A década que estamos a viver configura para o nosso planeta, tal como o conhecemos, dois desafios de sobrevivência primordial. Será em primeiro lugar a década em que a descarbonização efetiva tem que conseguir inverter o caminho para o abismo gerado pelo aquecimento climático e será em segundo lugar a década em que a redução das desigualdades tem que que conseguir funcionar como um antídoto à fragmentação e à fratura das sociedades e dos sistemas políticos e ao regresso dos regimes autoritários e cerceadores da liberdade dos indivíduos.
Descarbonização e redução das desigualdades são dois processos intrinsecamente ligados. Dificilmente uma das revoluções sistémicas que implicam poderá ser atingida sem a outra. Reduzir drasticamente as emissões de gases com efeitos de estufa implica uma mudança radical dos modelos de organização económica e social, uma nova industrialização sustentável e novos conceitos de urbanismo e de vida em comunidade.
Estas mudanças só serão possíveis se mobilizarem uma parte significativa da sociedade e se não derem origem à criação de blocos de vencedores e de perdedores, de incluídos e excluídos, que rapidamente serão aproveitados pelas forças políticas populistas para gerarem dissensos para benefício político imediato e travagem a fundo dos processos estruturais de transformação.
O esforço global para sustentar a mudança tem que ser equitativo e justo, para poder ser aceite e partilhado com a profundidade e o compromisso necessário. Esta constatação constitui uma oportunidade para aplicar medidas de convergência, combate á pobreza, formação e qualificação das pessoas à escala global, dando corpo à concretização efetiva dos objetivos do desenvolvimento sustentável.
Descarbonizar e reduzir as desigualdades de forma global e consistente, exigem uma multiplicação de alianças entre indivíduos, territórios, comunidades, países e instituições internacionais, num teste profundo à dimensão multilateral, cujas sementes parecem recomeçar a despertar face à textura dos desafios.
É chegada a hora da comunidade internacional se mobilizar por um novo impulso de concretização dos objetivos do desenvolvimento sustentável, disseminados por todos os programas de ação e compromissos políticos globais estabelecidos nos últimos anos, transformando-os num efetivo e determinado roteiro de ação para a sobrevivência, tendo o combate às alterações climáticas e ás desigualdades como catalisadores.
Um roteiro de ação que para ser bem-sucedido tem que combinar todos os outros objetivos do desenvolvimento sustentável como pilares de mudança ao serviço dos dois desígnios maiores, designadamente trabalhando na erradicação da pobreza e da fome, na promoção da saúde, da educação e da igualdade de género, na disseminação do acesso à água potável e às energias renováveis e limpas, na reconfiguração inteligente do tecido económico, das cidades e da organização das comunidades, protegendo a vida marinha e a vida terrestre e preservando a biodiversidade.
Ter sucesso na década D, descarbonizando, reduzindo as desigualdades e fortalecendo a democracia, são desígnios fortes para a humanidade e para cada cada um de nós.
Eurodeputado do PS