À frente do Sindicato Independente dos Médicos desde 2012, Jorge Roque da Cunha, recentemente eleito para um mandato de mais três anos, tem sido uma das vozes críticas da gestão da pandemia e dá o murro na mesa: acusa a ministra da Saúde de autoritarismo e de estar a abandonar os doentes por falta de humildade em reconhecer as dificuldades. Médico de família em Camarate, traça o diagnóstico também a partir da consulta, onde diz estarem a chegar mais doentes descompensados. Sem diálogo com sindicatos e com uma insatisfação crescente, está a criar-se terreno para movimentos inorgânicos que querem “greves selvagens”, avisa. Continua a militar no PSD, mas diz não ter planos para voltar à vida partidária ativa e assume também essa crítica: “Uma melhor Oposição faz sempre melhores Governos”.
Despindo o fato de dirigente sindical e vestindo a bata de médico, o que tem custado mais neste ano e meio?
O que custou mais foi sentir que os doentes têm mais dificuldades quer no acesso aos cuidados de saúde primários quer nos cuidados hospitalares. Neste momento as pessoas mais desfavorecidas têm mais doenças, estão menos controladas, estão mais desesperadas.
Na sua USF, pensando em 10 doentes, o que vê num dia de consultas?
Pessoas com situações de diabetes descontroladas, hipertensões descontroladas. Vemos muitíssimo mais ansiedade e casos de identificação de carcinomas mais tarde. E aqui eu, como médico, responsabilizo a senhora ministra da Saúde por estar a retirar saúde aos portugueses. Retira saúde aos portugueses ao retirar médicos dos centros de saúde. Neste momento temos cerca de mil médicos em áreas dedicadas à covid-19, cerca de 400 médicos dedicados à vacinação e grosso modo cerca de 100 médicos dedicados aos telefonemas de vigilância de doentes com covid-19. Estamos a falar de cerca de 1500 médicos que todos os dias são retirados aos centros de saúde.
Cerca de 1500 médicos num universo de 5 mil médicos de família no país?
Sim. Significa que cerca de um quarto dos portugueses, três milhões de portugueses, todos os dias não têm médico de família disponível. Claro que não são sempre os mesmos.
A que acrescem os que ainda não têm médico atribuído.
Que são cerca de um milhão. E ainda há umas centenas de milhares que não têm médico transitoriamente, porque as pessoas estão de doentes, ou de licença de maternidade, o que corresponde a 250 mil portugueses diariamente. E portanto considero que tem havido incapacidade de gestão da ministra da Saúde.
O que podia ter sido feito de diferente?
Era fundamental que houvesse verdade. Que se reconhecesse que, em 2019, o SNS estava já no limite. Aos cortes no tempo da troika vieram acrescentar-se as cativações do Dr. Centeno. Durante o consulado do Dr. Centeno houve menos investimento no SNS. São dados do Tribunal de Contas: entre 2012 e 2014, 26,3 mil milhões de euros. Entre 2015 e 2017, 24,7 mil milhões. Sendo que pelo meio houve o regresso às 35 horas de trabalho, que se traduziu em mais custos. Não houve investimento durante a troika e não houve investimento no pós-troika. A circunstância de haver uma pandemia devia ter obrigado o Governo a ter uma atitude que não teve, que era ser sério com os portugueses e não pôr os departamentos de comunicação a gerir a pandemia. Inicialmente, e mesmo hoje, a pandemia é fundamentalmente gerida pelos departamentos de comunicação do primeiro-ministro e da ministra da Saúde.
Vê isso no quê?
Era uma “gripezinha”, não ia acontecer nada, as máscaras eram uma falsa sensação de segurança. Quando os números começavam a baixar um pouco, era um grande sucesso de Portugal, era a bola de Berlim na praia, eram os bandidos dos ingleses que não vinham cá… Toda a mensagem é no sentido de desvalorizar o problema. Lembro-me de nessa altura mesmo amigos meus me chamarem profeta da desgraça.
Teve sempre uma postura muito crítica ao longo destes meses.
Tive sempre essa atitude porque não conhecendo o vírus, sabendo que é um vírus muito imprevisível… temos que ter o maior dos cuidados. Principalmente na mensagem que damos às pessoas.
Acha que a mensagem tem sido o principal problema?
Para além da mensagem, a incapacidade de organização de todo o sistema. Por exemplo, não percebo como é que naquele tempo entre a primeira e a segunda vaga, o ministério da Saúde permanentemente dizia que o SNS estava preparado para receber a segunda vaga. Nem sequer sabíamos a dimensão. Viu-se o que é que aconteceu. Se é verdade que em termos de ventiladores e cuidados intensivos estamos melhores – precisamos de gente – em tudo o resto estamos pior. Em relação à situação que nós já sabíamos que era difícil e que foi agravada pela pandemia, tivemos o Ministério da Saúde só preocupado com a sua imagem e com denegação
Em que áreas se está pior?
O Governo sabe que nestes anos se vão reformar cerca de 1500 médicos de família e cerca de 1800 médicos hospitalares. Qual é a resposta? Anuncia um concurso para contratar 490 médicos de família, quando sabe que, nos últimos três anos, nos concursos que abriram, mais de um terço das vagas ficaram por preencher. Isto não é resposta, é denegação. Da mesma forma que hoje quando o Ministério da Saúde diz que tem mais médicos, é mentira, é falso. Basta ir aos hospitais. As equipas das urgências estão no limite, há listas de espera mesmo havendo menor acesso, os centros de saúde estão a fechar mais cedo.
Não estão com horários alargados para recuperar atividade?
É impossível isso acontecer num centro de saúde que tenha enfermeiros, administrativos e médicos que têm de ir para a vacinação, que têm de ir para as áreas dedicadas à covid-19, que têm de ver emails e dar resposta.
Esta semana, uma Unidade de Saúde Familiar de Vila Franca de Xira fez uma publicação no Facebook a informar os utentes de que não têm pessoal suficiente e já não dá para disfarçar. Têm muitos relatos destes?
Isso é uma situação que acontece em todo o país. O Ministério da Saúde sabe que, ao desviar profissionais para outras atividades, está a diminuir a resposta. E por isso eu responsabilizo a senhora Ministra da Saúde pelas complicações de saúde, da diabetes. Vai haver pessoas cegas mais cedo, vai haver amputações mais cedo, vai haver mais acidentes vasculares cerebrais, vai haver cancros mais graves a chegarem aos hospitais. Vai haver mais mortes. E sabendo o que sabe, o Ministério da Saúde a única coisa que faz é dizer publicamente que tem mais profissionais.
O Ministério da Saúde tem reconhecido também que há problemas crónicos e que seria difícil resolvê-los num ano pandémico.
Daí o reforço da minha crítica. Sabendo dessa limitação, sabendo dessa dificuldade, a obrigação de um Governo responsável era dizer a verdade e dizer que era necessário mais em termos de investimento, contratarmos profissionais. Não compreendo por que não contrata profissionais para a vacinação e para as áreas dedicadas à covid. Não compreendo.
Existem profissionais de saúde disponíveis para não ter de utilizar os recursos dos centros de saúde?_
Claro que há. Para estas funções ligadas à vacinação e vigilância de doentes, há bolsas de voluntários que a própria Ordem dos Médicos fez e que não foram utilizadas… Outra opção seria responder a uma disponibilidade demonstrada por exemplo pelo dr. Fernando Araújo, que garante que no fim de semana o Hospital de São João pode participar na campanha de vacinação. Os hospitais tinham de estar incluídos no programa de vacinação e estão disponíveis.
Isso não desviaria recursos nos hospitais?
Mas o impacto seria menor. Os médicos continuam a estar no hospital, não é necessário desviá-los para um centro de vacinação. Há enfermeiros, administrativos. Estamos a falar de dimensões totalmente diferentes dos centros de saúde.
Escreveu aos autarcas a pedir apoio na contratação de recursos médicos para os centros de vacinação, como aconteceu com enfermeiros. Que respostas tem tido?
Tenho tido respostas das mais variadas possíveis. Oeiras, Loures, Vila Franca de Xira responderam positivamente. A única resposta que recebi tristemente foi da Associação Nacional dos Municípios Portugueses, presidida por um socialista conhecido, que diz que não é competência das câmaras essa atribuição. As câmaras, não sendo sua competência a área da saúde, têm ajudado imenso. Agora para contratar médicos tem de haver uma orientação. Mas o que é que se vê em vez de respostas? Um foguetório à conta da vacinação. Todos nos lembramos a festa que foi o início da vacinação nos lares. Eram mais as pessoas na comitiva do que na vacinação. Faz algum sentido a senhora Ministra da Saúde, neste momento, visitar centros de vacinação? Só atrapalha. Quer aparecer bem na fotografia? Devia estar concentrada a resolver o problema.
Foi político, sabe que também existe esse lado.
Mas só aparecer… nesta semana apareceu em três centros de vacinação. Só atrapalha. O próprio almirante, no Parlamento, disse que é necessário contratar 400 profissionais médicos, 2000 enfermeiros e 2000 operacionais. Se isso não for feito, abandonam-se doentes e está-se a criar problemas gravíssimos. O nosso apelo – que nem é um apelo, é um grito até que a voz me doa e que iremos repetir – é que a senhora ministra não abandone os portugueses no acesso aos cuidados de saúde.
Falou no atraso dos rastreios. São conhecidos os números: menos 100 mil cirurgias no ano passado, menos um milhão e meio de consultas, menos 450 mil convocatórias para rastreio. Que casos concretos vê?
Na semana passada um doente, por acaso um pouco conflituoso, quer só ser visto por mim. Antes fala-se de conflitos, e agora as pessoas sentem-se com mais razões para protestar. Depois de uma pequena troca de impressões um pouco mais acesa com as funcionárias administrativas, disponibilizei a consulta. Problema: uma tosse. ‘Então mas tem tosse há quanto tempo?’. ‘15 dias’. A tosse estava com uma expetoração raiada com sangue. Pedi uma TAC. Positivo para cancro dos pulmões, felizmente a tempo de ser operado. Houve relutância das pessoas em irem aos centros de saúde, mas há pessoas já não gostavam de ir ao médico, que têm medo de ir ao médico. Se dificultamos esse acesso, isso agrava-se. Por exemplo no rastreio de cancro colorretal, com pesquisa de sangue das fezes e que esteve atrasado, só na semana passada foram três doentes que enviei para o hospital com suspeita claríssima de carcinoma. Estas pessoas não têm voz nas redes sociais, na comunicação social, para exigirem o seu acompanhamento. Estão abandonadas, objetivamente, pelo Ministério da Saúde, que sabe que existem estes problemas, sabe que existem estas dificuldades, mas nem sequer alerta as pessoas para isto. Por exemplo nessa questão dos emails que referiu, neste momento nós temos cerca de mil emails por abrir na USF porque metade dos nossos administrativos estão no centro de vacinação.
Sente falta, neste momento, de um plano mais estruturado de recuperação de atividade? A ministra da Saúde explicou numa entrevista que deu recentemente ao SOL que há um grupo de trabalho que lida com as questões práticas em cada local e que não são precisos mais diagnósticos.
É preciso resolver os problemas de forma estruturada e para isso é preciso uma política de recursos humanos. Não é possível resolver esta questão com a debandada que existe de médicos do SNS seja por reformas, para o privado ou para o estrangeiro. Saem por várias razões: por um lado, porque não há investimento e, por outro, porque neste momento as condições de trabalho no privado são mais simpáticas.
Qual é hoje a diferença?
O investimento no geral. Temos lacunas de toner nos centros de saúde, problemas com impressoras, de sistema informático. Não percebemos como é que, até com a pandemia, matérias meramente burocráticas como, por exemplo, a emissão de exames de imagiologia não pode ser feita eletronicamente. Como é que os resultados das análises não podem ser introduzidos nos nossos sistemas. Em termos de política de recursos humanos, hoje um médico especialista, com 40 horas de trabalho semanal, recebe 2800 euros brutos no SNS. Perdeu 23% de poder de compra nos últimos 10 anos. É obrigado a fazer centenas de horas extraordinárias.
Que aumentaram em ano de pandemia.
Se em 2019 foram 8 milhões de horas extra, em 2020 este valor foi atingido em outubro. São 213 milhões de euros em horas extra, mais 112 milhões de euros pagos a empresas de prestação de serviços para haver médicos tarefeiros. No privado o médico ganhará um pouco mais, mas tem qualidade de vida, não é obrigado a fazer centenas de horas extra. É respeitado o seu descanso. Neste momento há poucos médicos para as necessidades e para o crescimento do setor privado no país nos últimos anos, o que não deixa de ser estranho. Mas o que o Governo faz ao permitir o fecho da urgência de pediatria em Almada é objetivamente alimentar o setor privado de uma forma como nunca aconteceu no passado. E continua a acontecer. Não havendo verdadeiros incentivos para que as pessoas vão trabalhar para os hospitais mais carenciados, não havendo uma política de atratividade, como neste momento o próprio Governo Regional da Madeira está a desenvolver com um subsídio de insularidade, com o pagamento diferenciado de horas extra, é isso que vai acontecer. E nós, apesar do descontentamento que existe nos profissionais, apesar dos movimentos populistas dentro dos médicos que exigem, tal como noutras profissões, medidas como greves e contestações mais duras, temos mantido a nossa vontade de diálogo.
Refere-se a que movimentos?
Médicos que querem à viva força greves selvagens, greves que não são legais, porque estão muito descontentes. Os sindicatos médicos têm tido a capacidade de não aproveitar esta situação de fragilidade do SNS para ter ganhos e aumentar a contestações. Temos demonstrado a nossa capacidade de diálogo e não compreendemos como é que a ministra da Saúde se recusa a falar connosco, como é que se recusa a falar com a Ordem dos Médicos. Durante a pandemia nunca houve uma reunião com as estruturas médicas. Não há, na história da democracia portuguesa, qualquer atitude semelhante àquela que a doutora Marta Temido tem. A mim parece-me que tem uma nostalgia daquilo que era antes do 25 de Abril em que, de facto, eles não reuniam. Há tiques autoritários perfeitamente escusados. Mesmo o chamado subsídio de risco, a forma com foi dado, a quem foi dado, nunca falaram connosco.
Nessa entrevista que nos deu, a Ministra da Saúde admite que sem um mecanismo como a dedicação plena, a exclusividade, será difícil cumprir a meta de médico de família por todos os portugueses e anuncia que o Governo está a estudar essa proposta. Concorda que é necessário?
Se avançasse com mais Unidades de Saúde Familiar, se os 2220 médicos na categoria de assistente graduado sénior (topo de carreira) que se reformaram nos últimos cinco anos fossem repostos – com a saída desses mais de 2 mil, só 400 subiram na carreira – se houvesse investimento nos serviços, uma aposta na formação dos profissionais em áreas de gestão…
São muitos se’s… Os médicos não querem a exclusividade?
São muitos se’s, mas com isto tudo com certeza que teríamos mais médicos a querer ficar no SNS. A exclusividade, recordo, foi retirada por um Governo do dr. Correia de Campos e da dra. Ana Jorge. Exclusividade de uma forma voluntária, com certeza que sim. Mas há quanto tempo é que ouvimos falar dessa intenção de retomar a dedicação plena?
Passada a fase crítica da pandemia, há disponibilidade para negociar?
Com certeza que sim. Havia muita gente que tinha dedicação plena e estava confortável com isso.
Na altura, o trabalho em exclusividade no SNS implicava um vencimento 40% superior. É com essa fasquia do passado que o sindicato vai partir para as negociações?
O digo é que é muito melhor isso do que contratar reformados ou prestações de serviço. Entramos em todas as negociações. Temos o orgulho de termos assinado 34 acordos. Só com esta ministra da Saúde é que não reunimos. Mas também temos dificuldades ao nível da ministra da Justiça. Também não responde aos nossos apelos. O Instituto de Medicina Legal tem sido totalmente negligenciado. Médicos recém-especialistas não são contratados por questões burocráticas, não progridem na carreira. E naturalmente que as pessoas saem do Instituto de Medicina Legal, o que leva a atrasos nas autópsias, à necessidade de contratar serviços externos. Não basta só proclamar o amor pelo SNS, é preciso investir no Serviço Nacional de Saúde. Como mostrei há pouco, esse investimento não ocorreu, não ocorre e não incentiva as pessoas a ficar.
Mas concorda então com a ministra que a exclusividade pode ser um caminho para atingir a meta no caso das equipas de saúde familiar?
Houve muitos médicos que quiseram trabalhar em exclusividade e há com certeza muitos médicos que quererão trabalhar em exclusividade. Mas não basta isso. É fundamental que se invista em equipamento, em condições de trabalho… Ar condicionado, toner, impressoras, sistemas informáticos… questões básicas. No momento em que, para Portugal, vêm biliões de euros da Europa e se fala na questão da transformação digital, o que queremos é sistemas informáticos simples, que funcionem, que não nos façam perder tempo. Queremos ter impressoras: é extraordinário, não é? A esmagadora maioria dos médicos quer trabalhar no SNS. Tenho orgulho, sendo sindicalista e podendo utilizar as dispensas sindicais para não trabalhar, de estar a acompanhar 1900 utentes que conheço há 10 anos. Pessoas que precisam de mim. Queremos continuar no SNS. Mas naturalmente que as pessoas não são masoquistas. Quando uma pessoa, por exemplo, vem do Norte para Lisboa, com 2800 euros brutos de ordenado, 1000 euros de renda e outras ofertas, é uma questão de fazer as contas.
Comparando com os rendimentos médios do país…
Também se pode comparar com os rendimentos médicos da banca ou da TAP, é uma questão de prioridades. O dr. Paulo Macedo exigiu, quando foi para a Caixa Geral de Depósitos, uma cláusula que permitisse a concorrência na contratação dos seus profissionais. E a verdade é que a CGD neste momento está a dar lucro e conseguiu captar os seus profissionais.
Na Saúde também devia haver esse tipo de cláusula nos contratos?
É essencial que se remunere devidamente os médicos e invista nas condições de trabalho. Não é possível dizer a um médico que trabalhe 40 horas, que seja obrigado a fazer centenas de horas extraordinárias por ano, miseravelmente pagas, quando ao lado vê um médico contratado por prestação de serviços a ganhar três vezes mais do que aquilo que ganha um diretor de serviço. É totalmente irracional.
Depois de ano e meio de pandemia, têm chegado ao sindicato muitos casos de burnout, pessoas esgotadas?
Sim. Há muita gente cansada, há muita gente que não se defende. Está acontecer uma coisa extraordinária que ainda é mais grave: muitos médicos não estão a dar conta dos sinais iniciais do burnout. O ritmo de trabalho é de tal ordem, ver os doentes, a necessidade da vacinação, acompanhar aqui, responder acolá, que não sentem que não estão bem. E às vezes as pessoas esquecem-se que os médicos têm família. As médicas têm de ter filhos. Já basta a discriminação que existe noutros lados.
Mas há pressão para não ter?
Não haverá, mas a realidade é que as pessoas têm filhos e têm de ser substituídas. As nossas médicas têm de ter licença de maternidade. Muitas vezes fazem o curso, tiram a especialidade e é aí que têm os filhos, enquanto esperam pelo local de trabalho, agora tudo isso influencia os utentes sem médios, os quadros dos hospitais, é preciso ter isto em consideração nos recursos humanos.
Sente diferenças na geração mais nova, na forma como colocam travões, não querem ser workaholics como foram muitos da sua geração?
As pessoas sabem cada vez mais que se não põem um travão em relação à pressão que existe no trabalho, a médio prazo estarão a ser objeto de tratamento psiquiátrico. Têm de se defender. Têm direito a uma vida, direito a serem pais, a ser mães, os nosso filhos têm direito a ser acompanhados da mesma maneira. Aliás, até deviam ser melhor acompanhados porque têm mais ausências. Já não digo discriminação positiva mas que não sejam discriminados negativamente como foram na altura da pandemia. A questão é sermos respeitados. E a nossa ministra, em vez de nos respeitar, quer escravizar-nos. E eu dou um exemplo muito concreto: nos médicos de saúde pública, que continuam a fazer os rastreios da covid-19, as primeiras 200 horas extra são feitas totalmente a custo zero. O Estado trata como escravos os seus médicos de saúde pública. A dra. Marta Temido tem a responsabilidade porque é ministra da Saúde. Nós elegemos os Governos para resolverem problemas. Se não conseguem resolver os problemas, vá para lá outra pessoa.
A contestação vai aumentar na segunda metade do ano?
Nós como sindicato temos demonstrado muita paciência, muita capacidade de diálogo, muita calma. Não radicalizámos nunca o nosso percurso nem muito menos fizemos greves durante a pandemia. Nem sequer respondemos às provocações de cobardia.
Refere-se às palavras de António Costa no ano passado, quando disse que os médicos eram cobardes por não quererem ir para o lar de Reguengos de Monsaraz.
Sim. Nem sequer perante isso houve uma radicalização. Mas é evidente que existe um conjunto crescente de insatisfação por todos estes problemas que o Ministério da Saúde conhece tão bem ou melhor que os sindicatos. Há movimentos que são inorgânicos. Também são inorgânicos na própria sociedade, eles andam aí, os médicos não são diferentes da sociedade. Felizmente, os negacionistas já desapareceram, pelo menos do espaço mediático. Agora, numa democracia e na nossa em particular, a Constituição portuguesa reconhece o papel dos sindicatos. Para quê? Justamente para gerir as relações de trabalho. E nós temos mostrado, com os 34 acordos que assinámos com as mais diversas entidades, esta capacidade de dialogar, que não tem havido.
Tem algum pedido de reunião pendente com o Ministério da Saúde?
Temos pedidos de reunião pendentes com a dra. Marta Temido desde que tomou posse.
E recentes?
Temos, sem exagero, uns 50 ofícios à doutora Marta Temido que nem sequer se digna a responder. O que é lamentável em termos de democracia.
Desde o 25 de Abril de 1974 nunca houve nenhum ministro da Saúde que respeitasse tão pouco os médicos como a doutora Marta Temido, por omissão e por ação.
Houve ministros muito contestados, alguns que caíram por obra dos médicos, como Leonor Beleza.
Acho que não. Os ministros caem por decisão do primeiro-ministro. Nunca é por imposição ou por greve dos médicos. Antes pelo contrário, muitas vezes até os reforçam. O Dr. Adalberto não caiu pelos médicos.
É médico. Um ministro médico está mais protegido?
Há vantagens. Dou o exemplo de um grande senhor que foi um grande ministro, o dr. Adalberto Paulo Mendo, um excelente ministro da Saúde com as dificuldades todas que havia. Há vários ministros que não podendo resolver os problemas, ao menos tentavam junto dos interlocutores encontrar soluções. Não temos qualquer prazer em criar instabilidade.
Nenhum ministro até hoje lidou com uma pandemia como esta.
Mais uma razão para ter a humildade de saber que a situação é grave, que o investimento é baixo e que todos somos poucos. Não adianta estarmos a falar de SNS sem falar dos seus profissionais, é uma coisa básica. Portanto, na pandemia alguns erros até foram desvalorizados – recordo a história daquelas eminências pardas que disseram que era preciso não fechar as escolas, felizmente o primeiro-ministro decidiu fechar. O doutor Torgal foi porta-voz dessa decisão. Nestas coisas das doenças, como digo aos meus doentes, mais vale prevenir que remediar. Mais vale ser excessivo. Queremos economia, mas economia sem saúde é uma economia impossível. Por isso, estamos hoje muito esperançosos com a vacinação, estamos esperançosos que isto possa correr bem, mas sem soluções, sem investimento, estamos pessimistas com a saúde dos portugueses.
Quanto tempo demorará a recuperar o atraso na resposta causado pela pandemia?
Com esta indiferença por parte da ministra, vai ser irrecuperável. Volto a dizer, acuso, responsabilizo esta ministra da Saúde de uma total insensibilidade social em relação a este tipo de problemas.
Considera que Marta Temido não tem condições para continuar à frente do ministério?
A decisão de continuar à frente do ministério é só de uma pessoa: o primeiro-ministro. Neste momento, parece-me ser mais parte do problema do que parte da solução. Nunca pedimos demissão nem de primeiros-ministros, nem ministros, nem diretores de hospitais, nem diretores de centros de saúde. Respeitamos o poder político, é eleito, existe o Parlamento, existem as instituições. O que gostava era de ver a humildade de a ministra da Saúde e o reconhecimento dos profissionais e das condições de trabalho. Não queremos isto para antes de ontem, não queremos para amanhã, não fazemos ameaças. Sabemos que a situação é difícil, aceitamos uma decisão no tempo. Mas não compreendemos que a avaliação esteja congelada, que não haja concurso para assistentes graduados sénior, só para meia dúzia, que não haja progressão. Vê-se os médicos a sair do SNS e não há nenhum incentivo para que continuem. Os centros de responsabilidade integrada não estão a ser desenvolvidos porquê? Não há mais USF B porquê?
Nessas reformas, o SNS parou?
Regrediu. E aquilo que nós conhecemos é só a ponta do icebergue. Há cada vez maior dificuldade de as pessoas em acederem. E como dizia há pouco, há muitas pessoas que não gostam de ir ao médico. Especialmente pessoas de meia idade, homens, tenho dezenas de situações. ‘Doutor veja lá se me passa umas análises, depois o meu marido vem cá porque já sabe que ele não gosta de vir’. Se eu tenho uma atitude rija, as pessoas ficam sem resposta. Há dezenas de diabéticos que não são acompanhados… é uma doença que não se sente. Os enfartes são silenciosos. Não querendo ser alarmista, temos de criar as condições para que as pessoas não tenham receio de ir ao centro de saúde e baterem com o nariz na porta porque fecha mais cedo, não têm administrativos para serem atendidos. Continua a não haver pessoas para atender telefones, uma central.
Com esta quarta vaga, houve necessidade de suspender férias?
As férias são suspensas por decisão
do patrão.
Mas neste momento há profissionais com férias suspensas?
A entidade patronal a todo o momento pode decidir suspender férias. Nós achamos que é uma provocação escusada, uma atitude de falta de respeito, quando a ministra da Saúde fala nisso, porque ao falar nisso está a dizer o que é óbvio e que todos sabemos e, de alguma maneira, a dizer para o público que com o seu chicote vai obrigar os profissionais a acabarem com as férias.
A ministra da Saúde disse que não podia afastar esse cenário caso a pandemia se descontrolasse.
Se a senhora ministra da Saúde dissesse o seguinte: ‘Tenho toda a confiança que os profissionais de saúde só gozam férias quando têm as coisas minimamente orientadas e controladas’ que é aquilo que acontece teria sido uma resposta mais adequada.
E é isso que acontece sempre?
Nos centros de saúde e nos hospitais só se têm férias quando o trabalho fica garantido, como é evidente. E sabendo disso, o que a senhora ministra da Saúde está a dizer é que os médicos são uns malandros e que são capazes de tirarem férias para abandonarem os seus doentes. E é isso que achamos que é inadmissível. Nós não abandonamos os nossos doentes. Quem abandona os nossos doentes é esta ministra da Saúde.
Está preocupado com o levantamento das restrições?
Estou muito otimista em relação à vacinação. Estou extraordinariamente preocupado com a falta de capacidade de organização dos recursos humanos para os próximos anos.
Apareceu em contraciclo com a Ordem a defender a vacinação obrigatória dos profissionais de saúde e de lares. Sente que é necessário?
Contraciclo é a sua palavra.
Não estão em sintonia, habitualmente têm estado.
O bastonário tem tido um papel extraordinário na defesa dos doentes e dos médicos. Em relação à questão da vacinação, o secretário-geral do SIM acha que isso deve acontecer por duas razões, apesar de achar que há muitos poucos médicos – tirando aqueles que anunciaram que não eram vacinados – que não querem ser vacinados, como há muitos poucos portugueses que não querem ser vacinados e muitos poucos jovens que não querem ser vacinados. Não faz sentido nenhum estar a dizer aos seus utentes para o serem e depois dizerem ‘ai o direito, liberdade e garantia de me picarem’. Em segundo lugar, por uma questão de saúde pública, porque, como temos dito, quando não vacinamos um médico e se infetam por isso, teremos dezenas de profissionais que não estão a trabalhar e em isolamento. Não temos problema nenhum se o Governo assim decidir. É uma decisão do Governo e se a Assembleia da República assim o aprovar, os médicos devem aceitar ser vacinados, por uma questão de exemplo.
Em relação à vacinação de crianças, os pais levam dúvidas para consulta?
Sim. É uma área que ainda não está totalmente decidida e clarificada. A mim parece-me à partida que em relação a crianças com fatores de risco, não há dúvidas quanto à vacinação. Crianças muito próximas e conviventes com pessoas com grandes fatores de risco também devem ser vacinadas. Não sendo uma opinião muito objetivada em termos de estudos, penso que o resto das crianças não será para já porque temos outras prioridades e as vacinas são limitadas.
O primeiro-ministro anunciou entretanto um plano de vacinação de 570 mil crianças a partir do fim de semana de 14 de agosto, depois de a tutela ter apontado para o fim de agosto consoante vier a ser a posição da DGS.
Está à frente da matéria, terá havido aí um problema de comunicação entre as centrais de informação que têm gerido esta questão da pandemia.
Foram muito críticos da resposta nos lares. Hoje estão melhor preparados?
É fundamental termos lá médicos. Em relação à pandemia, hoje as pessoas estão vacinadas. Provavelmente necessitarão de um reforço mais cedo do que aquilo que se pensa. Agora em termos de recursos, consideramos a defender a obrigatoriedade de haver médicos nos lares, que muitos lares têm mas lamentamos que a União das Misericórdias Portuguesas não queira ter. Os médicos de família não têm capacidade operacional de acompanhar os doentes da sua lista, quanto mais os doentes de um lar.
Os utentes de um lar também têm direito médico de família.
Podem ter noutro lado. Estando o Governo preocupado com a saúde das pessoas que estão institucionalizadas, estando a União das Misericórdias preocupada, pagando as famílias um determinado valor, bastaria que, da contribuição do Estado, fosse usado um euro por dia por utente para garantirmos médicos nos lares. É uma mistificação pensar que havendo cerca de um milhão de utentes sem médico, havendo cerca de três milhões de portugueses que não têm acesso aos seus médicos de família, os médicos de família ainda conseguem assegurar a resposta nos lares. Já nem falo da pouca vergonha de termos um Estado que conhece lares ilegais e nada faz para ultrapassar esse problema. A Segurança Social tem essa responsabilidade.
Tem conhecimento de casos desses?
Próximos de mim não, mas é público e notório que continuam a existir. Em relação ao caso de Reguengos de Monsaraz, lamentamos que o grande responsável pela morte por omissão daquelas pessoas, que ainda por cima se vacinou indevidamente antes do tempo, continue alegremente a ser o responsável da instituição. Os médicos de família não têm que ir aos lares. Foram aos lares, por acaso têm ido aos lares, mas a solução não é essa. A solução é que os lares devem ter médicos. É completamente diferente ter um médico disponível do que eventualmente, em determinado momento, ir lá um que já trabalha 40 horas.
O que vê de positivo no combate a pandemia?
A capacidade de adaptação, de trabalho, de entrega dos seus profissionais, apesar de más lideranças.
Chegou a defender um inquérito sobre resposta à pandemia. Foi dez anos deputado, acha que a AR já o devia ter desencadeado?
Defendo que quando a situação acalmar é fundamental que exista uma comissão independente que faça essa análise daquilo que aconteceu durante a pandemia: o que correu bem, o que correu mal. Mas independente.
Como a comissão nomeada após os incêndios?
Poderia ser. O Reino Unido vai avançar com um inquérito [o Governo anunciou que será em 2022]. Cá considero que é essencial que aconteça, até por uma razão: Há responsáveis técnicos que abdicaram da sua capacidade técnica, a única coisa que fizeram foi fazer fretes ao Governo. E dou vários exemplos: os responsáveis da Comissão da Saúde Pública. O Dr. Durval. Um conjunto de entidades que nada mais fizeram do que branquear a posição do Governo, em vez de decidirem e de transmitirem a sua opinião meramente técnica. A minha pergunta agora é outra: Quem é que está a aconselhar o Governo a tomar estas decisões? Onde é que anda o Ministério da Saúde nestas últimas medidas que foram tomadas em relação à pandemia? Porque é que não se alterou mais cedo a matriz que não responde ao momento atual, tendo já havido uma proposta da Ordem.
Foi deputado uma década. Sente que o Parlamento esteve envolvido o suficiente na resposta à pandemia?
Estive no Parlamento entre 1987 e 1999. Tive orgulho nesse período em ajudar a solidificar o SNS e conviver com o então ministro Adalberto Paulo Mendo, que foi um dos verdadeiros fundadores do SNS. Ninguém é dono do SNS, o SNS é dos portugueses. Acho que o Parlamento e os senhores deputados precisavam de mais apoio técnico para se envolver mais, até com apoio das universidades, mas isto é um problema que está relacionado com uma tradição portuguesa de governamentalização daquilo que é a atividade do dia-a-dia. Os Governos têm poder demasiado, falta escrutínio, falta visão estratégica.
Não é uma crítica por ser um Governo socialista em funções neste momento?
Não. É uma coisa geral. No Governo de Passos Coelho também fiz greve. A minha atividade partidária neste momento está totalmente congelada.
E está fora de questão voltar à política ativa?
Nos próximos dois anos, o tempo deste novo mandato no Sindicato, sim.
Revê-se no PSD liderado por Rui Rio?
Em relação à política partidária estou muito afastado. Não tenho qualquer cargo político.
Mas acaba por atribuir-se a oposição a figuras ligadas ao PSD, o seu caso, a enfermeira Ana Rita Cavaco.
Era necessário um melhor Governo e uma melhor oposição. Uma melhor oposição faz sempre melhores Governos. É essencial para a democracia. Governos fortes têm oposições fortes.
Esta crise está a ser mais almofada do que a crise da troika, que foi brutal para as famílias. Tem essa perceção?
Há uma grande diferença, quando Sócrates assinou o PEC IV, retira salários aos portugueses, aumenta os impostos e obriga-nos a pagar as dívidas.
E o Governo que se seguiu.
Aí melhorou um bocadinho. Passos Coelho podia ter feito o seguinte: não cumprir aquilo que Sócrates tinha assinado e acontecia o que aconteceu com a Grécia. O problema aqui, e isso preocupa-me, é que os países que estavam atrás de Portugal recuperaram mais e nós estamos à espera de estender a mão, dos subsídios, sempre com falta de transparência. Não compreendo como é que existem tantos ajustes diretos. Lembro-me, por exemplo, de João Cordeiro e do contrato para máscaras de oito milhões de euros. Não é admissível existirem tantos ajustes direitos. Na altura das guerras é quando se rouba mais.
Em 2009 estava a concorrer à Câmara da Amadora. E é a candidatura mais mediática das próximas eleições. Como vê a candidata Suzana Garcia, apoiada pelo seu partido?
Não tenho seguido sinceramente.
Mas conhece a Amadora…
Tenho a melhor das impressões da presidente da Câmara, Carla Tavares, uma senhora. Em relação à questão político-partidária, muito sinceramente e não é para fugir à questão, neste momento não é a minha vocação. Trabalho em Camarate, respeito muito o poder autárquico em Camarate. Vivi muitos anos em Oeiras, respeito o poder autárquico em Oeiras. Fui candidato à Amadora, na minha outra encarnação, respeito as pessoas que lá estão. Claro que vou votar, mas não faço parte de nenhuma comissão de honra, não subscrevo nenhuma candidatura independente porque o meu foco é o Sindicato Independente dos Médicos.
Mas ainda é do PSD?
Sou do PSD, tenho as quotas em dia, mas não estou a perspetivar qualquer tipo de carreira política. Acho que as pessoas têm direito a fazer as suas opções, mas quando estão nas instituições, tal como quando estive na Associação de Estudantes, na Associação de Pais e tal como estou no Sindicato, têm de estar à frente da política partidária. Os partidos já têm demasiado poder no nosso país.
O que prescrevia ao Governo para a próxima reunião do Infarmed?
A primeira coisa era a possibilidade, por exemplo, do nosso bastonário estar presente nessas reuniões. Não compreendo como não está. Prescreveria a capacidade e o apelo para que os técnicos não tentassem politizar as suas intervenções e que fossem verdadeiramente técnicos e que opção política fosse baseada em critérios técnicos.
Passado um ano e meio, como é que olha para esta doença?
Temos ainda muitos medos. Foi um grande choque.
O que o impressiona mais?
O efeito que esta doença tem em jovens. Além da desgraça que foi perdemos avós, perdermos pais, o efeito que tem em muitas pessoas com quarenta e poucos anos. Tenho dois doentes, pessoas muito ativas, que andam agora com oxigénio portátil no dia-a-dia.
E socialmente, como vê a nossa resposta coletiva?
Acho que há uma grande vontade de voltarmos ao que era. Os portugueses são pessoas afáveis, gostam de conviver, têm laços familiares muito importantes. Muitas vezes diz-se que os idosos são abandonados e é verdade, mas a esmagadora maioria não é. O nosso lado emocional sofreu e está a sofrer. Tenho a esperança que com a vacinação e com a prudência de evitar estarmos totalmente à vontadinha, não teremos o milagre português, mas teremos o milagre dos portugueses, no sentido de reativarem as suas relações emocionais, pessoais, de emprego e de terem vontade de contribuir para a comunidade e de contribuir para que o país vá para a frente. Temos esse problema: apesar dos anúncios de crescimento do PIB, a verdade é que no ano passado tivemos uma quebra colossal do PIB e todo o lado ligado ao turismo vai ser muito difícil de recuperar. Vamos trabalhar para isso.