Desde muito novo, André Mariano, hoje com 31 anos, terapeuta adotivo e ativista digital, soube que queria ser tatuado. “Sou adotado e acho que o meu gosto por tatuagens e a vontade de as possuir no meu corpo esteve sempre muito ligada a esse facto. Fazer uma tatuagem foi sempre um objetivo, sempre tive muita certeza. Tanta certeza que constava no meu ‘manual de vida e sobrevivência’”, revelou ao i.
Depois de anos a imaginar o que gostaria de gravar no seu corpo, desenhou dois esboços do que pretendia e, numa tarde, dirigiu-se a “uma loja de tatuagens de referência e de grande notoriedade”, com recomendação de uma amiga. Ao ver a loja sem movimento, sentiu que esse seria o momento certo para realizar um dos seus “sonhos” e entrou. “Dei-lhe o meu diário gráfico, contei-lhe a minha história e desenhei com ele coisas bonitas”, contou.
Mas no momento antes de tatuar foi invadido pela insegurança: “Perguntei ao tatuador se ele já tatuava há muito tempo, à procura se uma ‘validação especializada e profissional’ para me sentir confortável por saber que seria algo que ficaria gravado no meu corpo para sempre”, continuou. Segundo José, o tatuador respondeu-lhe que sim e o facto de ser dono do espaço descansou-lhe o coração: “Olhei-lhe e vi 1001 rugas de expressão gritadas de sabedoria (pensava eu) e confiei”, acrescentou.
Durante o processo, o terapeuta sentiu alguns sinais estranhos, pela não recetividade do tatuador a algumas das suas ideias, mas lá continuou. E, depois de ter sido elogiado por não se queixar da dor naquelas que foram as suas primeiras tatuagens, ouviu: “Estão prontas! Bora!Vira-te!”. Foi isso que fez e, assim que se viu ao espelho, paralisou.
As duas grandes tatuagens na zona superior de cada braço não estavam fiéis àquilo que tinha sido combinado: uma deles seria o desenho de um menino que segura balões (simbolizam a família), e a outra, a “árvore da vida”, com duas coroas (avó e avô) e o mesmo menino: “Ganhei medo! Por isso, sinto que é importante tanto compreender e conhecer o cliente, ou/vice-versa, para que a dedicação à mesma história seja revelada em brilho, como fazer um bom questionário de conhecimento para, pelo menos, tentar ser o fiel possível àquilo que pretendemos”, lamentou.
O terapeuta já pensou em removê-las, mas está mais “inclinado” para o clareamento que permitirá depois cobrir esses dois desenhos com “novas histórias”. Contudo, ainda não encontrou a pessoa certa para o fazer, “porque continuamos a falar de relação e eu estou à espera de encontrar algum/a tatuador/a que me dê confiança e que não faça as minhas pernas tremer”, elucidou. Apesar de estar triste com o resultado e não possuir “uma relação direta com as tatuagens”, André diz-se jamais “amargurado”, pois os significados estão lá.