvo ou em Bragança. Como se não bastasse, soube-se há dias (pelo Observador) que o PS tomou de assalto a empresa. Tem lá mais 300 militantes que são essenciais para quem quiser ganhar o PS. Ocupam lugares que vão do “pica” à administração. São os vampiros do Zeca a comer tudo. Era bom olhar também para a EMEL e mais umas quantas empresas municipais, e não só.

6. Chama-se João Pedro Costa, sendo doutorado em arquitetura. É vereador em Lisboa. Foi eleito pelo PSD, mandato que exerceu de forma não alinhada e controversa. Mesmo assim, pediram-lhe para fazer o plano do urbanismo e de gestão da cidade para os próximos quatro anos. A ideia era manter-se no executivo em quarto lugar, na lista de Moedas. Entregue o documento, nunca mais teve notícias. Não está na lista. Estão lá outros que vão com muita sede ao pote, mas não sabem onde fica o Pote de Água.

7. A pergunta tem de voltar a ser feita, neste espaço: quais são as regras que vão vigorar na Festa do Avante! que promete grande enchente? São 100 anos de PCP e em véspera de autárquicas decisivas para a CDU. Confluem futuro imediato e passado oficial (o real é muitas vezes omitido). A festa comunista é também o único festival de verão que este ano que pode mesmo acontecer em pleno.

 

Escreve à quarta-feira