“É necessário saber bem disfarçar esta qualidade e ser grande simulador e dissimulador: tão simples são os homens e de tal forma cedem às necessidades presentes, que aquele que engana sempre encontrará quem se deixe enganar.”
Maquiavel
Os políticos mentem com frequência. O recurso à mentira como arma política faz parte do dia-a-dia. E essa realidade já é para nós tão natural, que raramente nos indignamos.
Não é, no entanto, o caso do envio de dados pessoais de manifestantes para as entidades contra as quais protestavam, pela Câmara Municipal de Lisboa, sob o pretexto de uma lei de 1974 que, uma vez lida com olhos de ver, nem sequer previa essa estranha medida “burocrática”.
Apanhado como rato na ratoeira preso pelo rabo, o presidente da Câmara, Fernando Medina, meteu os pés pelas mãos, disse uma coisa e o seu contrário e, como é natural, mentiu.
António Costa, primeiro-ministro, com uma declaração arrancada a ferros, conseguiu encontrar uma desculpa que, se não fosse tão ridícula, era cómica. A culpa de tudo isto era do Governo de Passos Coelho, por ter extinguido os governos civis.
O primeiro-ministro anda mais preocupado certamente em ir ocupando todos os lugares da Administração Pública com os seus apaniguados, como é o caso mais recente da Autoridade da Mobilidade dos Transportes, um lugar para Ana Paula Vitorino, ex-ministra do Mar.
A questão não se coloca nem quanto à eventual competência, nem tão pouco quanto ao salário. O que me parece verdadeiramente surrealista é que todos os cargos da administração pública não sejam ainda sujeitos a concurso público, claros e transparentes.
Nesta semana tão confusa, talvez por causa do calor, até o Presidente da República proferiu uma declaração que merece alguma reflexão: “Não são os especialistas que governam o país”.
Marcelo Rebelo de Sousa referia-se, obviamente, aos especialistas da área da Saúde, na questão da pandemia, mas vale a pena alargar o horizonte para concluir que, se o país fosse realmente governador por especialistas, seria certamente mais bem governado.
Tudo isto vai acontecendo numa altura em que foram divulgados dois estudos com resultados, no mínimo, alarmantes.
O Expresso divulgou na passada semana o estudo “Os valores dos portugueses”, coordenado pelos investigadores Alice Ramos e Pedro Magalhães, do Instituto de Ciências Sociais, e que revela que apenas 37% dos portugueses rejeita ser governado por um líder autoritário. Apenas 37%!
O Barómetro Global da Corrupção, divulgado pela Transparency International, aponta que cerca de 90% dos portugueses acreditam que há corrupção no Governo, enquanto 41% afirmam que aumentou no último ano. Entre os mais corruptos, os portugueses elegeram os deputados à Assembleia da República, os banqueiros e os empresários.
Com este panorama verdadeiramente preocupante, o país está prestes a ir a banhos, estando agora virado para o futebol.
Lá para setembro ou outubro talvez nos voltemos a preocupar.
Jornalista