Marcelo passeia popularidade em Luanda

Marcelo passeia popularidade em Luanda


Presidente português promove ‘banho de multidão’ deslocando-se a pé entre o centro de Luanda e o Palácio da Cidade Alta, a residência oficial do seu homólogo angolano.


por Ana Maria Simões

«Ich bin ein Berliner», disse John F. Kennedy, em Berlim, em junho de 1963, num contexto geopolítico muito próprio. E não foi por acaso, como todos sabemos. Como também agora sabemos que o Presidente norte-americano antecipava a essência de um outro Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa.

No caso, em Luanda, em julho de 2021. E, na dúvida, a caminhada matinal de Marcelo desde o hotel onde está hospedado na capital angolana até ao Palácio da Colina de São José, também conhecido por Palácio da Cidade Alta, residência oficial do Presidente da República de Angola, João Lourenço, com quem o Presidente português manteve um encontro bilateral na manhã de sexta-feira, 16 de julho, e que arrastou uma pequena multidão num tumulto de selfies e caos no trânsito – para além do que já é habitual na capital angolana.

As redes sociais angolanas encheram de imagens partilhas com comentários de genuína simpatia. Definitivamente, em Luanda, o Presidente português é ‘kaluanda’, por vontade própria e dos que por lá vivem. E Marcelo sabe como ninguém encenar pequenos ritos que até parecem espontâneos, a começar pelo ato de sair do hotel para ir engraxar os sapatos logo em frente e conversar com os jovens que pululam a cidade e se confrontam na proximidade do Presidente português com a distância do Presidente angolano.

Aliás, no momento em que escrevemos este artigo, Marcelo está nas nossas costas, conversando com o primeiro-ministro moçambicano e logo de seguida com a embaixadora dos Estados Unidos em Luanda, Nina Maria Fite, que faz questão de tirar uma selfie com o Presidente português. E poderíamos continuar, são inúmeras as personalidades que cumprimentam com indisfarçável gosto o Presidente português.

Mas temos um texto para escrever a que não será alheia a política doméstica, porque o Presidente da República e o primeiro-ministro estão juntos em Luanda para a XIII Cimeira de chefes de Estado e de Governo da CPLP, que lhes ocupa todo o dia de sábado, 17 de junho, e que começou, na sexta-feira, 16 de julho, com um jantar de celebração dos 25 anos de Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP), que assinala também a passagem da presidência pro tempore de Cabo Verde para Angola.

«Vamos celebrar um quarto de século», disse o Marcelo, recordando aos jornalistas que na altura era líder do PSD – estamos a falar de 1996 – e que ao assinalar-se um quarto de século é o momento certo para se fazer uma cimeira «virada para o futuro», onde se aposta na mobilidade, uma ideia lançada pelo primeiro-ministro, António Costa, em Brasília, em 2015, a que o Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, e o seu Governo deram continuidade, ou, como disse Marcelo, «Portugal foi puxando, Cabo Verde foi puxando». E Angola?, quisemos saber. «O acordo de mobilidade permite que os Estados possam ir mais longe ou menos longe», disse-nos Marcelo, para acrescentar que «há países que demoraram mais tempo», mas, no caso de Angola, «vão ser dados passos positivos» porque a mobilidade é uma aposta importante, nomeadamente, para a juventude, assegurou o Presidente português, o que não ilude, ainda assim, as dificuldades que existem – é que Angola não é Cabo Verde ou que a Guiné-Bissau não é São Tomé e Príncipe.

O primeiro-ministro, António Costa, em entrevista ao Jornal de Angola, dava sobre o assunto uma opinião prudente, falando de «um quadro concreto» que tem de ser «transposto para as legislações nacionais, eventualmente a ritmos diferentes, resultado de realidades distintas e de compromissos regionais assumidos».