Comprar uma casa pode ser um sonho para muitos. Mas já pensou comprar uma aldeia? Neste momento, há pelo menos quatro à venda em Portugal. Cada uma com as suas características e situadas em locais diferentes do país: falamos da aldeia de Funcho de Diante, em São Bartolomeu de Messines, da Herdade do Pereiro, no Parque Natural da Serra de São Mamede, da aldeia da Azinheira, em Benquerenças e da aldeia de Emprôa, em Arouca. O i conta-lhe mais sobre estas aldeias.
Funcho de Diante e as vistas de cortar a respiração Situada em São Bartolomeu de Messines, em Silves, está a aldeia de Funcho de Diante, abandonada desde a construção da barragem do Funcho, em 1974. Desde então, não conheceu mais habitantes e está à venda há quatro anos, pelo menos pelas mãos da Luximos. A aldeia ocupa um total aproximado de 10 hectares sendo constituída por um núcleo habitacional com sensivelmente 3000 metros quadrados de área urbana.
A vista é um dos principais atrativos. E o preço? Toda a aldeia está à venda por 1,25 milhões.
“É um sítio único”, garante ao i Ricardo Costa, fundador e CEO da Luximos Christie´s International Real Estate. E explica porquê: “Tudo neste local é convidativo: a soberba paisagem natural que convida a passeios descontraídos junto à margem do Rio Arade, as casas tradicionais debruçadas sobre o rio, os passeios na serra, os mergulhos e as atividades desportivas ou de lazer no rio e, não menos importante, o sossego e a gastronomia que aqui se oferece. As condições naturais fazem desta aldeia um cenário extraordinário e o local perfeito para desenvolver um projeto turístico sustentável em espaço rural ou um projeto ligado à área da saúde e bem-estar”.
Para o responsável não há dúvidas que são muitas as vantagens de se comprar uma aldeia inteira até porque o seu comprador terá “a oportunidade de traçar um projeto de raiz, amigo do ambiente”. Fazer o seu projeto de sonho, portanto.
E acrescenta: “Neste contexto de emergência climática, urge pensar em projetos que incentivem um estilo de vida mais ecológico e sustentável, a oportunidade de criar um projeto singular, numa localização única faz todo o sentido porque é possível pensar e intervir nos quase 10 hectares de forma global e articulada”.
Ricardo Costa diz ainda acreditar que “a arquitetura, a natureza e o bem-estar podem – e devem – caminhar de mãos dadas, por isso, este é o investimento ecológico perfeito”.
Destaque ainda para a localização, que é um fator importante para potenciais interessados: a aldeia de Funcho de Diante está localizada a 15 minutos de São Bartolomeu de Messines, a 30 minutos das praias de Armação de Pêra e, aproximadamente, a 50 minutos do Aeroporto Internacional de Faro.
E é exatamente esta localização que Ricardo Costa defende ser uma mais-valia. É que, além da proximidade das praias e do aeroporto, a aldeia proporciona “condições únicas para os amantes da natureza, que apreciam percorrer trilhos de grande beleza, banhar-se nas águas limpas do rio Arade, usufruir de paisagens e recatos verdadeiramente paradisíacos, com tranquilidade absoluta, autenticidade e conforto”.
Além disso, Funcho de Diante, lembra o responsável da Luximos, está localizada em plena Rota do Lince Ibérico, “com o centro de reprodução do Lince Ibérico a escassos km da aldeia, e oferece uma paisagem deslumbrante que é possível percorrer com o olhar, mas também a pé e conhecer de perto locais quase intactos”.
E os benefícios de comprar a aldeia não se ficam por aqui: “Embora claramente marcada por um cenário de paz e de tranquilidade, não deixa de estar a uma curta distância do Algarve turístico e movimentado, dado que, a uma curta distância é possível encontrar comércio, escolas internacionais, serviços, etc… A título de exemplo, existem campos de golfe a cerca de 20 minutos e as praias estão a 30 minutos desta aldeia”.
Mas, para já, o que existe é um amontoado de oito casas em ruínas. Desde que o último habitante tirou os pés da aldeia, as ruínas de Funcho de Diante já mudaram de mãos. Os atuais proprietários – dos quais faz parte uma portuguesa – até chegaram a pensar num grande projeto que depois caiu por terra.
Ao i, Ricardo Costa não esconde que gostava de ver a aldeia vendida em breve até porque “a pandemia veio deitar alguma areia na engrenagem das nossas vidas e atrasar algumas coisas”. E deixa um exemplo: “Temos um cliente americano muito interessado em adquirir esta aldeia, mas teve de adiar o investimento devido à pandemia porque deixou de poder viajar para Portugal”. Além disso têm surgido outras manifestações de interesse uma vez que “o turismo rodeado pela natureza tem conquistado cada vez mais adeptos no país e no estrangeiro”. E é exatamente o público estrangeiro aquele que tem mostrado mais interesse nesta aldeia algarvia. “Temos tido belgas, franceses, ingleses, irlandeses e americanos que procuram desenvolver projetos na área do ecoturismo, apostando na conservação da natureza, na recuperação da biodiversidade e na preservação do património natural, num país onde o turismo já atingiu a fasquia de 14% do PIB”, diz o responsável.
Uma herdade com uma aldeia dentro Mais a norte, perto de Marvão e em pleno Parque Natural da Serra de S. Mamede está a Herdade do Pereiro. Conta com 80 hectares de área e integra uma aldeia totalmente despovoada bem como as antigas Termas de Fadagosa.
Pelas mãos da PortugalRur Imobiliária está à venda desde este ano mas há muito que esta propriedade tenta encontrar um novo dono.
Francisco Grácio, sócio fundador e CEO da PortugalRur Imobiliária, explica ao i que espaço é este: “A Herdade do Pereiro é uma antiga referência agrícola nacional que, outrora, chegou a empregar cerca de 1000 trabalhadores, que ali viviam com as suas famílias”.
Apesar de se produzir ali de tudo um pouco e de a aldeia ser autossuficiente, desde a década de 90 que se encontra ao abandono. “Havia planos para a reconstrução da aldeia na vertente turística mas, com a chegada da crise pandémica, acabaram por não acontecer”, lamenta Francisco Grácio.
Mas o que é que a aldeia tem para oferecer? Na verdade, tudo. “Esta aldeia é, de facto, um mundo. Tudo ali acontecia”, começa por dizer Francisco Grácio. E acrescenta: “Trata-se por isso de um caso único do género a nível nacional. Tem um área agrícola com cerca de 80 hectares de terreno e para além do vasto casario, onde viviam os trabalhadores, dispõe também de uma bonita casa senhorial, integra na propriedade as tão conhecidas Termas da Fadagosa inativas, parte integrante desta propriedade privada, estas, eram as maiores termas a Sul do Tejo aquando da sua última reabilitação, possuía ainda um Casino, que obteve, naquela época, a primeira licença de jogo para Casino em Portugal e que poderá ser reativada”. E há mais ainda: “Tem produção agrícola e vinícola e antigamente existia ali também uma escola, uma creche, uma cantina e uma igreja. Ou seja, tudo o que era necessário para se tornar autossuficiente para os habitantes que nela viviam”.
A localização marca mais pontos, defende a imobiliária. É que, além de estar localizada em parque natural, existem também apoios para a reconstrução urbana deste espaço, “o que é, naturalmente, uma mais valia para quem comprar a propriedade”, defende o CEO da PortugalRur.
E está localizada na zona norte alentejana, “uma zona de crescente procura turística, seja para turismo natureza, ecoturismo, enoturismo, turismo aventura ou turismo rural”, lembra o responsável, acrescentando que está prevista a construção da ligação, por autoestrada, entre Madrid-Lisboa, a menos de 10 km da herdade (lance Abrantes-Cáceres).
“Todos os anos, existem também vários eventos nas proximidades, tal como o Festival de Música Clássica (com a duração de três semanas, com elevada procura em hotelaria, com 100% de ocupação), Festival de Cinema, Festival Islâmico, a Feira da Castanha e o Baja Portalegre, o que podem ser mais valias no caso de ali nascer um projeto turístico”.
Para ter esta aldeia, o valor a pagar são 7,19 milhões, um valor que a imobiliária considera “justo”, tendo em conta “o terreno, as infraestruturas, o enormíssimo casario urbano, as termas que poderão ser ainda recuperáveis e reabilitadas, com as suas características termais verdadeiramente únicas e benéficas para a saúde”.
O valor ajusta-se principalmente tendo em conta as mudanças que a pandemia trouxe ao dia a dia, “despertando o interesse por parte daqueles que vivem nos grandes centros urbanos, e a trabalhar em regime de teletrabalho, estando-se a mudar de malas e bagagens para o interior, muitas deles com filhos de colo, que teimam vir viver para o campo, onde encontram uma qualidade de vida, segurança e tranquilidade sem paralelo”, lembra Francisco Grácio.
Mas, ao comprar este espaço, terá que colocar mãos à obra, dependendo sempre de quais são os objetivos finais. “Já houve ideias bastante ambiciosas que implicavam investimentos de 80.000.000€. Em análise preliminar, já foi identificada a possibilidade de implementar um projeto turístico para 300 unidades de alojamento e existe também um projeto para 60 suítes, já com aprovação das autoridades competentes. Será sempre necessário investir na reabilitação do casario, sendo que apenas cerca de 40% do edificado tem telhados reabilitados, os restantes ainda carecem de restauro. Contudo, num futuro eventual projeto turístico, será considerado um PIN (Projeto de Interesse Nacional), porque já foi assim catalogado, dada a importância do projeto para o desenvolvimento económico regional e nacional. Esta nomenclatura é facilitadora da celeridade do projeto, bem como da libertação de Fundos Sociais Europeus, e o facto de a herdade estar integrada no Parque Natural, melhora a percentagem de ajudas ao futuro projeto”, diz o responsável imobiliário.
Para já tem havido “bastante interesse por parte de fundos estrangeiros” que gostariam de reabilitar o espaço para fins turísticos. Mas a herdade não passou ao lado dos clientes nacionais “que mostraram interesse em adquirir a propriedade, mas o valor de venda e o valor que é necessário investir na sua reabilitação é bastante elevado”. Por isso, assim que o tráfego aéreo normalizar, a Herdade do Pereiro receberá a visita de um investidor norte americano.
Uma aldeia de interesse municipal Seguimos para Castelo Branco, mais propriamente na freguesia de Benquerenças, onde está localizada a Aldeia da Azinheira, uma típica aldeia beirã, composta por cerca de 20 casas com construções em xisto e madeira.
A aldeia é também comercializada pela PortugalRur desde 2018 e, das aldeias anteriores, é a que tem o preço mais acessível: 750 mil euros. “O valor encontra-se bastante ajustado à realidade, tendo em conta a valorização deste tipo de imóveis face ao mercado”, diz Francisco Grácio. Mas explica que “ainda falta proceder à aquisição, para completar o todo da aldeia, cerca de 7 casas e terrenos adjacentes, operação futuramente a concretizar pelos novos proprietários”. Até agora, a PortugalRur sabe que dessas sete casas, em quatro delas existe vontade por parte dos seus proprietários em alienar de imediato.
Apesar da degradação já em estado avançado, a localização pode ser uma mais valia uma vez que a autoestrada da Beira Interior (A23) passa quase ao lado da aldeia, fica a menos de duas horas de Lisboa e a poucos minutos de Castelo Branco, lembra Francisco Grácio. Além disso, está situada a menos de uma hora da Serra da Estrela.
E quem comprar esta aldeia já conta com meio caminho andado uma vez que há um projeto de recuperação turística, já aprovado. As preciosidades mais antigas da aldeia da Azinheira seriam mantidas e recuperadas, como é o caso do forno comunitário, sendo ainda criada uma pequena lavandaria e arrecadação de apoio. Para além disso, na intervenção que se pretende efetuar, serão sempre aplicados os mesmos materiais. É ainda preciso garantir que a imagem dos casarios não será alterada: deverá ser usado o xisto e as caixilharias de madeira em todos os vão exteriores.
Para já, os investidores mais interessados são nacionais.
Esta freguesia, apesar do abandono, está classificada como interesse municipal. Carlos Barreto, presidente da Junta de Freguesia de Benquerenças explica ao i que, naquela aldeia, “as pessoas foram morrendo ou mudaram-se para a freguesia devido à proximidade” e que, por isso, ficou deserta. E não esconde que gostaria que fosse vendida. “Seria um bom investimento, sem dúvida. Mais pessoas serão sempre bem vindas, principalmente sendo uma zona de interior.
1Gostaríamos que fosse vendida para que se pudesse fazer alguma coisa, mesmo que fosse turismo. Para dar a conhecer. Temos tido muita procura mas a procura é sempre bem vinda”, finaliza.
Vender depois de restaurar Além destas aldeias, já houve nos últimos anos outros lugares postos à venda. É o caso da aldeia de Emprôa, em Arouca. Na verdade, ainda está. “Esteve à venda e a pessoa que a comprou voltou a colocá-la à venda”, explica ao i Manuel Duarte Gomes, presidente da União de Freguesias de Covêlo de Paivó e Janarde. Mas a aldeia vem agora com novos atributos uma vez que o seu proprietário fez restauros nas casas. “Estavam muitas em ruínas e agora estão mais bonitas, precisavam”, acrescenta o presidente.
No site da Luximos, encarregada da venda, lê-se que “é de beleza ímpar, sendo uma oportunidade de desenvolvimento de projeto e investimento verde em ecoturismo”. A aldeia fica perto dos Passadiços do Paiva e está agora de novo à venda por 900 mil euros, com cinco em processo de restauro artesanal.
Vantagens de comprar uma aldeia Francisco Grácio não tem dúvidas: “O facto de cada vez mais poderem surgir aldeias despovoadas começa a ser uma realidade”. E, na sua opinião “o grande entrave” para que se compre uma aldeia é o facto de “ser necessário proceder-se a um levantamento muito exaustivo e complexo, quer em termos cadastrais, quer em termos de contactos com os originários desses lugares, ainda vivos ou já com os herdeiros”. Não há dúvidas: “Existe todo um trabalho que terá de ser feito, e que muitas vezes leva anos a concluir. Portanto, e em minha opinião, aldeias desertificadas irão surgir muitas”. Mas, apesar de todas as burocracias, as vantagens são muitas: “Recuperar o património local traduzido no casario e pontos de interesse existentes, e dar assim e de novo, alma a algo integrante da nossa história local ou regional, que teimaria com o tempo em desaparecer”, diz o CEO da PortugalRur, que destaca ainda o facto de se poder “dar vida a todo um espaço adormecido que acabaria por se tornar inútil e a degradar-se sucessivamente”.