Poluição Política


O efeito da poluição política a que assistimos, e que sofremos, resulta num enorme enjoo e num cansaço popular com (o mau uso) dos mecanismos da democracia, e isso é, precisamente, o que os aspirantes a soluções autoritárias fomentam e esperam que resulte.


É verdade que é impossível, nos dias de hoje, ignorar os casos e casinhos que preenchem a agenda mediática e, por consequência, a política nacional.

Alguns são exemplos sérios de como não fazer e, por isso, prestam-se a todas as críticas, mas também a todos os aproveitamentos.

Muitos outros, porém, mais artificiais, são alimentados militantemente por certas redes sociais e a comunicação social formal acaba, também, por se deixar colonizar por eles, impondo-os à agenda política.

Se a comunicação social o faz sempre com consciência plena do papel que desempenha, essa é outra questão.

Claro está, também, que nem todos os atores políticos atribuem a tais eventos – mesmo assim menores, apesar de chocantes, por vezes – a mesma importância e alguns continuam, como sempre, a preocupar-se mais com as questões que, verdadeiramente, dizem respeito à vida difícil dos cidadãos e aos seus problemas mais prementes.

São eles, em geral: empregos precários, salários baixos, pensões injustas, apoio insuficiente e pouco digno à terceira idade, transportes públicos superlotados e pouco frequentes, consultas e intervenções médicas retardadas, habitação pouco digna, educação pública dificilmente acessível a todos em todos os graus de ensino, serviços públicos pouco eficazes e incapazes, frequentemente, de assegurar como deviam, também por falta de formação, os direitos civis e sociais dos cidadãos.

Não por acaso, são ainda os partidos que fundam a sua existência numa base programática mais consistente que não deixam, coerentemente, que os casos do dia desviem a sua atenção das questões políticas que são essenciais para os portugueses e da procura séria de soluções para elas.

Pena é que paguem, por isso, uma fatura mediática – daí, também, política –  pois a sua concentração em assuntos de real interesse para os cidadãos, mas  menos momentosos para os media, é correspondida, em geral, com um apagão noticioso.

Valha a verdade que a responsabilidade por todo o «bruaá» ensurdecedor que envolve os casos e casinhos não cabe, por inteiro, à fatuidade da comunicação social formal.

Bastava que os responsáveis políticos e demais responsáveis e intervenientes assíduos na comunicação social, ainda que sem os ignorar, concentrassem, em regra, o seu discurso público nas questões fundamentais para o país e nas opções para as resolver, para que diminuísse o eco ruidoso da maledicência constante, mas trivial.

Só isso, creio, faria redimensionar a importância da maioria dos casos e casinhos que afetam, à vez, quase todos os quadrantes políticos mais influentes e que, quotidianamente, nos poluem os ouvidos e, muito convenientemente, nos impedem de refletir, atenta e prudentemente, sobre os destinos do país e discutir as medidas que deverão mobilizar os cidadãos para os resolver.

Acontece que alguns agentes políticos pouco têm a dizer aos portugueses e o que, na verdade, poderiam pensar transmitir-lhes não lhes agradaria, o que teria reflexos na simpatia – ou falta dela – que estes lhes devolveriam.

São eles que, por isso, invertem as prioridades e enchem os discursos de trivialidades e ruídos.

E, todavia, o País está carente de uma discussão séria e verdadeira sobre os caminhos que devem ser prosseguidos durante e depois da pandemia, tendo em vista, sobretudo, melhorar as condições de vida dos portugueses, debelando também os problemas que a crise provocada pelo COVID desvelou dramaticamente e que, em muitos casos, estão na origem da sua subsistência ciclicamente agravada.

Os partidos políticos têm – deviam ter – ideias diferentes sobre a situação do país, sobre as prioridades que devem ser eleitas, sobre as medidas para com elas lidar.

Tais diferenças, em democracia, não podem ser encaradas como negativas, pelo que não devem ser escamoteadas, retendo a atenção dos portugueses sobretudo em episódios fortuitos – mesmo que graves – mas de circunstancial importância.

Os portugueses estão a sofrer com questões realmente sérias e pouco lhes interessam os piropos e as desavenças – mais artificiais do que reais – sobre as costumadas partilhas de lugares, internas ao bloco de interesses que sempre presidiu aos destinos do país.

O permanente ping-pong de acusações sobre factos que uns fazem num dia e outros, nas mesmas situações, fizeram ontem – por mais chocantes que sejam e alguns são-no verdadeiramente – acaba por erodir, assim, a atenção dos cidadãos e criar neles um sentimento de enjoo permanente, não com uns tantos políticos em particular, mas com todos em geral.

O problema não está tanto – como alguns pretendem –  na crispação e consequente radicalização das tribos antagónicas, mas, de facto, no sentimento de irritação que elas no seu espavento causam à maioria dos portugueses que têm de lidar, todos os dias, com problemas reais, que, demasiadas vezes, não conseguem resolver.

O efeito da poluição política a que assistimos, e que sofremos, resulta num enorme enjoo e num cansaço popular com (o mau uso) dos mecanismos da democracia, e isso é, precisamente, o que os aspirantes a soluções autoritárias fomentam e esperam que resulte.

Seria importante, por isso, que, em nome de alguma ecologia democrática, os políticos responsáveis ensaiassem consensualmente um boicote à maledicência quotidiana das redes sociais e da comunicação social, concentrando-se, com seriedade, no esclarecimento das propostas e soluções necessárias a orientar os destinos do País nos tempos difíceis que se vivem e, mais gravemente, se avizinham.

Poluição Política


O efeito da poluição política a que assistimos, e que sofremos, resulta num enorme enjoo e num cansaço popular com (o mau uso) dos mecanismos da democracia, e isso é, precisamente, o que os aspirantes a soluções autoritárias fomentam e esperam que resulte.


É verdade que é impossível, nos dias de hoje, ignorar os casos e casinhos que preenchem a agenda mediática e, por consequência, a política nacional.

Alguns são exemplos sérios de como não fazer e, por isso, prestam-se a todas as críticas, mas também a todos os aproveitamentos.

Muitos outros, porém, mais artificiais, são alimentados militantemente por certas redes sociais e a comunicação social formal acaba, também, por se deixar colonizar por eles, impondo-os à agenda política.

Se a comunicação social o faz sempre com consciência plena do papel que desempenha, essa é outra questão.

Claro está, também, que nem todos os atores políticos atribuem a tais eventos – mesmo assim menores, apesar de chocantes, por vezes – a mesma importância e alguns continuam, como sempre, a preocupar-se mais com as questões que, verdadeiramente, dizem respeito à vida difícil dos cidadãos e aos seus problemas mais prementes.

São eles, em geral: empregos precários, salários baixos, pensões injustas, apoio insuficiente e pouco digno à terceira idade, transportes públicos superlotados e pouco frequentes, consultas e intervenções médicas retardadas, habitação pouco digna, educação pública dificilmente acessível a todos em todos os graus de ensino, serviços públicos pouco eficazes e incapazes, frequentemente, de assegurar como deviam, também por falta de formação, os direitos civis e sociais dos cidadãos.

Não por acaso, são ainda os partidos que fundam a sua existência numa base programática mais consistente que não deixam, coerentemente, que os casos do dia desviem a sua atenção das questões políticas que são essenciais para os portugueses e da procura séria de soluções para elas.

Pena é que paguem, por isso, uma fatura mediática – daí, também, política –  pois a sua concentração em assuntos de real interesse para os cidadãos, mas  menos momentosos para os media, é correspondida, em geral, com um apagão noticioso.

Valha a verdade que a responsabilidade por todo o «bruaá» ensurdecedor que envolve os casos e casinhos não cabe, por inteiro, à fatuidade da comunicação social formal.

Bastava que os responsáveis políticos e demais responsáveis e intervenientes assíduos na comunicação social, ainda que sem os ignorar, concentrassem, em regra, o seu discurso público nas questões fundamentais para o país e nas opções para as resolver, para que diminuísse o eco ruidoso da maledicência constante, mas trivial.

Só isso, creio, faria redimensionar a importância da maioria dos casos e casinhos que afetam, à vez, quase todos os quadrantes políticos mais influentes e que, quotidianamente, nos poluem os ouvidos e, muito convenientemente, nos impedem de refletir, atenta e prudentemente, sobre os destinos do país e discutir as medidas que deverão mobilizar os cidadãos para os resolver.

Acontece que alguns agentes políticos pouco têm a dizer aos portugueses e o que, na verdade, poderiam pensar transmitir-lhes não lhes agradaria, o que teria reflexos na simpatia – ou falta dela – que estes lhes devolveriam.

São eles que, por isso, invertem as prioridades e enchem os discursos de trivialidades e ruídos.

E, todavia, o País está carente de uma discussão séria e verdadeira sobre os caminhos que devem ser prosseguidos durante e depois da pandemia, tendo em vista, sobretudo, melhorar as condições de vida dos portugueses, debelando também os problemas que a crise provocada pelo COVID desvelou dramaticamente e que, em muitos casos, estão na origem da sua subsistência ciclicamente agravada.

Os partidos políticos têm – deviam ter – ideias diferentes sobre a situação do país, sobre as prioridades que devem ser eleitas, sobre as medidas para com elas lidar.

Tais diferenças, em democracia, não podem ser encaradas como negativas, pelo que não devem ser escamoteadas, retendo a atenção dos portugueses sobretudo em episódios fortuitos – mesmo que graves – mas de circunstancial importância.

Os portugueses estão a sofrer com questões realmente sérias e pouco lhes interessam os piropos e as desavenças – mais artificiais do que reais – sobre as costumadas partilhas de lugares, internas ao bloco de interesses que sempre presidiu aos destinos do país.

O permanente ping-pong de acusações sobre factos que uns fazem num dia e outros, nas mesmas situações, fizeram ontem – por mais chocantes que sejam e alguns são-no verdadeiramente – acaba por erodir, assim, a atenção dos cidadãos e criar neles um sentimento de enjoo permanente, não com uns tantos políticos em particular, mas com todos em geral.

O problema não está tanto – como alguns pretendem –  na crispação e consequente radicalização das tribos antagónicas, mas, de facto, no sentimento de irritação que elas no seu espavento causam à maioria dos portugueses que têm de lidar, todos os dias, com problemas reais, que, demasiadas vezes, não conseguem resolver.

O efeito da poluição política a que assistimos, e que sofremos, resulta num enorme enjoo e num cansaço popular com (o mau uso) dos mecanismos da democracia, e isso é, precisamente, o que os aspirantes a soluções autoritárias fomentam e esperam que resulte.

Seria importante, por isso, que, em nome de alguma ecologia democrática, os políticos responsáveis ensaiassem consensualmente um boicote à maledicência quotidiana das redes sociais e da comunicação social, concentrando-se, com seriedade, no esclarecimento das propostas e soluções necessárias a orientar os destinos do País nos tempos difíceis que se vivem e, mais gravemente, se avizinham.