Como viver com tanta indignação?


Pedro Adão e Silva é mais uma vítima desta espécie de jornalismo de café central da freguesia. 


À falta dos bailaricos dos santos populares, muito úteis para a libertação de endorfinas, a vida vai-se desenrolando de polémica em polémica, até não restar pedra sobre pedra. A indignação que grassa nos “social media” a propósito de tudo e o seu contrário, pintam-nos um país de casos e de crimes de lesa-pátria de toda a espécie e feitio. A turba, animada, pulula de caso em caso, agradada com a chafurdice.

Os jornalistas, mal pagos e mal preparados, aproveitam-se do terreno fértil do soundbyte, ligam a ventoinha que faz chapiscar para todo o lado a imundice em que nos encontramos e os políticos, uns por ação, outros por omissão, também cumprem com zelo o seu papel de também contribuírem para o problema.

Caso n.º 1 – As comemorações dos 50 anos do 25 de abril

Um canal televisivo de um clube desportivo, motivado pela sua clubite (outra espécie de sectarismo) decide vilipendiar a pessoa que foi designada para dirigir essas comemorações, apenas porque é adepto de um outro clube desportivo.

Surgiram logo os queixumes dos estropiados do regime democrático. A estratégia é bastante simples, bastando para tal acenar com o rendimento auferido equiparado a diretor da administração pública (e não de ministro como se quis dar a entender), que para muitos portugueses é bem mais que o que auferem, para se instalar a indignação. Os argumentos vão variando entre as mordomias, os favores, o clientelismo partidário, a duração da missão e, pelo meio, alguns ainda se atrevem a dizer que não questionam a pessoa em matéria de competência, depois de terem insinuado que a pessoa só é designada porque é “próxima” de quem nomeia.

Pedro Adão e Silva é mais uma vítima desta espécie de jornalismo de café central da freguesia. Pergunta-se, porque é que ninguém se indignou com a “Estrutura de Missão do V Centenário da Circum-Navegação comandada pelo navegador português Fernão de Magalhães”, criada em janeiro de 2017 e com missão até ao final de 2022? Os rendimentos e mordomias são as mesmas, a duração é a mesma? Porque não houve indignação com a Estrutura de Missão de comemoração do Centenário da República, ou, ainda, da estrutura de missão dos descobrimentos que durou cerca de uma década?

Caso n.º 2 – Os ativistas

Na passada semana fomos também confrontados com o facto do Município de Lisboa (ML) reencaminhar para uma série de entidades, incluindo as visadas, a informação que recebe relativamente a manifestações em espaço público. Esta prática do ML, que já terá sido corrigida, entretanto, ganhou contornos de indignação geral, uma vez que estariam a ser violadas as regras do Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD). Mais, aparentemente, num registo de bufaria, a Câmara liderada por Fernando Medina estaria a enviar, diretamente para as catacumbas da sucessora da KGB e para o próprio do Putin, a informação relativa aos ativistas que realizaram protestos contra a prisão de um outro ativista russo. Tudo se terá passado em janeiro. Cinco meses passados é escândalo nacional, com pedidos de demissão e acusações torpes de colaboracionismo do Presidente da CML, com um regime no mínimo autoritário e conhecido por perseguir os seus adversários. 

Obviamente que a realização de eleições autárquicas a seguir a este Verão e a completa falta de estratégia política para a cidade da já falhada candidatura da direita, nada terá a ver com isso.

Em todo o caso, o Presidente da CML prontamente assumiu a falha no procedimento administrativo da autarquia que dirige, mas os indignados exigem mais. Exigem que tudo seja considerado crime, mesmo que não o seja, pois terá existido violação de direitos fundamentais (sic!) e no mínimo umas demissões para acalmar os ânimos e seguirmos para a próxima polémica.

Não desvalorizo a segurança destes ativistas, nem a importância do seu ativismo para a democratização da Rússia, nem tampouco ouso questionar as provações que têm de enfrentar na sua luta (à qual adiro enquanto democrata), no entanto, não conheço em detalhe os pormenores do caso que tanta conversa tem dado e tenho para mim que a maioria dos comentadores “isentos”, afetos maioritariamente ao PSD e à direita e que ocupam o horário nobre da TV, que têm falado sobre o assunto também os desconhecerão.

Arrisco mesmo dizer que também desconhecem em detalhe as questões relacionadas com a proteção de dados que tanto se tem falado, mas não se coíbem de, vergonhosamente e sem qualquer pudor, sancionar o comportamento daqueles que querem fazer deste assunto mais do que ele é com intuitos eleitorais.

Parece-me totalmente exagerado, descabido e até pérfido insinuar-se que o Estado da Rússia tem no Município de Lisboa e no seu Presidente uma rede de informadores com o intuito de atacar os seus adversários e que, ativamente e com dolo, tenha ocorrido uma fuga de informação sobre a vida destas pessoas que, diga-se, não são anónimas. Corajosamente, não o eram no passado e não o são hoje.

Num país democrático, como o nosso, os direitos fundamentais de livre expressão e manifestação exercem-se às claras, aliás como é comprovado pelas inúmeras notícias com declarações dos ativistas em janeiro, aquando da manifestação, e agora, onde até participam em iniciativas partidárias contra a atual CML. Enfim!

Estranha-se, mas infelizmente já não surpreende, ver toda a direita democrática assumir-se como promotora destas indignações que vão animando a turba.

Como viver com tanta indignação?


Pedro Adão e Silva é mais uma vítima desta espécie de jornalismo de café central da freguesia. 


À falta dos bailaricos dos santos populares, muito úteis para a libertação de endorfinas, a vida vai-se desenrolando de polémica em polémica, até não restar pedra sobre pedra. A indignação que grassa nos “social media” a propósito de tudo e o seu contrário, pintam-nos um país de casos e de crimes de lesa-pátria de toda a espécie e feitio. A turba, animada, pulula de caso em caso, agradada com a chafurdice.

Os jornalistas, mal pagos e mal preparados, aproveitam-se do terreno fértil do soundbyte, ligam a ventoinha que faz chapiscar para todo o lado a imundice em que nos encontramos e os políticos, uns por ação, outros por omissão, também cumprem com zelo o seu papel de também contribuírem para o problema.

Caso n.º 1 – As comemorações dos 50 anos do 25 de abril

Um canal televisivo de um clube desportivo, motivado pela sua clubite (outra espécie de sectarismo) decide vilipendiar a pessoa que foi designada para dirigir essas comemorações, apenas porque é adepto de um outro clube desportivo.

Surgiram logo os queixumes dos estropiados do regime democrático. A estratégia é bastante simples, bastando para tal acenar com o rendimento auferido equiparado a diretor da administração pública (e não de ministro como se quis dar a entender), que para muitos portugueses é bem mais que o que auferem, para se instalar a indignação. Os argumentos vão variando entre as mordomias, os favores, o clientelismo partidário, a duração da missão e, pelo meio, alguns ainda se atrevem a dizer que não questionam a pessoa em matéria de competência, depois de terem insinuado que a pessoa só é designada porque é “próxima” de quem nomeia.

Pedro Adão e Silva é mais uma vítima desta espécie de jornalismo de café central da freguesia. Pergunta-se, porque é que ninguém se indignou com a “Estrutura de Missão do V Centenário da Circum-Navegação comandada pelo navegador português Fernão de Magalhães”, criada em janeiro de 2017 e com missão até ao final de 2022? Os rendimentos e mordomias são as mesmas, a duração é a mesma? Porque não houve indignação com a Estrutura de Missão de comemoração do Centenário da República, ou, ainda, da estrutura de missão dos descobrimentos que durou cerca de uma década?

Caso n.º 2 – Os ativistas

Na passada semana fomos também confrontados com o facto do Município de Lisboa (ML) reencaminhar para uma série de entidades, incluindo as visadas, a informação que recebe relativamente a manifestações em espaço público. Esta prática do ML, que já terá sido corrigida, entretanto, ganhou contornos de indignação geral, uma vez que estariam a ser violadas as regras do Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD). Mais, aparentemente, num registo de bufaria, a Câmara liderada por Fernando Medina estaria a enviar, diretamente para as catacumbas da sucessora da KGB e para o próprio do Putin, a informação relativa aos ativistas que realizaram protestos contra a prisão de um outro ativista russo. Tudo se terá passado em janeiro. Cinco meses passados é escândalo nacional, com pedidos de demissão e acusações torpes de colaboracionismo do Presidente da CML, com um regime no mínimo autoritário e conhecido por perseguir os seus adversários. 

Obviamente que a realização de eleições autárquicas a seguir a este Verão e a completa falta de estratégia política para a cidade da já falhada candidatura da direita, nada terá a ver com isso.

Em todo o caso, o Presidente da CML prontamente assumiu a falha no procedimento administrativo da autarquia que dirige, mas os indignados exigem mais. Exigem que tudo seja considerado crime, mesmo que não o seja, pois terá existido violação de direitos fundamentais (sic!) e no mínimo umas demissões para acalmar os ânimos e seguirmos para a próxima polémica.

Não desvalorizo a segurança destes ativistas, nem a importância do seu ativismo para a democratização da Rússia, nem tampouco ouso questionar as provações que têm de enfrentar na sua luta (à qual adiro enquanto democrata), no entanto, não conheço em detalhe os pormenores do caso que tanta conversa tem dado e tenho para mim que a maioria dos comentadores “isentos”, afetos maioritariamente ao PSD e à direita e que ocupam o horário nobre da TV, que têm falado sobre o assunto também os desconhecerão.

Arrisco mesmo dizer que também desconhecem em detalhe as questões relacionadas com a proteção de dados que tanto se tem falado, mas não se coíbem de, vergonhosamente e sem qualquer pudor, sancionar o comportamento daqueles que querem fazer deste assunto mais do que ele é com intuitos eleitorais.

Parece-me totalmente exagerado, descabido e até pérfido insinuar-se que o Estado da Rússia tem no Município de Lisboa e no seu Presidente uma rede de informadores com o intuito de atacar os seus adversários e que, ativamente e com dolo, tenha ocorrido uma fuga de informação sobre a vida destas pessoas que, diga-se, não são anónimas. Corajosamente, não o eram no passado e não o são hoje.

Num país democrático, como o nosso, os direitos fundamentais de livre expressão e manifestação exercem-se às claras, aliás como é comprovado pelas inúmeras notícias com declarações dos ativistas em janeiro, aquando da manifestação, e agora, onde até participam em iniciativas partidárias contra a atual CML. Enfim!

Estranha-se, mas infelizmente já não surpreende, ver toda a direita democrática assumir-se como promotora destas indignações que vão animando a turba.