Uma nota aos (não) “experientes” comentadeiros políticos desde país


Começou a saga de sofá das eleições Autárquicas que se avizinham. Em cada espaço televisivo, podcast ou jornais há sempre quem venha do alto do seu sofá doméstico dar lições de moral, à direita e à esquerda, de qual seria a sua solução infalível para vencer qualquer um dos 308 municípios com maioria absoluta, um…


Começou a saga de sofá das eleições Autárquicas que se avizinham. Em cada espaço televisivo, podcast ou jornais há sempre quem venha do alto do seu sofá doméstico dar lições de moral, à direita e à esquerda, de qual seria a sua solução infalível para vencer qualquer um dos 308 municípios com maioria absoluta, um programa político extraordinário e só membros de listas de gabarito inquestionável.

Vem este pensamento a propósito de vários experientes comentadores autárquicos da nossa praça, nos casos vividos no PSD em Gaia ou do PS no Porto (que pela dimensão populacional e de eleitores têm direito a comentaristas de norte a sul).

Há aqui uma exceção. Não me refiro a jornalistas, a quem efetivamente estudou para fazer comentário político. Aqueles que ao longo de vários anos acompanham diariamente os partidos políticos, as suas lideranças, questionam que está nos cargos dirigentes e – imparcialmente – comparam com o que viram acontecer no passado desses partidos. A isso chama-se análise, e é a esses que se pede que possam, sendo exceção, sem experiência de “como se faz”, comentar o que o país vê em cada Município.

Atenção. Haverá igualmente liberdade (mau era o oposto) para cada um e cada qual emitir opinião sobre se o candidato A ou B. Afinal, cada um é eleitor e decide o seu voto. Podemos todos dizer se agrada mais ou menos o perfil que cada partido escolheu, dentro de uma finita capacidade de conhecimento que tenha, mas respeitando quem o fez.

Dentro destas duas linhas, é legitimo que cada eleitor comente no seu café ou nas suas conversas o que pensa do Presidente de Câmara e de quem o enfrenta. Que diga em seio de amigos ou família se na Junta de Freguesia em que se insere irá votar no PSD, no PS ou qualquer outro (voto branco também conta). Perfeitamente aceitável. Como é, de igual modo, que o Jornal A ou B acompanhe os processos e faça peças jornalísticas do que recolhe junto de cada fonte partidária e, possivelmente, dessas fontes credíveis haja um debate jornalístico de possíveis questões que surjam e confundam o espetro público.

Agora, os “comentadeiros” a que me refiro. Não são todos, mas cada vez são mais. Infelizmente.

São os que não emitem opinião sem segunda intenção. São aqueles que deliberadamente são militantes, pagantes, com ambição política dentro dos seus Partidos Políticos, mas vão (alguns imploram) a cada espaço televisivo ou noticioso “tentar” (é ironia) emitir uma opinião isenta sobre os erros (nunca há méritos, curioso…) dos seus partidos e dos partidos dos outros.

Aqueles que falam na RTP, na SIC e passam pela TVI sem nenhuma regularidade assinalável e que apenas lá pairam porque, de alguma forma, a sua agenda permitiu e os seus conhecimentos (isentos de méritos partidários) permitiram. São aqueles que de manhã falam de autárquicas, à tarde pairam no espaço público a ir a congressos partidários e de juventudes partidárias (graças à boa amizade que granjeiam, com objetivos pessoais definidos e amizade indefinida) e à noite falam do Sporting se for preciso.

Esses que têm uma coerência de análise incrível ao ponto de ser especialistas de generalidades. Todos eles ditos “académicos”, no PSD, PS e CDS, mas que ao nível da participação cívica e democrática deixam algumas dúvidas simples como:

Já deram a cara para serem candidatos a coisa alguma nas suas terras? Quase todos, não. São eleitores da SIC, TVI e da RTP às vezes (com experiência de iniciativas partidárias imensas que os ZOOM’s e Teams fizeram crescer imenso entre 2020 e 2021), não têm concelhia onde… tenham vencido uma (!) eleição interna junto dos seus próprios militantes.

Em suma, são aqueles que vêm à televisão, rádio e jornais dar “lições” de como fazer listas e ganhar eleições, mas, eles próprios, nunca foram a uma eleição. Uma. Aqueles que dão cartas a comentar a estratégia autárquica dos grandes partidos, mas em que eles nunca foram autarcas e nem sabemos se são de onde nasceram… ou são todos de Lisboa (onde está a comunicação social). Já reparámos que os comentadores nunca são de Portimão, de Coimbra, de Viseu? Se calhar até são, mas por motivos claramente de paixão urbana escolheram Lisboa para fazer política partidária. Em Lisboa, sim. Em Portimão, Coimbra, Viseu ou Estarreja nunca estiveram nas comissões políticas e nunca deram a cara numa simples junta de Freguesia.

Depois, projetando uma desgraça autárquica (há no PSD e no PS, são partidos gémeos ou siameses de oportunismo de carreira política), aparecem no palco da comunicação social a dar lições a António Costa e Rui Rio. Permitam, eles não precisam, e não significa que haja empatia com qualquer um deles, a defesa.

António Costa e Rui Rio foram autarcas. António Costa e Rui Rio ganharam uma, duas e três vezes eleições democráticas em que a sua cara foi a votos junto das suas gentes em Lisboa e no Porto. António Costa e Rui Rio venceram eleições internas dos seus partidos políticos, ganharam congressos nacionais. Goste-se mais ou menos. E, inclusive, têm percurso de eleições nas estruturas de juventude dos seus partidos políticos, nas suas comissões políticas nacionais.

E, depois de cada um dos atuais líderes de PS e PSD (falo dos partidos maiores que são os mais atacados) ter décadas de vida autárquica e vitórias partidárias internas, “levam” com os especialistas de tudo (Agora é sobre Autárquicas, mas sabem tudo sobre o Governo, Regionais dos Açores e Madeira, Futebol, Europa, Diplomacia, Economia… gastronomia até; caramba, génios modernos que percebem de tudo).

Esses especialistas de generalidades que pairam de evento em evento partidário (a convite dos amigos), de congresso em congresso (mais perto das objetivas e lentes dos jornais do que do microfone do púlpito onde os congressistas falam) e de Autárquicas em Autárquicas (nunca dando a cara em listas, para não serem acusados de perder eleições), são os que o país tem de ouvir a falar das estratégias políticas que existem, por exemplo, agora nas Autárquicas? Mas o que sabem?

Aceito e devia ouvir o país quem venceu eleições autárquicas. Aceito e devia ouvir o país quem, quando discorda, avança partidariamente com um projeto político e uma estratégia política diferente (há da direita à esquerda). Aceito e devia ouvir o país quem já coordenou uma estrutura política local na constituição de listas, quem convidou os seus conterrâneos e convenceu-os pelas suas propostas para mudar as suas Terras. Aceito que haja comentário de quem efetivamente é. De quem quer, é duro aceitar-se que saibam tudo tão bem na teoria… porque nunca praticaram.

Porém, nesta sociedade atual, há cada vez menos experientes Autarcas ou dirigentes políticos a sujeitar-se a emitir opinião e há cada vez mais teóricos que nunca venceram uma eleição, mas julgam-se detentores da fórmula mágica de atrair os abstencionistas e reforçar a credibilidade da nossa democracia.

Basta vermos os recentes casos de volte-face nas escolhas do PS, no Porto, e do PSD, com António Oliveira, em Gaia.

Foi um autêntico “tiro ao alvo” (não me refiro ao péssimo exemplo dado pela Iniciativa Liberal com aquela brincadeira de mau gosto das setas, no igual mau exemplo de um arraial feito nesta altura do campeonato) a PS e PSD em praça pública.

Caíram dois candidatos e vieram logo os “comentadeiros”, por um lado, militantes do PSD, atacar o “desnorte” e a “morte política da escolha pessoal” de Rui Rio na escolha de Gaia. E ao mesmo tempo, vieram logo os outros “comentadeiros”, militantes do PS, atacar a “derrota inquestionável de António Costa” no seio do partido para os seus adversários internos na concelhia do Porto.

Foi um fartar de experientes autarcas sem vitória nenhuma nas televisões, que seguramente já teriam por esta altura a vitória certa em todos os 308 concelhos do país e sem o mínimo erro.

Deixá-los estar, na felicidade de nunca ter participado ou vencido uma eleição. Sem saberem como é fazer uma campanha porta a porta ou, olhos nos olhos, ouvir críticas de onde não se espera. Sem saberem o que é colar um cartaz (no sentido apaixonado do lado bom da política partidária) e muito menos defender uma ideia que mude a vida dos eleitores. Esses, que têm a infelicidade de serem felizes numa Assembleia Municipal, numa Junta de Freguesia ou como Vereadores numa Câmara… que se cheguem à frente e falem.

Esses que são Autarcas é que deviam comentar Eleições Autárquicas, mas, claro está, não têm tempo para essa agenda de “comentadeiro” porque estão a fazer o que os outros não fazem e nunca fizeram: Trabalho político de terreno.

Aos que hoje são (se calhar vão ser sempre) ilustres comentadeiros, que tenham a sorte de um dia conhecer a realidade do que hoje opinam. Aí, vão ver que deixarão de ter tempo para analisar o que desconhecem.

 

Carlos Gouveia Martins

 

Uma nota aos (não) “experientes” comentadeiros políticos desde país


Começou a saga de sofá das eleições Autárquicas que se avizinham. Em cada espaço televisivo, podcast ou jornais há sempre quem venha do alto do seu sofá doméstico dar lições de moral, à direita e à esquerda, de qual seria a sua solução infalível para vencer qualquer um dos 308 municípios com maioria absoluta, um…


Começou a saga de sofá das eleições Autárquicas que se avizinham. Em cada espaço televisivo, podcast ou jornais há sempre quem venha do alto do seu sofá doméstico dar lições de moral, à direita e à esquerda, de qual seria a sua solução infalível para vencer qualquer um dos 308 municípios com maioria absoluta, um programa político extraordinário e só membros de listas de gabarito inquestionável.

Vem este pensamento a propósito de vários experientes comentadores autárquicos da nossa praça, nos casos vividos no PSD em Gaia ou do PS no Porto (que pela dimensão populacional e de eleitores têm direito a comentaristas de norte a sul).

Há aqui uma exceção. Não me refiro a jornalistas, a quem efetivamente estudou para fazer comentário político. Aqueles que ao longo de vários anos acompanham diariamente os partidos políticos, as suas lideranças, questionam que está nos cargos dirigentes e – imparcialmente – comparam com o que viram acontecer no passado desses partidos. A isso chama-se análise, e é a esses que se pede que possam, sendo exceção, sem experiência de “como se faz”, comentar o que o país vê em cada Município.

Atenção. Haverá igualmente liberdade (mau era o oposto) para cada um e cada qual emitir opinião sobre se o candidato A ou B. Afinal, cada um é eleitor e decide o seu voto. Podemos todos dizer se agrada mais ou menos o perfil que cada partido escolheu, dentro de uma finita capacidade de conhecimento que tenha, mas respeitando quem o fez.

Dentro destas duas linhas, é legitimo que cada eleitor comente no seu café ou nas suas conversas o que pensa do Presidente de Câmara e de quem o enfrenta. Que diga em seio de amigos ou família se na Junta de Freguesia em que se insere irá votar no PSD, no PS ou qualquer outro (voto branco também conta). Perfeitamente aceitável. Como é, de igual modo, que o Jornal A ou B acompanhe os processos e faça peças jornalísticas do que recolhe junto de cada fonte partidária e, possivelmente, dessas fontes credíveis haja um debate jornalístico de possíveis questões que surjam e confundam o espetro público.

Agora, os “comentadeiros” a que me refiro. Não são todos, mas cada vez são mais. Infelizmente.

São os que não emitem opinião sem segunda intenção. São aqueles que deliberadamente são militantes, pagantes, com ambição política dentro dos seus Partidos Políticos, mas vão (alguns imploram) a cada espaço televisivo ou noticioso “tentar” (é ironia) emitir uma opinião isenta sobre os erros (nunca há méritos, curioso…) dos seus partidos e dos partidos dos outros.

Aqueles que falam na RTP, na SIC e passam pela TVI sem nenhuma regularidade assinalável e que apenas lá pairam porque, de alguma forma, a sua agenda permitiu e os seus conhecimentos (isentos de méritos partidários) permitiram. São aqueles que de manhã falam de autárquicas, à tarde pairam no espaço público a ir a congressos partidários e de juventudes partidárias (graças à boa amizade que granjeiam, com objetivos pessoais definidos e amizade indefinida) e à noite falam do Sporting se for preciso.

Esses que têm uma coerência de análise incrível ao ponto de ser especialistas de generalidades. Todos eles ditos “académicos”, no PSD, PS e CDS, mas que ao nível da participação cívica e democrática deixam algumas dúvidas simples como:

Já deram a cara para serem candidatos a coisa alguma nas suas terras? Quase todos, não. São eleitores da SIC, TVI e da RTP às vezes (com experiência de iniciativas partidárias imensas que os ZOOM’s e Teams fizeram crescer imenso entre 2020 e 2021), não têm concelhia onde… tenham vencido uma (!) eleição interna junto dos seus próprios militantes.

Em suma, são aqueles que vêm à televisão, rádio e jornais dar “lições” de como fazer listas e ganhar eleições, mas, eles próprios, nunca foram a uma eleição. Uma. Aqueles que dão cartas a comentar a estratégia autárquica dos grandes partidos, mas em que eles nunca foram autarcas e nem sabemos se são de onde nasceram… ou são todos de Lisboa (onde está a comunicação social). Já reparámos que os comentadores nunca são de Portimão, de Coimbra, de Viseu? Se calhar até são, mas por motivos claramente de paixão urbana escolheram Lisboa para fazer política partidária. Em Lisboa, sim. Em Portimão, Coimbra, Viseu ou Estarreja nunca estiveram nas comissões políticas e nunca deram a cara numa simples junta de Freguesia.

Depois, projetando uma desgraça autárquica (há no PSD e no PS, são partidos gémeos ou siameses de oportunismo de carreira política), aparecem no palco da comunicação social a dar lições a António Costa e Rui Rio. Permitam, eles não precisam, e não significa que haja empatia com qualquer um deles, a defesa.

António Costa e Rui Rio foram autarcas. António Costa e Rui Rio ganharam uma, duas e três vezes eleições democráticas em que a sua cara foi a votos junto das suas gentes em Lisboa e no Porto. António Costa e Rui Rio venceram eleições internas dos seus partidos políticos, ganharam congressos nacionais. Goste-se mais ou menos. E, inclusive, têm percurso de eleições nas estruturas de juventude dos seus partidos políticos, nas suas comissões políticas nacionais.

E, depois de cada um dos atuais líderes de PS e PSD (falo dos partidos maiores que são os mais atacados) ter décadas de vida autárquica e vitórias partidárias internas, “levam” com os especialistas de tudo (Agora é sobre Autárquicas, mas sabem tudo sobre o Governo, Regionais dos Açores e Madeira, Futebol, Europa, Diplomacia, Economia… gastronomia até; caramba, génios modernos que percebem de tudo).

Esses especialistas de generalidades que pairam de evento em evento partidário (a convite dos amigos), de congresso em congresso (mais perto das objetivas e lentes dos jornais do que do microfone do púlpito onde os congressistas falam) e de Autárquicas em Autárquicas (nunca dando a cara em listas, para não serem acusados de perder eleições), são os que o país tem de ouvir a falar das estratégias políticas que existem, por exemplo, agora nas Autárquicas? Mas o que sabem?

Aceito e devia ouvir o país quem venceu eleições autárquicas. Aceito e devia ouvir o país quem, quando discorda, avança partidariamente com um projeto político e uma estratégia política diferente (há da direita à esquerda). Aceito e devia ouvir o país quem já coordenou uma estrutura política local na constituição de listas, quem convidou os seus conterrâneos e convenceu-os pelas suas propostas para mudar as suas Terras. Aceito que haja comentário de quem efetivamente é. De quem quer, é duro aceitar-se que saibam tudo tão bem na teoria… porque nunca praticaram.

Porém, nesta sociedade atual, há cada vez menos experientes Autarcas ou dirigentes políticos a sujeitar-se a emitir opinião e há cada vez mais teóricos que nunca venceram uma eleição, mas julgam-se detentores da fórmula mágica de atrair os abstencionistas e reforçar a credibilidade da nossa democracia.

Basta vermos os recentes casos de volte-face nas escolhas do PS, no Porto, e do PSD, com António Oliveira, em Gaia.

Foi um autêntico “tiro ao alvo” (não me refiro ao péssimo exemplo dado pela Iniciativa Liberal com aquela brincadeira de mau gosto das setas, no igual mau exemplo de um arraial feito nesta altura do campeonato) a PS e PSD em praça pública.

Caíram dois candidatos e vieram logo os “comentadeiros”, por um lado, militantes do PSD, atacar o “desnorte” e a “morte política da escolha pessoal” de Rui Rio na escolha de Gaia. E ao mesmo tempo, vieram logo os outros “comentadeiros”, militantes do PS, atacar a “derrota inquestionável de António Costa” no seio do partido para os seus adversários internos na concelhia do Porto.

Foi um fartar de experientes autarcas sem vitória nenhuma nas televisões, que seguramente já teriam por esta altura a vitória certa em todos os 308 concelhos do país e sem o mínimo erro.

Deixá-los estar, na felicidade de nunca ter participado ou vencido uma eleição. Sem saberem como é fazer uma campanha porta a porta ou, olhos nos olhos, ouvir críticas de onde não se espera. Sem saberem o que é colar um cartaz (no sentido apaixonado do lado bom da política partidária) e muito menos defender uma ideia que mude a vida dos eleitores. Esses, que têm a infelicidade de serem felizes numa Assembleia Municipal, numa Junta de Freguesia ou como Vereadores numa Câmara… que se cheguem à frente e falem.

Esses que são Autarcas é que deviam comentar Eleições Autárquicas, mas, claro está, não têm tempo para essa agenda de “comentadeiro” porque estão a fazer o que os outros não fazem e nunca fizeram: Trabalho político de terreno.

Aos que hoje são (se calhar vão ser sempre) ilustres comentadeiros, que tenham a sorte de um dia conhecer a realidade do que hoje opinam. Aí, vão ver que deixarão de ter tempo para analisar o que desconhecem.

 

Carlos Gouveia Martins