“Não vivemos uma onda de calor – essa corresponde a um extremo que se prolonga, pelo menos, por seis dias consecutivos –, mas sim um episódio em que a temperatura média máxima foi mais elevada durante poucos dias”, começa por explicar Emanuel Oliveira, consultor para organismos do Estado, na área dos riscos naturais e dos incêndios florestais. “Por exemplo, no Alto Minho, se tivéssemos seis dias de 40 graus, seria um caos autêntico. A questão que esteve em causa é completamente diferente”.
No entanto, em declarações ao i, elucidou que “o grande risco será sempre em termos de incêndios florestais e de saúde”, mas “as condições reunidas são diferentes, quando comparadas com os incêndios do verão de 2017, porque tem muito a ver com o estado dos combustíveis. Estavam muito secos porque houve uma seca prolongada. Principalmente, na região Centro”.
O profissional que exerceu funções de comandante operacional municipal da Proteção Civil em Vila Nova de Cerveira entre março de 2009 e março de 2014, esclareceu também, na semana passada, ao i, que, “neste momento, os combustíveis não estão com grandes défices. É o normal para a época. Em zonas como o Alentejo, já apresentam disponibilidades”, ou seja, mais suscetíveis a incêndios.
“Quando olhamos para o fenómeno dos incêndios, não podemos pensar só na meteorologia, porque aquilo que arde é a vegetação”, disse o doutorando na Universidade de Santiago de Compostela, explicando que temos de ter em conta, a título de exemplo, o nível de stress hídrico da vegetação para entender se a probabilidade da mesma arder pode agravar-se.
“Há determinadas zonas que apresentam um estado mais avançado, principalmente, aquelas com paisagens compostas por herbáceas e matos” como o Algarve, Castelo Branco e Portalegre. “A zona que menos problemas levanta é a do Entre-Douro-e-Minho porque tem chovido e a temperatura anda por volta dos 20 graus”.
“Há modelos meteorológicos que apontavam para temperaturas próximas dos 45 graus no Sul da Península Ibérica e estiveram corretos, mas Portugal escapa-se um bocadinho porque tem influência do Oceano Atlântico”, explica.
No último fim de semana, devido à massa de ar quente africana, acompanhada por poeiras provenientes do Saara, as temperaturas ascenderam a 40 ou mais graus em algumas regiões de Portugal. O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) colocou Lisboa, Santarém, Castelo Branco, Guarda, Setúbal, Portalegre, Évora, Beja e Faro em alerta amarelo até ao final do dia de domingo.
Em retrospetiva, e segundo dados divulgados pelo IPMA, no sábado passado, Alcácer do Sal foi a localidade que registou a temperatura mais elevada, chegando aos 42,9 graus. Seguiu-se Portel (42,3 graus), Mora (42,2 graus), Évora e Mitra com 42,2 graus, e por fim, Alvega (42,1 graus).
No domingo, Neves Corvo – em Beja – foi a localidade que mais calor registou, com 39,4 graus. Seguiu-se Alcoutim com 39,4 graus e Elvas com 38,6 graus. Por outro lado, Reguengos de Monsaraz chegou aos 38,2 graus e Mértola aos 37,9 graus.
“Muitas coisas mudam durante dias, a meteorologia é muito dinâmica. Se vier chuva a seguir, não teremos grandes problemas. Se continuarmos com tempo seco e temperaturas elevadas, os combustíveis vão continuar a serem preparados para a ocorrência de incêndios”, realça Emanuel Oliveira.
“Essa situação poderá decorrer por negligência ou intencionalidade. Esperemos que nada aconteça”.
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