Um cometa chamado Absinto


Há sempre, em cada um desses regressos, uma melancólica nostalgia. Sinto falta, sobretudo da adrenalina da escrita diária, dos horários de fecho, do movimento permanente de uma cidade para a outra.


Há três anos olhei o Sado do mesmo lugar de onde o olho hoje. Regressara de Moscovo e do Campeonato do Mundo de 2018, como agora acabo de regressar de Londres e do Campeonato da Europa de 2021 que deveria ter sido em 2020. Há sempre, em cada um desses regressos, uma melancólica nostalgia. Sinto falta, sobretudo da adrenalina da escrita diária, dos horários de fecho, do movimento permanente de uma cidade para a outra.

Bem sei que tudo recomeçará para o ano, já não em junho e julho, mas sim em novembro e dezembro, no Mundial do Qatar. Entre as noites que atravessarei, daqui até lá, todas elas terão cometas. E sobretudo aquele cometa do Apocalipse que, ao ouvir a trombeta do terceiro anjo, se precipitou no céu como uma enorme estrela, ardendo em chamas como uma tocha sobre um terço dos rios e das fontes de água de toda a Terra. Esse cometa que se transformou em estrela levou o nome de Absinto, que é também o nome da bebida das fadas verdes.

Há três anos, eu olhava o Sado e uma tocha de calor fervente ardia sobre ele e fazia dos arrozais verde-esmeralda a entrada para o Inferno. As portas abertas às escâncaras, uma sensação estranha de não saber o que fazer ao tempo que, de repente, ficou solto nas folhas do calendário. Moscovo ficara longe e a Estrela do Absinto também se acendera como uma tocha sobre o seu rio e as suas fontes.

O jogo derradeiro chegara ao fim e caminhei quilómetros ao longo do rio vendo-o arder, queimando-me a pele, afogueando-me os olhos, fazendo horas para partir na manhã seguinte e regressar à varanda que nunca passará de uma metáfora, a metáfora do regresso que antecipa nova partida. Uma bola de fogo navega ao sabor da corrente com aquela suprema elegância de que falava Nietzche, a suprema elegância de nunca ter existido. E, no entanto, eu vejo-a. E é ao vê-la que fico com a certeza que descobrirei o lugar que foste ocupar no céu…


Um cometa chamado Absinto


Há sempre, em cada um desses regressos, uma melancólica nostalgia. Sinto falta, sobretudo da adrenalina da escrita diária, dos horários de fecho, do movimento permanente de uma cidade para a outra.


Há três anos olhei o Sado do mesmo lugar de onde o olho hoje. Regressara de Moscovo e do Campeonato do Mundo de 2018, como agora acabo de regressar de Londres e do Campeonato da Europa de 2021 que deveria ter sido em 2020. Há sempre, em cada um desses regressos, uma melancólica nostalgia. Sinto falta, sobretudo da adrenalina da escrita diária, dos horários de fecho, do movimento permanente de uma cidade para a outra.

Bem sei que tudo recomeçará para o ano, já não em junho e julho, mas sim em novembro e dezembro, no Mundial do Qatar. Entre as noites que atravessarei, daqui até lá, todas elas terão cometas. E sobretudo aquele cometa do Apocalipse que, ao ouvir a trombeta do terceiro anjo, se precipitou no céu como uma enorme estrela, ardendo em chamas como uma tocha sobre um terço dos rios e das fontes de água de toda a Terra. Esse cometa que se transformou em estrela levou o nome de Absinto, que é também o nome da bebida das fadas verdes.

Há três anos, eu olhava o Sado e uma tocha de calor fervente ardia sobre ele e fazia dos arrozais verde-esmeralda a entrada para o Inferno. As portas abertas às escâncaras, uma sensação estranha de não saber o que fazer ao tempo que, de repente, ficou solto nas folhas do calendário. Moscovo ficara longe e a Estrela do Absinto também se acendera como uma tocha sobre o seu rio e as suas fontes.

O jogo derradeiro chegara ao fim e caminhei quilómetros ao longo do rio vendo-o arder, queimando-me a pele, afogueando-me os olhos, fazendo horas para partir na manhã seguinte e regressar à varanda que nunca passará de uma metáfora, a metáfora do regresso que antecipa nova partida. Uma bola de fogo navega ao sabor da corrente com aquela suprema elegância de que falava Nietzche, a suprema elegância de nunca ter existido. E, no entanto, eu vejo-a. E é ao vê-la que fico com a certeza que descobrirei o lugar que foste ocupar no céu…