“A direção é mais importante do que a velocidade”.
Edson Marques
O automóvel oficial que transporta o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, circula na autoestrada a 200 quilómetros por hora. O ministro do Ambiente, Matos Fernandes, não quer ficar atrás e roda à mesma velocidade.
António Costa faz Porto-Lisboa em duas horas. Quanto à velocidade… bem… é só fazer as contas.
A velocidade na estrada com que circulam os nossos governantes é inversamente proporcional, por exemplo, à das conclusões das dezenas de inquéritos que os diferentes responsáveis governamentais vão pedindo, para “encanar a perna à rã”, que significa, para quem não sabe, empatar, demorar, não resolver.
A velocidade significa também o sentimento de poder e de impunidade. Sou ministro. Faço o que quero e como quero.
E acrescenta-se agora. Se acontecer um acidente, ou for apanhado, descarto responsabilidades ou culpo o motorista.
Simples, não é?
Não, não é! Ou, pelo menos, não deveria ser.
Em que condições podem os nossos ministros andar acima da velocidade legal?
O Código da Estrada prevê essa situação quando os membros do Governo estiverem “em missão de serviço urgente de serviço público”, acrescentando que devem também “assinalar adequadamente a sua marcha”.
Nada disto se verificou nos casos dos dois ministros.
E o que vai acontecer?
Nada! Ou então, mais um inquérito.
Dizem alguns que se trata de um caso de lana caprina, que já muitos de nós andámos também em velocidade proibida. Pois, mas quando somos apanhados, estamos sujeitos a multas, apreensões de carta e, em caso de acidente, consequências bem mais graves.
Entretanto, também com alguma velocidade, a maioria dos deputados rejeitou a revogação do artigo 6 da pomposamente denominada Carta Portuguesa de Direitos Humanos na Era Digital, o tal que prevê, contrariamente à versão europeia, um controlo (para não lhe chamar outra coisa) daquilo que considera “desinformação”, incluindo nesta definição o que “seja suscetível de causar um prejuízo público, nomeadamente ameaça aos processos políticos democráticos, aos processos de elaboração de políticas públicas e a bens públicos”.
Socialistas, à exceção de quatro deputados, bloquistas e o PAN rejeitaram a revogação, e o artigo lá vai permanecer, para vergonha da nossa democracia.
Mais um caso em que a velocidade é inimiga da sensatez.
Jornalista