1. Enquanto reina a maior confusão no confina/desconfina e nos números que nos vão sendo apresentados pelo Governo e a DGS, temos Marcelo e Costa a picarem-se. Começou com Marcelo a dizer que não contem com ele para recuar no desconfinamento (deveria estar a pensar num catastrófico regresso ao estado de emergência). A isso Costa respondeu (e bem) que ninguém pode assegurar que não vai ser preciso voltar atrás. O lamentável contra-ataque de Marcelo veio a seguir, dizendo que por definição o Presidente nunca é desautorizado pelo primeiro-ministro, lembrando que é ele que o nomeia e exonera. Algo vai mal entre Belém e S. Bento. Ambos estiveram péssimos. Vão ter de inventar um pretexto para remediar a coisa. Marcelo e Costa explanaram a desorientação monumental que reina no país em termos de pandemia. No meio disto, António Costa conseguiu ainda descer um nível abaixo. Foi quando sugeriu que a culpa de se enviar dados de opositores para a embaixada Russa era resultado da extinção dos governos civis, feita no tempo de Passos Coelho. Há um ditado popular que diz que quem não tem vergonha todo o mundo é seu. Aplica-se a Costa.
2. Já ninguém se lembra que os FIDES e FIA eram títulos emitidos pelo Estado antes do 25 de Abril. Com a revolução foram nacionalizados e serviram para forrar caixotes do lixo, juntamente com as ações da nacionalizada Torralta. Houve muitos lesados de classe média. Foram os primeiros investidores depenados em 48 anos de uma democracia política cheia de embustes económicos para os pequenos investidores. Anos depois, houve lesados na bolsa que caiu de um dia para o outro quando Cavaco alertou para a circunstância de se andar a vender gato por lebre. Outras situações dramáticas seguiram-se. A queda da Caixa Faialense deixou muita gente na penúria. Implodiram o BPP, o BPN, o BANIF, o BCP (com as suas ações a passarem de 6 euros para 9 cêntimos por causa de uma gestão irresponsável). Deu-se o afundamento do porta-aviões BES/GES que custou muitas poupanças e nos engole anualmente muito mais do que investimos nas Forças Armadas. Isto sem esquecer os 5 mil milhões que os contribuintes meteram na Caixa Geral, depenada por administradores incompetentes. Há uma constatação a tirar disto. Os portugueses são o povo com mais lesados na Europa comunitária por via dos muitos assaltos financeiros de que foram objeto em meio século. É importante ter memória para que a história não se repita mais. Neste momento não há na prática bancos portugueses relevantes, salvo o Montepio. Todos são estrangeiros, ou melhor são portugueses pertencentes a grupos internacionais. É pior para o crédito à economia nacional, mas é mais seguro para pequenos investidores. O mais irónico é que o melhor líder de banca do mundo é um português chamado Horta Osório, feito Sir na semana passada pela Rainha Isabel. Salvou o Lloyds Bank que geriu depois de nacionalizado e que reprivatizou com êxito, tornando-o na joia da coroa. Osório na Banca, Ronaldo no Futebol e Guterres na política mostram que há uma grande diferença entre a nossa potencialidade individual e a coletiva.
3. A Assembleia Geral da mutualista Montepio volta a reunir-se hoje à noite. É uma jornada absolutamente decisiva porque vai avaliar a gestão atual, que é herdeira e discípula da ação desastrosa de Tomás Correia. É tempo dos verdadeiros mutualistas iniciarem um percurso de recuperação.
4. A cara metade do inenarrável Cabrita (o grande líder do combate com polícia de choque contra a sardinha assada noturna nos santos populares), chama-se Ana Paula Vitorino. É uma deputada sistemática do PS. Em tempos foi secretária de Estado dos Transportes e nada fez de relevante. Anos depois foi ministra do Mar. Não deixou obra. Mostrou, apenas, ser pessoa complicada ao dispensar e renovar em dois anos todos os membros do seu gabinete. Um frenesim de emoções! Numa conferência de imprensa chegou a dizer a um jornalista que não respondia a uma pergunta porque não lhe apetecia. Agora, vai a caminho de confortáveis 16 mil euros brutos de salário numa inutilidade chamada Autoridade da Mobilidade dos Transportes. Há, no entanto, uma ténue esperança nesta nomeação. Pode ser que seja uma compensação prévia à saída de Cabrita do Governo, lá para outubro.
5. Miguel Frasquilho foi, afinal, dispensado de chairman da TAP, contrariando Pedro Nuno Santos que queria mantê-lo. António Costa não aceitou. Foi uma belíssima decisão a dispensa deste homem de Salgado no defunto BES e ex-deputado do PSD. Para o seu lugar na TAP vai Manuel Beja. Sabe-se pouco dele, a não ser que é uma escolha pessoal de Costa. Passou pela Nova Base. Mas era útil saber o que andou a fazer, em concreto, nos dois últimos anos. As opções diretas de Costa são tipo coelho a sair da cartola. Já levámos com Lacerda Machado (um flop e uma espécie de lobista) e com Costa Silva, um visionário, palavroso e generoso, cujo plano de desenvolvimento é tão brilhante como perigoso por meter o Estado em tudo. É coisa que normalmente acaba mal ou em elefantes brancos. Pode ser que Manuel Beja seja um génio e ponha a TAP a funcionar melhor do que o aeroporto com o qual partilha o apelido.
6. Está por se perceber porque bula é que a seleção nacional de futebol foi transportada num avião com 30 anos, três dos quais esteve parado num deserto. Tanto a TAP como a Federação Portuguesa de Futebol são entidades públicas portuguesas. A TAP vai custar sensivelmente 5 mil milhões de euros aos portugueses e europeus. O que se passou demonstra incompetência das duas instituições. A companhia contratada nem sequer é portuguesa. É de recordar que, além da TAP, temos também a SATA (outro buraco) e a Euroatlantic (privada). Qualquer uma delas era melhor solução do que um avião velho e grego. Sobre toda esta temática não se ouviu um pio do tonitruante Pedro Nuno Santos. Costa cortou-lhe a asas no PS e no governo
7. Tirando eventualmente o heroico vice-almirante Gouveia e Melo, não haveria nenhum português que não levasse umas bengaladas orais e escritas se ficasse frente de uma comissão de comemoração dos 50 anos do 25 de Abril, com um ordenado generoso, carro, motorista e um gabinete à ministro. As críticas à indicação de Pedro Adão e Silva resultam menos da figura em si (um moderado a quem momentaneamente fugiu o pezinho para o radicalismo socrático do qual está curado). No fundo, ele é uma espécie de modelo do homem ideal do socialismo democrático. Mais preocupante é a empreitada ser de cinco anos. É inexplicavelmente maior do que a evocação do centenário da República. O 25 de Abril merece ser lembrado e estudado, nas suas grandezas e misérias, que também são muitas. Mas tudo o que é demais gera reações negativas. É previsível uma saturação que vai favorecer a direita radical e a esquerda inorgânica. A democracia não se deve celebrar com muita retórica, documentários, filmes ou colóquios. Deve-se praticá-la diariamente, através da transparência, justiça e equidade. Bastava, celebrar abril com um discurso de Eanes, que simboliza também o 25 de Novembro que pôs fim aos desvarios esquerdistas.
Escreve à quarta-feira