A vida pública transformou-se num campo de batalha onde se apela, por todas as razões, a uma rivalidade primitiva entre dois extremos, classificando todos aqueles que não tomam partido como socialmente indiferentes.
Estamos cheios de “opinion makers” que são autênticas crianças mimadas, defensoras de um tipo de pensamento que exclui da discussão as ideias que não agradam, condicionando assim a ação dos que têm opiniões diferentes.
Assistimos a uma crescente antipatia pela opinião divergente do “status quo” que, sem amarras, representa apenas o que um simples indivíduo poderá pensar livremente. Esta antipatia tornou-se uma desculpa generalizada para justificar o indesculpável.
Estamos presos à ditadura da opinião dos donos da verdade que, hipocritamente, apelam à tolerância que é apenas uma invenção (supostamente) inteligente das suas mentes. Esta pretensa tolerância apenas reflete o desejo de se apegarem, ainda mais, às suas ideias e preconceitos limitados, fingindo que vão permitindo que outros defendam ideias diferentes.
Neste modelo de (in)tolerância há apenas uma espécie de indiferença superior e uma falsidade absoluta uma vez que, no final do dia, estes donos da opinião defendem os tiques do totalitarismo…silenciar, banir, excluir e até atacar.
Posto isto é tempo de nos questionarmos…
Na Economia porque é que não podemos ter opinião e defender de igual modo um modelo, mais ou menos liberal, sem ser violentamente atacados pelos que defendem um modelo mais previdencial e dependente do Estado?
E na Política, porque é que não podemos ter opinião e defender ideias, de direita ou de esquerda, sem que entremos na arena do mediático e perverso combate partidário?
E na Saúde, porque é que não podemos ter opinião e defender um modelo Público-privado com a mesma paixão com que outros defendem o modelo exclusivamente público?
E no Ensino, porque é que não podemos ter opinião e permitir que se possa escolher entre privado e público sem sofrer um violento ataque dos que se regem por ditames mais preconceituosos?
E na Religião, porque é que não podemos ter opinião e aceitar a diversidade e a liberdade de acreditar, ou não, num Deus, num Poder Superior ou numa outra referência?
Não devemos desejar que todos pensem da mesma maneira e não temos o direito de condicionar a opinião de ninguém. Afinal, sem opinião a nossa individualidade é-nos retirada e não haverá espaço para crescermos intelectualmente e para evoluirmos como seres humanos.
Temos de estimular a partilha da opinião promovendo debates com amigos, familiares, colegas de trabalho ou colegas de escola, sobre todo o tipo de tópicos (dos mais polémicos aos mais consensuais), permitindo-nos aprender novos factos e compreender porque é que alguns pensam de maneira diferente.
Se tivermos como base a abertura de espírito e a tolerância teremos uma convivência pacífica entre indivíduos que pensam de forma diferente, afastando as divergências permanentes alimentadas pela intolerância e pela censura.
Os Países que mais estimulam a expressão livre das opiniões são também os que promovem as Democracias mais saudáveis. Prova disso é o Índice Global de Democracia do “The Economist”, publicado em fevereiro de 2021, que coloca no topo países como a Noruega, a Islândia, a Suécia, a Finlândia e a Dinamarca. Estes são alguns dos bons exemplos que têm índices de desenvolvimento acima da média.
Portanto, sem utopias, podemos defender a redução dos atritos confrontando as opiniões e procurando aproximar e perceber as teses e ideias dos diferentes indivíduos. A experiência de vida ajuda a ganhar mais estofo, mais capacidade de encaixe e uma genuína vontade de perceber os que pensam de forma diferente. A experiência também nos permite aceitar que a mudança de opinião é um fator positivo e não uma fragilidade. Tudo isto somado é a receita para evoluir enquanto indivíduos e enquanto sociedade.
Ter opinião é fundamental e devemos criar as condições necessárias para que todos a possam expressar livremente. Hoje ainda não é assim, mas é a firmeza da ação que nos poderá garantir que no curto e médio prazo poderemos emitir opiniões sem o receio de sermos “abalroados” pelo cilindro da censura dos ditos donos da verdade.
Como disse Evelyn Beatrice Hall, na sua obra "The Friends of Voltaire", “Não concordo com uma só palavra do que dizes, mas defenderei até o último instante o teu direito de dizê-la.”
Este é o propósito que devemos defender porque um mundo sem opiniões diversas e livres é um lugar cinzento cheio de restrições à liberdade de pensamento, liberdade de expressão, liberdade de escolha e acima de tudo cheio de restrições ao desenvolvimento.
Rodrigo Gonçalves
Gestor e Mestre em Ciência Política