Covid-19. Marcelo quer ‘olhar para agosto’

Covid-19. Marcelo quer ‘olhar para agosto’


Está marcada uma nova reunião do Infarmed para 27 de julho, confirmou o Presidente. Casos continuam a aumentar e ministra da Saúde admite ao Nascer do SOL que, enquanto for essa a tendência, ‘pensar em reaberturas é difícil’.


Com os casos a continuar a aumentar e novas regras anunciadas na quinta-feira, a semana termina com uma nova data no horizonte: a 27 de julho haverá uma nova reunião de especialistas no Infarmed para avaliação da situação epidemiológica. A informação foi avançada por fonte do Executivo à agência Lusa e confirmada pelo Presidente da República, que apontou um propósito concreto: «Olhar para agosto e fazer a projeção», detalhou, durante uma visita a Vila Flor, explicando que acertou a data com o primeiro-ministro. Defendendo que não se pode antecipar o que se vai passar a nível global e europeu, Marcelo Rebelo de Sousa deixou algumas ideias. «Há coisas que é fácil dizer, mas não basta dizer. Aumentando o número de testes, aumentará também a possibilidade de despiste de mais casos. A questão é depois saber como isso se projeta nos internados, nos cuidados intensivos e nos mortos», disse, considerando as atuais medidas equilibradas.

Em entrevista ao Nascer do SOL nesta edição, questionada sobre as perspetivas caso a incidência não diminua, a ministra da Saúde sublinhou que a expectativa é que a vacinação, agora a avançar à velocidade de mais de 150 mil inoculações por dia e já na faixa etária dos 20 anos, permita inverter essa tendência e achatar o aumento de casos, mesmo que não considere provável os números do verão ano passado.

Questionada sobre as perspetivas caso a incidência não desça, o que neste momento é apontado pelas projeções tanto do Centro Europeu de Controlo e Prevenção de Doenças como da Universidade de Washington, que apontam para uma tendência de aumento de infeções até setembro – ainda que com menor impacto do que as primeiras vagas da pandemia em termos de internamentos e óbitos – Marta Temido afirma que «enquanto estivermos a subir, será sempre difícil pensar em reaberturas», mas admite que não há decisões fechadas. «Não é uma questão de falta de planeamento, estamos a aprender à medida que os dados vamos surgindo», respondeu.

Quando começou esta etapa do desconfinamento, foram apresentadas regras para o horizonte de julho e agosto. Agora o Presidente da República, que considerou as medidas do Governo equilibradas, adiantou uma nova expectativa em torno de agosto.

Na entrevista publicada nesta edição, Marta Temido mantém que a atual estratégia de avaliação por incidência se aplica nos meses de julho e agosto, «para ganhar tempo para a vacinação», colocando-se a questão de saber o que fazer quando o país atingir um nível de vacinação idêntico ao do Reino Unido, que anunciou o levantamento total de restrições para 19 de julho, mesmo admitindo chegar aos 100 mil casos diários. Opção que Marta Temido encara com alguma apreensão.

 

Epidemia continua a crescer

As medidas mais restritivas aplicam-se agora em 60 concelhos, em risco muito elevado e elevado, definição em que entram após duas semanas consecutivas acima de 120 ou 240 casos por 100 mil habitantes (patamares que duplicam no caso de concelhos de menor densidade).

Mas os maiores concelhos do país, onde eram precisos mais diagnósticos para passar essa fronteira, já estão agora todos nesse patamar. Na próxima semana, há mais 34 concelhos sem risco de recuar no desconfinamento, tendo ficado em alerta esta semana os concelhos de Alcobaça, Arouca, Arraiolos, Barcelos, Batalha, Benavente, Caldas da Rainha, Cantanhede, Carregal do Sal, Castro Marim, Chaves, Coimbra, Elvas, Espinho, Figueira da Foz, Gondomar, Guimarães, Leiria, Lousada, Maia, Monchique, Montemor-o-Novo, Oliveira do Bairro, Paredes, Pedrógão Grande, Peniche, Porto de Mós, Póvoa de Varzim, Reguengos de Monsaraz, Santiago do Cacém, Tavira, Valongo, Vila do Bispo e Vila Real de Santo António.

Segundo o relatório semanal de vigilância do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, divulgado esta sexta-feira, mantém-se uma taxa de notificação elevada e uma epidemia com tendência crescente. Em Lisboa, onde as infeções começaram a crescer no início de maio, há agora sinais de uma desaceleração: o número de casos mantém-se a crescer, mas mais lentamente. Já no Norte, Alentejo e Açores há uma aceleração da incidência. O país está agora com um RT a nível nacional de 1,18. É de 1,34 na região Norte, 1,23 na região Centro, 1,12 na região LVT, 1,26 no Alentejo, 1,21 no Algarve, 1,15 na região autónoma dos Açores e 1,29 na região autónoma da Madeira.

 

4 mil casos por dia na próxima semana

Apesar de o cálculo do RT ser feito sempre com algum distanciamento – esta última avaliação do INSA retrata a evolução da reprodução do vírus no período entre 30 de junho e 4 de julho, ou seja a força com que a epidemia estava na semana passada – os dados dos diagnósticos feitos nos últimos dias mostram que não há uma grande alteração nesta tendência de aumento de diagnósticos, com o país também a testar mais este mês de julho do que aconteceu em junho.

Segundo os dados reportados nos boletins da DGS, que o Nascer do SOL analisou, nos últimos sete dias foram diagnosticados no país 18 mil novos casos, com os últimos três dias a superar as 3 mil novas notificações em 24 horas. Há um abrandamento na subida da incidência, mas continua a ser um salto significativo a nível nacional em relação aos sete dias anteriores (+39% de casos). A região Norte regista a maior subida (+85%), seguindo-se Alentejo, Centro e Algarve. Lisboa continua a ser a região com mais novos casos diários, mas é a que regista agora um aumento mais lento (+19% nos últimos sete dias). Durante a semana, a ministra da Saúde admitiu que o país poderá chegar aos 4 mil casos diários. Projeção que apontava para 16 de julho, pelo que poderá verificar-se já na próxima semana.

Com esta evolução, o país atingiu já uma incidência cumulativa a 14 dias de 301 casos por 100 mil habitantes. Atendendo à população, a região com maior incidência é o Algarve, já acima dos 700 casos por 100 mil habitantes. O Norte que até há bem pouco tempo era a única região abaixo dos 120 casos por 100 mil habitantes está agora perto dos 240, com 203 casos por 100 mil habitantes, contas já feitas com os dados reportados pela DGS no boletim de ontem. Na região de Lisboa há uma incidência cumulativa a 14 dias de 450 casos por 100 mil habitantes.

Em termos de internamentos, a projeção dos peritos revelada por Marta Temido é que o país possa chegar aos 800 doentes internados, 150 em enfermaria. Um aumento que tem sido mais lento do que noutras vagas da epidemia com este nível de incidência, mas que no caso da UCI estava esta quinta-feira perto de atingir esse patamar, mais cedo do que estava previsto, com 141 doentes internados em estado crítico no Serviço Nacional de Saúde.