Paulo Sousa. “Gostava de ter um Portugal-Polónia na final do Europeu”

Paulo Sousa. “Gostava de ter um Portugal-Polónia na final do Europeu”


Hoje, em Sampetersburgo, será o primeiro português a entrar na luta deste Europeu adiado. Selecionador da Polónia, Paulo Sousa defronta, pelas 17 horas de Lisboa, a Eslováquia. Falámos com ele.


Conheço o Paulo há tantos anos e, ainda ele era um rapazinho incansável, roubando bolas aos adversários no meio-campo para depois as entregar de imediato, certeiras e objetivas com aqueles pés de belbutina, que via nele o treinador que veio a ser. O tempo passou depressa. Estive com ele nos seus tempos de Lisboa, no Benfica e no Sporting, percebi como o futebol italiano o encantava, quando dava ordens na Juventus, no Inter e no Parma, nunca tive dúvidas que havia um lugar no banco feito de propósito para ele. Encontra-se, provavelmente, no momento mais excitante da sua vida de treinador, ele que tem sido trota-mundos. Hoje será o primeiro português a entrar neste Campeonato da Europa adiado. Em Sampetersburgo, a maravilhosa cidade do irrepetível Dostóievski.

Vais-te estrear contra a Eslovénia. Quais são as expectativas?

A nossa expectativa é a vitória. Queremos passar a fase de grupos e este jogo pode ser determinante para os nossos objetivos. Sabemos que a Eslováquia é uma equipa menos considerada por todos, que utilizará um estilo de jogo muito específico, que privilegia as transições ofensivas e esquemas táticos. Quando chegamos a este tipo de competições, sabemos bem que ser considerado superior não conta. Vai ser importante mostrar o que somos no jogo, em campo. Aí é onde podemos fazer a diferença com a nossa mentalidade e o nosso acreditar.

Chegaste a selecionador da Polónia, uma equipa com peso no futebol Europeu. Qual a sensação?

Temos um país enorme por trás da nossa seleção. Não é apenas o futebol que conta. O seu passado é toda a realidade de um país que ultrapassou grandes dificuldades durante as duas grandes guerras mundiais. Quando entramos em campo representamos toda esta história. E é uma grande responsabilidade para a nossa seleção deixar todos os polacos com um sentimento de orgulho. Sentirem que representamos a identidade do país é um dever nosso.

Estabeleceste um objetivo para o Europeu?

Temos o melhor jogador do mundo na nossa equipa, o melhor goleador nos últimos anos. Sabemos que em qualquer jogo podemos marcar golos. Neste tipo de competições é fundamental alguém que faça a diferença. Mas claro que temos de entrar como uma equipa e suportar as características que tem o nosso capitão. Temos de estar todos envolvidos nesta ideia e sonho que temos de chegar à fase a eliminar e lutarmos contra qualquer equipa. Esse é o nosso objetivo.

Como tens sentido o ambiente em teu redor?

Senti-me bem desde o primeiro minuto em que foi oficializada a minha posição de selecionador. Para já, tanto os jogadores como as pessoas à volta da equipa gostam do nosso trabalho e profissionalismo. Mas no futebol serão apenas os resultados que ditarão a felicidade das pessoas. Estamos a tentar dar aos jogadores um sentimento de orgulho e de família, que acreditamos que irão auxiliar nas nossas conquistas. Este sentimento tem de ser partilhado por todos. É o que sinto neste momento: estou num ambiente onde somos uma família que está a trabalhar para deixar um país orgulhoso de como os representamos.

Diferenças. Excluindo o período em que foi selecionador dos sub-16 portugueses (e servia de espião dos adversários dos adversários da equipa principal para Luiz Felipe Scolari), Paulo Sousa trabalhou sempre em clubes, do Queen’s Park Rangers ao Videoton, do Maccabi de Tel-Aviv ao Basileia, Fiorentina e Bordéus.

Que diferenças encontras entre o trabalho num clube e numa seleção?

São trabalhos muito diferentes. Aqui escolhes todos os jogadores que vão estar contigo. Num clube um treinador pode dar a opinião sobre as características e como poderá incorporar-se na equipa; na seleção temos de escolher toda a equipa. Depois, o dia a dia também é diferente, porque existe um período demasiado grande no qual não podemos trabalhar diretamente com os jogadores. É a fase de observação. Quando chega o período de treinos e concentração existe também um sentimento diferente. A competitividade é menor e o companheirismo é maior em relação ao que se sente nos clubes. Existe menos ‘o eu’ no dia a dia, e mais ‘o nós’. É a consequência de estar a representar uma seleção onde o espírito e sentimento patriótico é muito grande. Trabalhamos para um bem maior: o do nosso país.

Para ti quem é o grande favorito neste Europeu?

Todos os europeus são competições de enorme dificuldade. Podemos pensar que esta é a seleção portuguesa mais forte de sempre, como a francesa, inglesa, belga. E vemos também a Alemanha e a Espanha como eternos candidatos. A Itália está de volta! Forte com grandes resultados ultimamente. Ou seja, existe um elevado número de equipas que podem ganhar o campeonato da Europa.

O teu objetivo fica por este Europeu ou vai até ao Mundial?

O meu contrato é até ao final da qualificação do Mundial e renova-se automaticamente se conseguirmos a qualificação. Claro que quero cumprir o meu contrato e poder estar presente nas duas mais importantes competições de seleções.

1996 foi o teu ano de estreia no Campeonato da Europa. O que ficou daí até hoje?

Fiquei com a sensação que deixámos uma imagem de um forte potencial do futebol português pela qualidade do jogo que praticámos, faltando experiência, eficácia e pragmatismo que ultimamente nos tem feito ganhar títulos.

Vês Portugal como um dos favoritos?

Na minha forma de ver o futebol, esta é talvez a mais forte seleção portuguesa da história. No entanto, neste tipo de competições existem tantos fatores que levam à vitória… Como português tenho muito orgulho na nossa seleção, e no seu passado recente. O trabalho tanto do nosso selecionador, como também da Federação. Como treinador de futebol vejo uma das equipas mais fortes do Europeu. Espero que nos possamos encontrar na final.