“Não podemos resolver os nossos problemas com o mesmo pensamento com que
os criámos” (Albert Einstein).
Ciência, Engenharia e Tecnologia têm um enorme impacto no estilo e qualidade de vida e estão em constante evolução. A educação tem de acompanhar este progresso e tornar a investigação científica e tecnológica fértil. A educação ensina a Ciência, Engenharia e Tecnologia que existe, e prepara para a que ainda não existe.
A inovação e a criatividade acontecem quando se encorajam perguntas, se interage, se é exposto a problemas e se muda a forma de os resolver. Pode ser deixar os problemas por resolver redefinindo-os, ou deitar fora suposições simplificando-os, ou cruzá-los com outros encarando a complexidade. A filósofa Simone Weil, que tinha um irmão matemático, escreveu que a escuridão no percurso de se resolver sozinho um problema de geometria traz “mais luz”, uma dimensão nova.
O sucesso da educação mede-se tanto pelo talento que gera como pelo talento que não desperdiça. O Professor Emérito Michael Athans do MIT ao visitar o Instituto Superior Técnico (IST) em 2001, constatou que os estudantes do IST têm tanta capacidade intelectual e de trabalho como os do MIT. Porém, demonstravam menos capacidade de compreender e aplicar conceitos e estudar de forma independente. Porquê? Na sua análise, porque em 5 anos eram expostos a duas vezes mais disciplinas que os estudantes do MIT em 4 anos, e havia a prática sistemática de aulas de problemas resolvidos pelo professor. “Isso (…) reforça um mecanismo inferior de aprendizagem e é representativo da mentalidade de dar de ‘comer à colher’.” Imaginem aprender a tocar piano só a ver tocar piano. Quantos pianistas se perderiam? Até hoje, neste aspeto o ensino pouco mudou.
O Técnico foi fundado no contexto dos desafios das revoluções industriais ligadas ao Carvão e à Eletricidade. Incorporou depois as mudanças nas Comunicações e da Revolução Digital. Agora, o ensino no Técnico tem desafios diferentes, nomeadamente
i) estamos a viver a 4ª revolução Industrial, onde sistemas físicos, biológicos e digitais se misturam em entidades ciber-físico-biológicas, mudando a definição do que é ser humano;
ii) os recursos e conhecimentos disponíveis não estão igualmente distribuídos por todos, o que foi agravado pela pandemia, e sofre dos efeitos da automação;
iii) o conhecimento e a Tecnologia são gerados de forma acelerada como nunca.
Estes desafios ligam o Ensino da Ciência e da Engenharia a fronteiras da Ética, do Direito e da Economia. Exigem um ensino eficiente, modular e diverso, e uma aprendizagem para a adaptação e a agilidade, a iniciativa e a inovação. Num equilíbrio difícil, sem abalar os pilares da sólida formação em ciências fundamentais, Matemática, Física, Química, Biologia, como se pode inspirar para a inovação da Engenharia do que (ainda) não existe, e rapidamente se (des)materializa? É a esta pergunta que o Novo Modelo de Ensino do Técnico pretende responder.
O Novo Modelo de Ensino no Técnico: uma nova mentalidade
O decreto-lei 65/2018 alterou o regime jurídico dos graus e limitou a existência de Mestrados Integrados aos fixados por diretiva europeia para acesso ao exercício de certas atividades profissionais.
No Técnico a aplicação desta lei foi mais profunda que a separação dos Mestrados Integrados em 2 ciclos, pelo picotado. Da análise feita, incluindo a de práticas internacionais, resultou em resumo o seguinte:
i) no primeiro ciclo introduziram-se dimensões novas através de unidades curriculares de Humanidades, Artes e Ciências Sociais – em colaboração com outras escolas da Universidade de Lisboa – e conjuntos opcionais de unidades curriculares num tema específico de inspiração motivacional;
ii) no segundo ciclo, ao invés, introduziram-se conjuntos de unidades curriculares para formação complementar à formação científica dominante (Minors) que o Técnico pode vir a oferecer noutros contextos;
iii) em ambos os ciclos criou-se uma formação em Projeto Integrador para aprendizagens através de projeto interdisciplinar, integrador de competências adquiridas em várias disciplinas, e em articulação com empresas ou unidades de investigação;
iv) reduziu-se a carga horária letiva das disciplinas, no princípio “menos vale mais”, valorizando a autonomia e a responsabilização dos estudantes;
v) introduziu-se a aprendizagem ativa baseada em casos de estudo e o ensino de proximidade, com múltiplos atores, como investigadores e alunos graduados;
vi) alargou-se a componente opcional, adequando a formação aos interesses e capacidades individuais.
Em tempo de Elon Musk e da SpaceX, o Técnico oferece Minors em Ciências e Tecnologias do Espaço ou Ambientes Extremos. E para os/as que se interrogam com os discursos de Greta Thunberg, o Técnico oferece formações como Big Picture Thinking for Sustainability, Engenharia Humanitária, Economia Circular.
É isto o Novo Modelo de Ensino do Técnico a lançar no próximo ano letivo. Parafraseando Alberto Caeiro, baseia-se em aprender por “um estudo profundo, uma aprendizagem de desaprender”. É o regresso à scholé da antiguidade grega: o tempo para si mesmo e a sua formação.
Para o sucesso do Modelo é imprescindível a mudança de mentalidade e práticas, de Professores e Estudantes. Outra condição é a monitorização, o sistema interno de avaliação de qualidade do IST e a agilidade em melhorar.
Professora Catedrática e Presidente do Conselho Pedagógico do IST