Covid-19: Agosto com alívio gradual

Covid-19: Agosto com alívio gradual


Reunião do Infarmed, na terça-feira, vai colocar em cima da mesa as recomendações e perspectivas para os próximos meses. Governo anuncia novo plano depois. 


Os sinais são positivos a caminho da reunião do Infarmed. Se há uma semana era mais clara a estabilização da epidemia em Lisboa, agora verifica-se um abrandamento dos diagnósticos em todo o país – não uma tendência de descida acentuada, mas já não um crescimento exponencial como se viveu em maio e junho. É com essa tendência, e dados que mostram que, para o número de infeções diagnosticadas, houve menos hospitalizações e menos mortes do que em vagas anteriores mas ainda assim mais mortes que em maio e junho, que o Governo terá de decidir na próxima semana o que fazer daqui para a frente.

O ponto de partida será na terça-feira a reunião dos especialistas. Ao que o Nascer do SOL apurou, haverá como habitualmente várias apresentações, desde a proposta da equipa que junta peritos do Instituto Ricardo Jorge, Escola Nacional de Saúde Pública e académicos para rever as linhas vermelhas – que deverá traduzir-se num aumento dos patamares de risco para avançar com medidas menos restritivas – a considerações sobre o impacto da vacinação e o que esperar nos próximos meses. Por outro lado, ideias sobre como e a que velocidade levantar medidas e reaberturas de setores, dos bares e discotecas ao regresso do público aos estádios, decisões que têm sido tomadas em Conselho de Ministros e voltarão a ser na próxima quinta-feira. Ontem a ministra da Saúde e a ministra do Estado da Presidência reuniram-se como habitual com os peritos antes da reunião, marcada para terça-feira de manhã.

A ideia de que o levantamento deverá ser gradual ficou patente nas intervenções de António Costa, que admitiu esta semana que uma ‘libertação total da sociedade’ é esperada no fim do verão, quando a imunidade de grupo for atingida. Um conceito que em termos teóricos tem sido pouco consensual – mesmo com a eficácia elevada das vacinas, não é total e seria preciso vacinar quase toda a população para o compensar e travar infeções. Tem sido traduzido pelo Governo (o português e outros) pelo momento em que se atinge 85% da população vacinada, o patamar que substituiu os 70% de vacinação quando a variante delta se tornou dominante. O Governo tem sido pressionado, externa e internamente, para reabrir discotecas, mas tudo o que seja grandes ajuntamentos em espaços fechados continua a merecer cautela entre os peritos e os certificados digitais como ‘passaporte interno’ deverão manter-se.

Esta sexta-feira,  o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças emitiu recomendações cautelosas, pedindo que se lembrem os três w’s: em inglês, usar a máscara (wear a mask), lavar as mãos (wash your hands) e manter o distanciamento (watch your distance). E numa altura em que o pensamento geral está na libertação, pede que as pessoas avaliem o risco ‘porta a porta’, com indicações invulgarmente visuais num combate à pandemia que dura há mais de um ano e meio: «Do momento em que fecha uma porta até ao momento em que abre uma nova porta, avalie passo a passo o seu risco de ser exposto e tome as precauções certas».

Outras recomendações aos países passam por garantirem que as populações têm acesso a testes gratuitos, expandam a sequenciação de variantes e continuem a incentivar a quarentena de contactos e o isolamento de casos confirmados, reforçando o rastreamento de contactos para quebrar as cadeias de transmissão, isto tudo ao mesmo tempo que se asseguram que as pessoas com maior risco são vacinadas.

 

Jovens em agosto

A vacinação de adolescentes é agora a próxima etapa na campanha de vacinação, agora com alguns novos condicionamentos. O primeiro-ministro avançou com o anúncio de um plano para começar a chamar adolescentes para vacinação a partir do fim de semana de 14 de agosto, apontando para que a vacinação de 590 mil jovens possa acontecer sempre aos fins de semana e até 19 de setembro. Mas falta o parecer final da Direção Geral da Saúde. Um parecer preliminar recomenda que para já sejam vacinas crianças e jovens com fatores de risco prévios e alguns países estenderam-no a jovens que vivem com pessoas particularmente vulneráveis. Há países a seguir esta linha, outros a vacinar todos os jovens com mais de 12 anos.

Do ponto de vista de eficácia e segurança, está aprovado a nível europeu tanto o uso da vacina da Pfizer como o da Moderna nestas faixas etárias. Os estudos que serviram de base à decisão envolveram, cada um, 2 mil crianças, menos dos que os que foram feitos com adultos. Os efeitos secundários mais comuns foram semelhantes aos dos adultos e o regulador admitiu esta semana ao aprovar o uso da vacina da Moderna, tal como já tinha feito com a da Pfizer em maio, que devido ao número reduzido de participantes nos ensaios não foram detetados novos efeitos secundários ou estimado o risco de efeitos adversos já reportados como miocardite e pericardites, inflamações cardíacas.

Na incerteza, a posição do Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos é de prudência quanto à vacinação universal de crianças. Duas semanas foi o tempo pedido pela DGS para emitir um parecer final, o que vai calhar na primeira semana de agosto. 

Do lado do ECDC, a recomendação inequívoca é que se vacinem crianças prioritárias e depois que se equacione contexto local mas também a disponibilidade das vacinas, que esta semana teve um novo rombo. O coordenador da task-force nacional de vacinação, revelou que a Janssen vai entregar em agosto um terço das doses previstas. Gouveia e Melo explicou ao Parlamento que a empresa, já em junho,  «tinha prometido entregar 800 mil vacinas e entregou 260 mil». Em Agosto deveria entregar cerca de 600 mil.  A AstraZeneca está a enviar mais vacinas, mas neste momento só são usadas acima dos 60. A Janssen estava a ser usada para vacinar sobretudo homens jovens, que agora terão de receber das outras. Com as crianças pelo meio a só poderem fazer Pfizer e Moderna, a ginástica torna-se maior. «Vamos enfrentar duas semanas de poucas primeiras doses». Outra dificuldade são as segundas doses em época de férias.

 

O que é preciso para chegar aos 85% de vacinação

A nível mundial, Malta e Islândia são os países com maior percentagem das suas populações integralmente vacinadas, mais de 70%. Na Europa, Portugal está acima da média. No final da semana passada, chegou-se ao patamar de 64% da população com a primeira dose e 47% com as duas. Mas para atingir 85% da população vacinada, será preciso ainda dar cerca de 2  milhões de primeiras doses e cerca de 4 milhões de segundas doses. A questão não é só o esforço o ritmo de vacinação, que aumentou nos últimos meses: a partir das estimativas de população residente do INE, que o SOL analisou, vacinando apenas maiores de 18 anos, seria preciso que toda a gente fizesse a vacina para se atingir 85% da população do país vacinada. Mesmo com elevada cobertura nos grupos etários mais velhos, e também elevada intenção de vacinação nos mais novos, será difícil por essa via. Só vacinando as crianças a partir dos 12 anos será alcançável essa meta apontada para setembro, e tal está dependente das orientações e mais uma vez da adesão.

Apesar da proteção de vacinas – que um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto estima que evitaram 700 mortes em três meses – depois do aumento de casos atingir também os mais velhos, julho caminha para o fim com 855 doentes hospitalizados, 178 em estado crítico. Já morreram este mês mais do dobro das pessoas infetadas com covid-19 de junho e o triplo de maio, com 163 vítimas mortais até esta quinta-feira. No ano passado, em julho, sem vacinas mas com a epidemia menos disseminada, houve 155 mortes.