Plumitivos


Portugal precisa mais do que nunca de uma sociedade civil forte para construir uma dinâmica construtiva de recuperação e transformação.


É grande o número de plumitivos pátrios, alguns deles de grande cultura e capacidade de expressão escrita, que por estes dias exalam nos seus textos sinais de um profundo e preocupante negativismo, que apouca os próprios e os faz olhar com estranha melancolia, alternada com ríspida arrogância, tudo o que vai acontecendo por Portugal, da política à economia, do desporto aos eventos sociais, da cultura às ocorrências do quotidiano.

O confinamento ao solo nacional reduziu-lhes os circuitos internacionais, as conferências, os encontros e os momentos de “glamour”, a partir dos quais podiam sempre sobrevoar o país e antever aqui e ali motivos de orgulho. Aplanados pela pandemia, agora olham à sua volta e sentem o desconforto de não serem destaque como estavam habituados a ser. De já não serem vistos e lidos com a mesma deferência por quem agora faz com eles o percurso lado a lado, também a lutar pela vida e para sair bem dos tempos desafiantes que atravessamos. 

Os plumitivos podiam ser, e alguns são, mais empáticos, mas abundam os que se tornaram simplesmente enfáticos no enfado. Perdidos no verbo. Críticos em relação a quem exerce mandatos, nas autarquias, no país e até mesmo na Europa, órfãos de uma alternativa que proclamam necessária, mas para a qual não contribuem com nenhuma ideia ou visão agregadora ou mobilizadora, que não seja um fluído bota abaixo que as forças populistas amealham sem rancor. 

Com uma oposição sem ideias e fragmentada, Portugal precisa mais do que nunca de uma sociedade civil forte para construir uma dinâmica construtiva de recuperação e transformação. A opinião publicada, nas redes sociais, mas também nos órgãos de comunicação social, continua a ser fundamental para inspirar a reflexão, induzir a ação, oxigenar o tecido social em mudança. 

Precisamos da palavra lúcida de pessoas com mundo, sentido de pertença a uma comunidade, vontade de serem úteis e de inspirarem com os seus textos, discursos e partilhas, quem tem os mandatos para executar e quem dispõe da capacidade democrática de escolher.

Apreciações de âmbito geral têm sempre um enorme risco de injustiça relativa. Acredito que ainda são mais, um pouco por todo o país, os plumitivos positivos, ativos na defesa de ideias e argumentos para a formação de um caminho de recuperação e modernização, ainda que cada um com a sua natural perspetiva analítica, crítica e doutrinária, do que aqueles que se deixaram afundar num intenso descrer de tudo e de todos.

Mas é para estes, os que se destilam cinzentos em frases murchas, ainda que destapando aqui e ali a beleza da sua prosa consagrada e da sua sabedoria acumulada, que este texto se destina. Há muitas formas de olhar o que nos rodeia e todas legítimas. O direito de cada um a contagiar de desistência de quem os segue é pleno. O poder de ajudar a reforçar a esperança e a tonificar as vontades também. Descrer não é o melhor refúgio para trabalhar por um quotidiano melhor, seja para quem assim se acoita, seja para quem tudo faz para não soçobrar. Mas a escolha é de cada um. E a atitude também. 

Eurodeputado do PS

Plumitivos


Portugal precisa mais do que nunca de uma sociedade civil forte para construir uma dinâmica construtiva de recuperação e transformação.


É grande o número de plumitivos pátrios, alguns deles de grande cultura e capacidade de expressão escrita, que por estes dias exalam nos seus textos sinais de um profundo e preocupante negativismo, que apouca os próprios e os faz olhar com estranha melancolia, alternada com ríspida arrogância, tudo o que vai acontecendo por Portugal, da política à economia, do desporto aos eventos sociais, da cultura às ocorrências do quotidiano.

O confinamento ao solo nacional reduziu-lhes os circuitos internacionais, as conferências, os encontros e os momentos de “glamour”, a partir dos quais podiam sempre sobrevoar o país e antever aqui e ali motivos de orgulho. Aplanados pela pandemia, agora olham à sua volta e sentem o desconforto de não serem destaque como estavam habituados a ser. De já não serem vistos e lidos com a mesma deferência por quem agora faz com eles o percurso lado a lado, também a lutar pela vida e para sair bem dos tempos desafiantes que atravessamos. 

Os plumitivos podiam ser, e alguns são, mais empáticos, mas abundam os que se tornaram simplesmente enfáticos no enfado. Perdidos no verbo. Críticos em relação a quem exerce mandatos, nas autarquias, no país e até mesmo na Europa, órfãos de uma alternativa que proclamam necessária, mas para a qual não contribuem com nenhuma ideia ou visão agregadora ou mobilizadora, que não seja um fluído bota abaixo que as forças populistas amealham sem rancor. 

Com uma oposição sem ideias e fragmentada, Portugal precisa mais do que nunca de uma sociedade civil forte para construir uma dinâmica construtiva de recuperação e transformação. A opinião publicada, nas redes sociais, mas também nos órgãos de comunicação social, continua a ser fundamental para inspirar a reflexão, induzir a ação, oxigenar o tecido social em mudança. 

Precisamos da palavra lúcida de pessoas com mundo, sentido de pertença a uma comunidade, vontade de serem úteis e de inspirarem com os seus textos, discursos e partilhas, quem tem os mandatos para executar e quem dispõe da capacidade democrática de escolher.

Apreciações de âmbito geral têm sempre um enorme risco de injustiça relativa. Acredito que ainda são mais, um pouco por todo o país, os plumitivos positivos, ativos na defesa de ideias e argumentos para a formação de um caminho de recuperação e modernização, ainda que cada um com a sua natural perspetiva analítica, crítica e doutrinária, do que aqueles que se deixaram afundar num intenso descrer de tudo e de todos.

Mas é para estes, os que se destilam cinzentos em frases murchas, ainda que destapando aqui e ali a beleza da sua prosa consagrada e da sua sabedoria acumulada, que este texto se destina. Há muitas formas de olhar o que nos rodeia e todas legítimas. O direito de cada um a contagiar de desistência de quem os segue é pleno. O poder de ajudar a reforçar a esperança e a tonificar as vontades também. Descrer não é o melhor refúgio para trabalhar por um quotidiano melhor, seja para quem assim se acoita, seja para quem tudo faz para não soçobrar. Mas a escolha é de cada um. E a atitude também. 

Eurodeputado do PS