Não perder o entusiasmo mesmo quando se perdem as ilusões


Não haverá num futuro próximo quem não saiba onde e como atravessou este “Mundo em suspenso”, que vivemos, desde que um vírus virou as nossas vidas e travou o planeta.


A pandemia provocou muitas perdas quantificáveis, outras expectáveis e ainda há uma perda intrínseca a todos: O entusiasmo. Todos, qualquer cidadão do mundo, seja ele europeísta ou não, português também ou nem por isso. Não há continente entusiasmado nem país motivado nesta fase.

Este caminhar para dois anos de desinvestimento na liberdade de cada um, provocada pela COVID-19, expôs as falhas e as fissuras todas da nossa economia e também da de todos os outros.

Se nos Estados Unidos da América uma em cada três empresas fechou, em Portugal vivemos em Março de 2021 o período dos últimos muitos anos com maior registo de desempregados inscritos: 25,9%. Para darmos alma a estes números, nessa altura havia em Portugal perto de 7.000 casais com ambos os elementos inscritos nos centros de emprego.

Este período não teve tudo o que há de negativo. Depende do ponto de vista. Se olharmos o mundo só em termos económicos ou termos políticos, sim, arriscamo-nos a não ver e compreender as transformações evolutivas que hoje assistimos desde a tecnologia à ciência.

Nem precisamos de “ver muito bem”: Os contactos presenciais foram substituídos em grande parte pelos contactos online e não meramente na comunicação, o setor financeiro avançou no comércio digital e a Telemedicina e o chamado “eHealth” é hoje uma realidade premente não só nos PRR’s da vida, mas, sobretudo, no dia a dia da verdade de cada resposta estrutural que a Saúde e o SNS querem pensar. Não negaremos que nos digam que se avançou, na digitalização, num ano mais do que em 5 ou 10 que vivemos antes.

Vivemos também o aumento global do espírito empreendedor, talvez aqui com mais entusiasmo do que aquele com que a generalidade de nós vive, seja ele voluntário ou até involuntário.

Seja questões de sorte (que deu muito trabalho a ter) de momento, como o caso de Sergio Stevanato, um italiano que lucrou mais de 2 milhões de euros por produzir embalagens médicas. Isso mesmo, “embalagens”, que são precisas para… as vacinas, que hoje felizmente o mundo recebe e administra a toda a população para conferir capacidade imunológica, estão alojadas em pequenos frascos de vidro chamados “Ampolas”, e este italiano de quase 80 anos viu, a título de exemplo, o seu reenquadramento de negócio ver a Gates Foundation comprar 100 milhões de ampolas para servir de apoio a 10 diferentes vacinas em trabalho conjunto com a OMS.

Uns mais mediáticos: O casal Sahin, radicados na Alemanha, mas de origem turca, Ugur e a esposa Ozlem, são os fundadores da empresa biotecnológica BioNTech. Todos conhecemos, correcto? Aqueles que, fruto do seu estudo e trabalho, desenvolveram uma vacina para a COVID-19, em parceria com a Pfizer, que rendeu 4 mil milhões de euros de lucro, também através das suas ações que mais que duplicaram desde março de 2020.

Sim, só este ano, o mundo viu surgirem perto de 500 novos bilionários. Desses, curiosidade apenas, mais de 40% são provenientes da China e cerca de 20% são norte-americanos. Diversos, desde o meio das criptomoedas aos que trabalham por soluções novas para cuidados de saúde relacionados com a COVID-19, há várias áreas que fizeram contas bancárias crescer muito. Casos óbvios, como os administradores da Moderna, ou casos mais atípicos como Jared Isaacman que com 38 anos (fundou a empresa aos 19 anos) viu a sua empresa dedicada ao processamento de pagamentos, a Shift4, ver a sua fortuna avaliada em 2,3 mil milhões de euros. Claro, a digitalização e a “nova globalização” a dar entusiasmo em tempos de pouca ilusão.

São vários casos de quem se reinventou e captou esperança para as suas vidas neste ano e meio de pandemia. Podemos perder a ilusão de que não iremos viver tempos difíceis, globalmente, mas que saibamos manter o entusiasmo de ver que o mundo continua a ter caminho de oportunidades tão grandes quanto a entrega, criatividade e esforço que cada um empreenda.

Se calhar o mundo mudou ao ponto de encostar a um canto, difícil socioeconomicamente, os que se encostaram numa área de conforto de pensar que tudo está dado como adquirido até terem idade de descansar à sombra de uma reforma (haverá?).

Para esses, os seguros (estão?) das áreas de conforto eternas que idealizaram, que sirvam também os exemplos mundiais de novos bilionários em como sair da área de conforto pode trazer entusiasmo e nova ilusão positiva.

Mas, para os patrióticos da negação da esperança, que também existe, aqueles que “isso é lá fora, cá não há”, que vejam e leiam sobre aqueles, como nós, portugueses que numa sala criaram em tempo recorde uma zaragatoa que serviu para testagem massiva não só no Algarve mas em todo o país ou, ainda, os inventores nacionais (a aplicação tinha méritos, politicamente mal aproveitados e subjugados a insignificância por arrogância partidária) de aplicações como a Stay Away Covid que são casos que nos devem fazer ter força para enfrentar o caminho de reencontrar a esperança que a nova normalidade exige.

Não sejamos iludidos do lado negativo.

Há matérias muito difíceis de gerir que ficam para lá de qualquer espírito empreendedor. Que ficam mesmo à necessidade de apoio do Estado e em que não chega, nem toda a mentalidade criativa e a livre iniciativa privada tem essa responsabilidade ou competição, exemplos positivos.

Há muita necessidade de apoio na ação social, em todos os nossos 308 municípios, sem exceção, há não há Lisboa e os outros: Há todos. Há famílias que hoje fazem muitas contas de subtrair para poderem acrescentar um pão na mesa. Há empresas pequenas e familiares abertas há décadas e séculos que em poucos meses fecharam e deixaram a zeros as contas que sustentavam uma e outra casa. Que ninguém seja hipócrita nessa matéria de justiça ou que seja ideologicamente cego para afirmar que esses, também, têm condições de se reinventar e criar um novo rumo neste momento. Não têm.

Basta ver que até a Alemanha, o país das contas certas que parte portuguesa despreza, mas a sua totalidade devia usar como exemplo, economicamente, há mais de dez anos que não tinha um défice acima dos 3% (estabelecido pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento da União Europeia) e, devido ao apoio às Empresas e às Famílias, viu Angela Merkel gastar mais 139,6 mil milhões de euros do que as suas receitas em 2020, ficando com um défice de 4,2%.

Quero com isto afirmar que, se até “na terra das contas certas” a aposta foram contas menos certas para serem certos com as pessoas e com as empresas, que também cá, em Portugal, temos de olhar para o que ficará. O empreendedorismo só funcionará se todos estiverem na casa de partida, sem dúvidas, e para isso é preciso que nesta fase mundial atípica o Estado seja o garante dos direitos que deve ser.

A economia não poderá olhar para números, teremos de ter um Estado com entusiasmo a apoiar efetivamente as famílias e as empresas. E, acredita quem tem esperança, haverá empreendedorismo inclusivo também em Portugal a florescer e a abrir caminho para uma nova realidade económica.

A pandemia também realçou a importância das infraestruturas. O investimento público não pode mais ser usado para números bonitos no excel de prestação de contas, pela ausência de investimento. Não só pelos casos de incapacitação de manutenção de negócios (a ausência total, neste caso, de cuidados infantis) para quem ficou a trabalhar desde casa, mas sobretudo porque as infraestruturas públicas carecem de investimento. Da educação à saúde, as infraestruturas são um dos pilares para a construção de um novo negócio. Têm de existir. Só com esta ponte, este compromisso entre o Estado português e os portugueses, será mais possível reinventarmos os nossos negócios, criar novos negócios, expandir com sucesso novas start-ups, não ficarmos apenas pelo método do online para manter clientes, mas olhar para o futuro com uma janela para angariar novos clientes e parceiros.

A ilusão deve ser essa, mesmo tendo perdido tantas outras. Devemos criar e construir algo melhor. O entusiasmo, esse, é normal que agora ainda não exista no tamanho que precisamos, mas só com a vontade de todos é que poderemos criar um caminho para renascer o rumo empreendedor que nos tornará competitivos e faça permitir sair da pandemia mais fortes do que queríamos ser antes. 

 


Não perder o entusiasmo mesmo quando se perdem as ilusões


Não haverá num futuro próximo quem não saiba onde e como atravessou este “Mundo em suspenso”, que vivemos, desde que um vírus virou as nossas vidas e travou o planeta.


A pandemia provocou muitas perdas quantificáveis, outras expectáveis e ainda há uma perda intrínseca a todos: O entusiasmo. Todos, qualquer cidadão do mundo, seja ele europeísta ou não, português também ou nem por isso. Não há continente entusiasmado nem país motivado nesta fase.

Este caminhar para dois anos de desinvestimento na liberdade de cada um, provocada pela COVID-19, expôs as falhas e as fissuras todas da nossa economia e também da de todos os outros.

Se nos Estados Unidos da América uma em cada três empresas fechou, em Portugal vivemos em Março de 2021 o período dos últimos muitos anos com maior registo de desempregados inscritos: 25,9%. Para darmos alma a estes números, nessa altura havia em Portugal perto de 7.000 casais com ambos os elementos inscritos nos centros de emprego.

Este período não teve tudo o que há de negativo. Depende do ponto de vista. Se olharmos o mundo só em termos económicos ou termos políticos, sim, arriscamo-nos a não ver e compreender as transformações evolutivas que hoje assistimos desde a tecnologia à ciência.

Nem precisamos de “ver muito bem”: Os contactos presenciais foram substituídos em grande parte pelos contactos online e não meramente na comunicação, o setor financeiro avançou no comércio digital e a Telemedicina e o chamado “eHealth” é hoje uma realidade premente não só nos PRR’s da vida, mas, sobretudo, no dia a dia da verdade de cada resposta estrutural que a Saúde e o SNS querem pensar. Não negaremos que nos digam que se avançou, na digitalização, num ano mais do que em 5 ou 10 que vivemos antes.

Vivemos também o aumento global do espírito empreendedor, talvez aqui com mais entusiasmo do que aquele com que a generalidade de nós vive, seja ele voluntário ou até involuntário.

Seja questões de sorte (que deu muito trabalho a ter) de momento, como o caso de Sergio Stevanato, um italiano que lucrou mais de 2 milhões de euros por produzir embalagens médicas. Isso mesmo, “embalagens”, que são precisas para… as vacinas, que hoje felizmente o mundo recebe e administra a toda a população para conferir capacidade imunológica, estão alojadas em pequenos frascos de vidro chamados “Ampolas”, e este italiano de quase 80 anos viu, a título de exemplo, o seu reenquadramento de negócio ver a Gates Foundation comprar 100 milhões de ampolas para servir de apoio a 10 diferentes vacinas em trabalho conjunto com a OMS.

Uns mais mediáticos: O casal Sahin, radicados na Alemanha, mas de origem turca, Ugur e a esposa Ozlem, são os fundadores da empresa biotecnológica BioNTech. Todos conhecemos, correcto? Aqueles que, fruto do seu estudo e trabalho, desenvolveram uma vacina para a COVID-19, em parceria com a Pfizer, que rendeu 4 mil milhões de euros de lucro, também através das suas ações que mais que duplicaram desde março de 2020.

Sim, só este ano, o mundo viu surgirem perto de 500 novos bilionários. Desses, curiosidade apenas, mais de 40% são provenientes da China e cerca de 20% são norte-americanos. Diversos, desde o meio das criptomoedas aos que trabalham por soluções novas para cuidados de saúde relacionados com a COVID-19, há várias áreas que fizeram contas bancárias crescer muito. Casos óbvios, como os administradores da Moderna, ou casos mais atípicos como Jared Isaacman que com 38 anos (fundou a empresa aos 19 anos) viu a sua empresa dedicada ao processamento de pagamentos, a Shift4, ver a sua fortuna avaliada em 2,3 mil milhões de euros. Claro, a digitalização e a “nova globalização” a dar entusiasmo em tempos de pouca ilusão.

São vários casos de quem se reinventou e captou esperança para as suas vidas neste ano e meio de pandemia. Podemos perder a ilusão de que não iremos viver tempos difíceis, globalmente, mas que saibamos manter o entusiasmo de ver que o mundo continua a ter caminho de oportunidades tão grandes quanto a entrega, criatividade e esforço que cada um empreenda.

Se calhar o mundo mudou ao ponto de encostar a um canto, difícil socioeconomicamente, os que se encostaram numa área de conforto de pensar que tudo está dado como adquirido até terem idade de descansar à sombra de uma reforma (haverá?).

Para esses, os seguros (estão?) das áreas de conforto eternas que idealizaram, que sirvam também os exemplos mundiais de novos bilionários em como sair da área de conforto pode trazer entusiasmo e nova ilusão positiva.

Mas, para os patrióticos da negação da esperança, que também existe, aqueles que “isso é lá fora, cá não há”, que vejam e leiam sobre aqueles, como nós, portugueses que numa sala criaram em tempo recorde uma zaragatoa que serviu para testagem massiva não só no Algarve mas em todo o país ou, ainda, os inventores nacionais (a aplicação tinha méritos, politicamente mal aproveitados e subjugados a insignificância por arrogância partidária) de aplicações como a Stay Away Covid que são casos que nos devem fazer ter força para enfrentar o caminho de reencontrar a esperança que a nova normalidade exige.

Não sejamos iludidos do lado negativo.

Há matérias muito difíceis de gerir que ficam para lá de qualquer espírito empreendedor. Que ficam mesmo à necessidade de apoio do Estado e em que não chega, nem toda a mentalidade criativa e a livre iniciativa privada tem essa responsabilidade ou competição, exemplos positivos.

Há muita necessidade de apoio na ação social, em todos os nossos 308 municípios, sem exceção, há não há Lisboa e os outros: Há todos. Há famílias que hoje fazem muitas contas de subtrair para poderem acrescentar um pão na mesa. Há empresas pequenas e familiares abertas há décadas e séculos que em poucos meses fecharam e deixaram a zeros as contas que sustentavam uma e outra casa. Que ninguém seja hipócrita nessa matéria de justiça ou que seja ideologicamente cego para afirmar que esses, também, têm condições de se reinventar e criar um novo rumo neste momento. Não têm.

Basta ver que até a Alemanha, o país das contas certas que parte portuguesa despreza, mas a sua totalidade devia usar como exemplo, economicamente, há mais de dez anos que não tinha um défice acima dos 3% (estabelecido pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento da União Europeia) e, devido ao apoio às Empresas e às Famílias, viu Angela Merkel gastar mais 139,6 mil milhões de euros do que as suas receitas em 2020, ficando com um défice de 4,2%.

Quero com isto afirmar que, se até “na terra das contas certas” a aposta foram contas menos certas para serem certos com as pessoas e com as empresas, que também cá, em Portugal, temos de olhar para o que ficará. O empreendedorismo só funcionará se todos estiverem na casa de partida, sem dúvidas, e para isso é preciso que nesta fase mundial atípica o Estado seja o garante dos direitos que deve ser.

A economia não poderá olhar para números, teremos de ter um Estado com entusiasmo a apoiar efetivamente as famílias e as empresas. E, acredita quem tem esperança, haverá empreendedorismo inclusivo também em Portugal a florescer e a abrir caminho para uma nova realidade económica.

A pandemia também realçou a importância das infraestruturas. O investimento público não pode mais ser usado para números bonitos no excel de prestação de contas, pela ausência de investimento. Não só pelos casos de incapacitação de manutenção de negócios (a ausência total, neste caso, de cuidados infantis) para quem ficou a trabalhar desde casa, mas sobretudo porque as infraestruturas públicas carecem de investimento. Da educação à saúde, as infraestruturas são um dos pilares para a construção de um novo negócio. Têm de existir. Só com esta ponte, este compromisso entre o Estado português e os portugueses, será mais possível reinventarmos os nossos negócios, criar novos negócios, expandir com sucesso novas start-ups, não ficarmos apenas pelo método do online para manter clientes, mas olhar para o futuro com uma janela para angariar novos clientes e parceiros.

A ilusão deve ser essa, mesmo tendo perdido tantas outras. Devemos criar e construir algo melhor. O entusiasmo, esse, é normal que agora ainda não exista no tamanho que precisamos, mas só com a vontade de todos é que poderemos criar um caminho para renascer o rumo empreendedor que nos tornará competitivos e faça permitir sair da pandemia mais fortes do que queríamos ser antes.