A produção de abacates tem vindo a conquistar o Algarve. E as contas são simples: os atuais 1833 hectares (ha) da cultura de abacates vão gerar 40 milhões de euros anuais para a região de VAB (Valor Acrescentado Bruto). E, mesmo sem todos os pomares “estarem no chamado ano cruzeiro de produtividade, essa contribuição é já de 20 milhões de euros para a economia anual da região”. Esta é uma das conclusões do estudo intitulado “A Importância da Cultura do Abacate na Região do Algarve”, realizado pela Agro.Ges, uma consultora especializada em estudos agrícolas. Os municípios de Silves, Tavira e Faro são responsáveis pela maioria (68%) desta área de produção.
Ainda assim, a alfarrobeira continua a representar a maior área plantada na região (13 584 hectares), seguida dos citrinos (13269), do olival (9409), de outros frutos secos (7524) e da amendoeira (5004).
Apesar das críticas em relação ao uso de água, o mesmo estudo revela que a água utilizada por esta cultura é, em média, 6500 m3/ha por ano, o que é semelhante à média das culturas dominantes e indica que, em alguns casos, conta ainda menos. E os 1833 hectares de abacateiros do Algarve representam 1,8% da superfície agrícola utilizada da região e 3,2% da área de culturas permanentes do Algarve. “Números que mostram bem que se há um problema de escassez de água no Algarve, dificilmente esse problema pode ter origem na cultura dos abacates”, garante o documento.
Estas alterações de produção já tinham sido reconhecidas pela ministra da Agricultura ao i. “Hoje o abacate é uma tendência de consumo internacional fortíssima. Já temos alguma produção, mas sabemos que é uma cultura muito exigente do ponto de vista do recurso hídrico. No entanto, também sabemos que as explorações que neste momento estão a produzir abacate têm sistemas altamente eficientes na gestão da água que torna esta cultura próxima de outras culturas que eventualmente sejam mais tradicionais”, admitiu Maria do Céu Antunes, lembrando que os padrões de consumo ditaram a alteração de regras. E o setor, que no entender da governante, “é muito dinâmico, acaba por estar muito atento a essas tendências de mercado”.
Uma opinião que também já tinha sido partilhada pelo secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP). “O abacate está a entrar no Algarve e enquanto o mercado tiver apetência para comprar este produto vai continuar a existir essa aposta porque é um bom negócio e os produtores veem isso como uma boa oportunidade de ganharem dinheiro, já que a laranja, apesar de ser muito boa, nunca teve dimensão para poder, por exemplo, fornecer uma grande superfície durante um ano inteiro”.
Luís Mira lembra que “metade da resposta tem a ver com os consumidores. Se os consumidores querem esses produtos, como a pera abacate, o mirtilo e o kiwi, então faz sentido ver se há condições para os produzir em Portugal e se houver avança-se”. E sublinha que estas culturas são feitas por produtores “altamente profissionais”, que “acabam por apostar muito na inovação”.
Raio-x O estudo agora divulgado revela também que se forem consideradas as necessidades de mão-de-obra unitárias atuais, o abacate necessita de cerca de 387 mil horas de trabalho por ano. “Assumindo as durações médias das operações de colheita e poda, muito exigentes em mão-de-obra, estas necessidades anuais correspondem a um mínimo de 568 postos de trabalho por ano, sendo a sua maioria, sazonais”. Mas alerta: “Considerando a mesma área de 2019, sem que se assumam aumentos de área, podemos estimar, quando todos os pomares cheguem à maturidade, que estas necessidades de mão-de-obra sejam de cerca de 522 500 horas de trabalho anuais. Estes valores correspondem, com as estimativas mais conservadoras, a um mínimo de 810 postos de trabalho anuais”. Feitas as contas, esta cultura emprega, no mínimo, 568 pessoas por ano (entre trabalhos sazonais e a tempo inteiro).
No entanto, quando a área de 2019 estiver em estado adulto, empregará, no mínimo, 810 pessoas por ano. Um índice que, segundo o estudo, “é muito superior aos de outras culturas permanentes, de maior expressão em território nacional, que permitem maiores graus de mecanização na poda e na colheita, como a vinha, o olival ou o amendoal”.
Opção estratégica Face a esse cenário, o estudo da Agro.Ges recomenda que o abacate seja uma opção estratégica e uma opção importante do desenvolvimento agrícola da região do Algarve, incluindo os seus produtores nos processos de decisão, planeamento e abordagem às soluções para os problemas que o futuro possa guardar. “O respeito pelos recursos naturais, através do melhor conhecimento das questões relacionadas com o solo, a água, a biodiversidade e o balanço do carbono, assim como a garantia do cumprimento de toda a legislação, permitirão o desenvolvimento sustentável da região, devendo o abacate ser parte desta importante equação”, diz o mesmo documento.
Também o presidente da Câmara Municipal de Faro, Rogério Bacalhau, garante que o abacate é uma cultura geradora de valor económico capaz de rentabilizar pequenos espaços. Uma opinião partilhada por José Vitorino, presidente da AlgFuturo, ao garantir que este estudo “dissipa todas as dúvidas sobre a importância do abacate na diversificação da agricultura algarvia e que quaisquer campanhas contra têm ‘perna curta’ porque não se inventariou nada de negativo.
Recurso à tecnologia O recurso à tecnologia também deu um ‘empurrão’ ao setor e poderá ser ainda ganhar maior relevo com a tecnologia 5G. “Vamos ter muitas aplicações para a agricultura, assim que ela estiver implementada”. Mas enquanto não existe, muitos dos agricultores apostam em robots e em drones, um trabalho que até aqui teria de ser feito manualmente. “A tecnologia veio trazer pequenos equipamentos para funcionar em pequenas e grandes parcelas. Não preciso de uma avioneta quando posso ter um um drone a fazer todo o controlo do terreno. Também na parte da produção temos tecnologia que nos permite usar muito menos água na rega e sermos verdadeiramente cirúrgicos, usar muito menos adubo, muito menos pesticida ou só usar quando é verdadeiramente necessário porque existem meios de diagnóstico e meios de conhecimento que não existiam há 30 anos”, já veio garantir Luís Mira.
O recurso à tecnologia também pode ser usado para compensar os efeitos da meteorologia, desde que não sejam catástrofes. “Se tenho tendência para ter campos alagados aposto num sistema de drenagem. Já vi nos EUA e em Portugal também se começa a pensar nisso de existirem grande ventoinhas com calor para que possam ser aplicado nos dias em que haja risco de geada. E se vem um período de grande seca também tenho um sistema de rega que consigo compensar”, admitiu ao i.