Se nos mostrarem uma fotografia de um Conselho de Administração de um banco e nela virmos apenas mulheres, estranhamos? Sem dúvida que sim! Surgirão todo o tipo de interrogações, trejeitos, ditos jocosos. Certamente!
É claro que, tendo em conta o que por aí ouvimos acerca de certos bancos, provavelmente muitas pessoas prefeririam depositar o seu dinheiro no banco cujo Conselho de Administração aparece na foto. Pois é! Mas ele não existe!
Se vos disserem que um jardim de infância é gerido por homens e os educadores são todos homens, inscrevem os vossos filhos neste jardim de infância? Provavelmente não! Não se preocupem, ele também não existe.
Pensando seriamente nestas virtualidades, podemos concluir que têm de ser impossíveis? São estruturalmente impossíveis? Existe algo – algum gene ou algum princípio – que as torne contranatura? Não existe!
Então por que razão reagimos com estranheza? Porque aprendemos, em casa ou na escola, porque nos ensinaram, explicita ou implicitamente, a ver as coisas doutra forma. Por isso estranhamos quando nos mostram algo que não está de acordo com o padrão assimilado.
É claro que a grande maioria dos seres humanos tem autonomia intelectual e capacidade crítica suficientes para refletir sobre aquilo que aprendeu e alterar a sua maneira de ver as coisas. Mas também pode não o fazer e contentar-se com estereótipos e ideias feitas. E, sempre que surge algo diferente, pode aplicar a sua criatividade em encontrar justificações para o que considera convencional e normal.
Nas sociedades modernas o ensino e a aprendizagem são predominantemente da competência das escolas. E por isso estas instituições – poderosas devido à sua especialização, credibilidade e tempo em que os jovens nelas permanecem – desempenham um papel crucial na capacitação para a reflexão crítica. Ou, ao invés, para a transmissão – involuntária, mas ainda assim recorrente – de estereótipos.
Desde 2009 que me dedico à causa da igualdade de oportunidade entre homens e mulheres e tenho constatado que os estereótipos de género são prevalecentes. Considero que têm vindo a ceder, é certo, mas sempre de forma muitíssimo lenta. A escola tem aqui um vasto território para explorar. Tanto mais que, como sabemos hoje, os estereótipos de género condicionam muitas das opções de carreira assumidas pelos jovens e pelas jovens em idade escolar.
Um dos fatores que nos torna reféns de ideias feitas é a antiguidade das mesmas. Apesar da grande evolução económica, tecnológica, política, social e cultural, a diferença de oportunidades entre mulheres e homens cristalizou num desequilíbrio e desproporção que, fruto da sua enorme duração no tempo, tende a ser aceite de forma acrítica e a ser tomado por natural.
Mas a ação política das mulheres pode e tem vindo a desmontar esta construção intemporal. Um marco crucial nesta ação política foi o reconhecimento e a aceitação, hoje consolidados a nível internacional, da causa da igualdade de oportunidades entre homens e mulheres ou, abreviadamente, da igualdade de género.
É de salientar que este reconhecimento internacional não se traduz de forma direta e plena numa aceitação e, muito menos, numa concretização da igualdade de género a nível nacional. Esta é uma causa que fica sempre bem aceitar, mas que, como outras, é difícil de realizar. E mesmo os Estados mais favoráveis à igualdade de género encontram resistências de monta na sua concretização.
Para além dos estereótipos e dos atavismos culturais, muitas vezes involuntários, existem as resistências conscientes, ora implícitas e difusas, ora explícitas e dirigidas, que se enquadram nas lutas de poder. Estas últimas muitas vezes tiram partida das primeiras na tentativa de ganhar terreno de forma deselegante e profundamente reprovável.
É muito comum a tentativa de desvalorizar o empenho político na igualdade de género evocando a ideia de que o tempo tudo resolve. No fundo trata-se de uma forma de boicote. Alguém no seu perfeito juízo acredita que a mera passagem do tempo vai acabar por esbater as diferenças sociais? Os factos não sustentam nada disto. A igualdade de oportunidades é como a liberdade e como a democracia. Ou nos batemos por elas ou elas definham e morrem.
A mudança não acontece quando nos limitamos a esperar por outro momento para que aconteça ou por outra pessoa que a faça. Como dizia Barak Obama, “Nós somos as pessoas pelas quais esperávamos. Nós somos a mudança que esperamos.”
O desafio da igualdade de oportunidades entre homens e mulheres é uma causa a que os homens não podem ser indiferentes, mas, estando a balança mais desequilibrada para o lado das mulheres, as mulheres desempenham um papel preponderante nesta batalha. Estou certa que as mulheres não deixarão de liderar esta mudança.
Uma mudança que representa um avanço na vida em sociedade e que se traduz em mais liberdade, mais justiça e oportunidades mais equilibradas entre homens e mulheres.
Deputada à Assembleia da República (PSD)
Presidente da Academia de Formação Política para Mulheres
Embaixadora da Fundação Women Political Leaders