Manuel Tibo. “É muito bonitinho mandar de Lisboa nos territórios dos outros com todas as condições à porta”

Manuel Tibo. “É muito bonitinho mandar de Lisboa nos territórios dos outros com todas as condições à porta”


Autarca de Terras de Bouro defende necessidade de investimento no Gerês e rejeita críticas a projetos polémicos, entre os quais a proposta de um teleférico no parque nacional.


Os municípios de Terras de Bouro e de Melgaço juntaram-se a Ourense, do lado de lá da fronteira, para dinamizar um circuito termal “raiano” e aumentar o potencial turístico da região. A ideia é que o Gerês não seja só destino de verão e quando está bom tempo, explica Manuel Tibo, presidente da Câmara Municipal de Terras de Bouro, que esta semana organizou um webinar sobre o projeto. Defende que o turismo será a única fonte de sobrevivência da região e tem quebrar um ciclo da sazonalidade. Uma proposta polémica da autarquia é a ideia de um teleférico para ligar a vila do Gerês ao miradouro da Pedra Bela, que levou em abril o Bloco de Esquerda a pedir no Parlamento esclarecimentos ao Ministério do Ambiente e ICNF, já que o plano de ordenamento do Parque Nacional da Peneda-Gerês não o permite. O autarca mantém a proposta, defende que se mude a lei se for caso disso e devolve críticas a Lisboa, a quem pede um olhar “diferenciador”_do território. A conversa, por Zoom, sobre a nova aposta turística do Gerês começou com alguns problemas de ligação. E por aí seguiu.

 

Costumam ter muitos problemas de internet?

Houve bastantes melhorias de rede. Está a haver um grande investimento na colocação de fibra ótica e, se as operadoras aderirem, a partir de agosto fica coberto 90% do concelho. Temos zonas onde foram colocadas antenas de redes móveis mas entretanto em pleno parque nacional já foram colocadas quatro antenas, falta só Terras de Bouro e estão há mais de três anos para instalá-las….

Mas ainda há aldeias sem rede?

Sim. Alguns sítios têm sombras e às vezes torna-se difícil ter rede e alguns não têm. Por exemplo em Brufe, na freguesia mais pequena do concelho e um sítio lindíssimo, até com muita afluência de turistas, a rede simplesmente não existe. A Câmara licenciou agora a instalação de uma antena, já foi levantada a licença mas tinham 90 dias para colocá-la e ainda não a colocaram. Mais vale pagar a multa que instalar a antena.

Íamos falar deste projeto termal da raia mas surgiram outros problemas primeiro.

Este é o meu primeiro mandato. Quem me acompanha sabe que gosto muito de convidar toda a gente a vir visitar Terras de Bouro e o Gerês mas a minha principal função é defender os interesses de quem cá mora. Temos graves problemas, ainda, de água, de saneamento e precisamos que haja um olhar diferenciador sobre este território.

No ano passado o Gerês teve uma procura louca de turistas. Que expectativa tem para este ano?

Não foi bem uma procura louca…

Pelas imagens de engarrafamentos, parecia bastante maior do que o habitual.

Teve mais, sim. Primeiro porque as fronteiras foram fechadas e as pessoas foram todas convidadas a passar férias cá dentro. Depois houve a questão de as pessoas, por causa da pandemia, quererem sentir segurança, o que faz com que Terras de Bouro, como outros concelhos no país, pela baixa densidade, tenham mais procura. Atravessámos este período todo e estou em crer que nem a uma centena de infetados chegámos. As pessoas quando querem ir de férias acabam por pensar nisso, se tem muitos casos de covid, se não tem, e nós não tivemos. Temos natureza e é o que as pessoas procuram: trilhos, ribeiras, albufeiras, miradouros, cascatas. O bom tempo acaba por ser outro grande fator, se estiver bom tempo as pessoas vêm. Associado a isto tudo, junta-se a grande capacidade que temos instalada para receber as pessoas. Terras de Bouro, se fizerem um mapa a nível nacional, não quero dizer muitas asneiras, mas deve ficar nos 30 primeiros concelhos com mais capacidade de camas. Temos 6200 camas entre alojamento local, hotéis, pensões, residenciais, pousada da juventude.

É mais do que população permanente?

Sim. Temos muita oferta de alojamento. Há vilas deste país que não têm hotéis. Na Vila do Gerês temos vários. E por fim ajuda muito quando as figuras mais conhecidas, figuras públicas, vêm para cá passar férias e visitar o nosso território, o que também tem acontecido.

Sentiram esse efeito “influencers”?

Sim, acabam por colocar no Instagram, nas redes sociais, fazem promoção do território e isso ajuda-nos imenso. E depois, repare, estamos mais perto do Porto do que muita gente pensa. Estamos a uma hora do aeroporto. A maior parte das pessoas pensa que em Terras de Bouro estamos para lá de Madrid, mas não estamos, ainda estamos do lado de cá da fronteira. E estamos a criar infraestruturas para receber um turismo de qualidade, que é o que pretendemos também com este projeto de desenvolvimento da raia termal.

Qual é o peso do turismo na economia do concelho? Com população envelhecida, indústria mais centrada no litoral… tornou-se pão para a boca?

A questão é essa. Terras de Bouro só pode viver do turismo. Não só mas a percentagem maior é essa. Por um lado a nossa morfologia não nos permite a instalação de grandes empreendimentos, sejam empresas, sejam fábricas. Portanto precisamos de ter emprego e para isso precisamos de um desenvolvimento do turismo que assegure emprego não digo o ano inteiro, mas pelo menos dez meses, que é também o que este projeto pode ajudar a dinamizar. A questão não é apenas a morfologia. Terras de Bouro, com a quantidade enorme de condicionantes que tem, a RAN (Reserva Agrícola Nacional), a REN (Reserva Ecológica Nacional), o Parque Nacional, a Rede Natura, não pode construir ou instalar unidades, temos as condicionantes de ser uma zona protegida. E por isso o nosso trabalho é no sentido de que haja um olhar diferenciador para com este território, se perceba que a maior parte do investimento está feito, os hotéis estão construídos, as panelas, os pratos nas cozinhas dos restaurantes existem, precisamos apenas um pouco mais de investimento e promoção para podermos trabalhar o ano inteiro. Somos uma zona termal, temos as Caldas do Gerês, que são centenárias, mas que trabalham basicamente entre maio e outubro, ou seja, as pessoas são contratadas, têm o seu trabalho durante seis meses, ao fim vão todas para o desemprego e no ano seguinte voltam outra vez.

É isso que querem inverter?

Sim. Temos de conseguir quebrar esta sazonalidade. Por duas razões: hoje em dia as pessoas têm despesas que não tinham antigamente: a prestação para o carro, a prestação para a casa, o telemóvel, o filho tem carro, a mãe tem carro, o pai tem carro, isto antigamente não era assim. Depois as empresas turísticas, os hotéis, o alojamento local, os próprios restaurantes, dão formação e depois as pessoas têm de procurar outro emprego. Aquele investimento perde-se. Por isso o que estamos a tentar no âmbito deste projeto é ver com a concessionária das águas se é possível termos banhos termais na Vila do Gerês no inverno. Com este projeto no fundo o que pretendemos é criar condições para que as empresas e parceiros possam desenvolver o termalismo na região, fazer promoção interna e externa, apoiar a formação. Precisamos de ter uma dinâmica que tire proveito da localização raiana para criar um turismo qualidade. Quero muita gente, mas gente que deixe retorno no território. Que não venha de manhã e vá embora à noite. E temos tudo para isso. Em termos de recursos naturais, fomos bafejados pela sorte. O parque natural vai celebrar 50 anos, temos história e agora precisamos de criar condições para que quem aqui viva possa permanecer e a única coisa que segura pessoas no território é o emprego.

Falou de uma dinâmica raiana. A ideia que dá é que mal se passa a fronteira para Espanha as estradas têm outra qualidade. Quem aí está e conhece melhor a região também sente isso, que Espanha tem investido mais nas suas regiões ultraperiféricas?

Não posso falar sobre o investimento porque só um alcaide em Espanha é que poderá dizer as dificuldades que tem. Agora, só para ter uma noção, eu sou o primeiro presidente de Câmara de Terras de Bouro desde o 25 de Abril a residir no meu concelho. Isso já quer dizer alguma coisa. O que diz é verdade, as acessibilidades em Espanha são muito mais rápidas. Também compreendo que nós estamos a 400 quilómetros do Terreiro do Paço… Vou algumas vezes a Lisboa e vou tentando atrair mais investimento e apoios do Governo para o meu concelho, mas precisávamos de mais. E quando falo de olhar diferenciador, é porque precisamos de investimento real para melhorar as nossas condições de vida mas isso será uma forma de atrair mais turismo e dará retorno ao país. Mas o que vemos é que não há e mesmo o parque natural, que abrange 22 freguesias, não tem um plano de valorização, por exemplo que permitisse intervenções à séria e de forma estruturada. Para que as pessoas não se pudessem a fazer casas como cada um quer, um pinta de amarelo, outro pinta de vermelho, um põe umas telhas, outro põe umas chapas de zinco. Precisávamos de uma ajuda financeira extraordinária para pudermos fazer isto planeadamente, intervir no território e ao fim de 10, 15 anos teríamos resultados.

Mas ainda se vai a tempo? Não existe já muita desorganização?

O parque nacional tem uma grande vantagem: mora lá gente. Tem 50 anos, antes disso já lá havia gente, que tem de ter condições para poder ter as suas casas mas de uma forma harmoniosa. Já existe um plano de ordenamento mas é preciso fiscalização e investimento. As pessoas querem que as suas aldeias tenham boas acessibilidades, saneamento, tenham água, tenham luz pública e que isto seja planeado e feito em tempo, não querem ter os cabos todos pelo ar, aquela imagem paisagística nada cuidada. Portanto era preciso um investimento real. Tem havido investimento nas questões naturais do parque, mas nas questões sociais, na rede de água, do saneamento, antenas móveis para que haja rede quando as pessoas se perdem na serra, demora tudo muito tempo. É preciso cuidar dos rios. Temos um problema enorme com as mimosas, as acácias. O dinheiro não chega para tudo, percebo perfeitamente, mas é preciso olhar para estas territórios que estão em zonas de património nacional e têm condicionantes. Se houver 50 milhões, há 50 milhões, se houver 10 milhões, há 10 milhões, mas o investimento tem de chegar aqui. As câmaras têm a responsabilidade do PDM (Plano Diretor Municipal), mas quem tutela muitas destas questões são outras entidades e você fica aqui manietado. E por isso mesmo acho que os territórios dentro do parque natural têm de ter um investimento efetivo.

Falou de condicionantes. Algumas ideias da autarquia estão a ser contestadas por não terem isso em conta, placas que instalaram no rio Gerês foram criticadas por uma associação ambientalista, a proposta de um teleférico questionada no Parlamento pelo Bloco de Esquerda…

Começando pelas placas, acho que importa perceber o contexto em que foram colocadas e se coloca algum problema em relação ao curso da água. Quando algumas associações ou partidos que eu respeito, porque cada um tem de tomar conta da sua quinta – a FAPAS tem de fazer pela vida, o Bloco de Esquerda entendeu que é preciso olhar para o Gerês – a questão é que não se olha para o Gerês quando o saneamento vai para a albufeira da Caniçada ou quando no rio Gerês há uma praga daquelas algas japónicas que qualquer dia é pior do que as mimosas. Não vejo o BE chamar a atenção. A limpeza das margens da albufeira da Caniçada pertence à APA (Agência Portuguesa do Ambiente), está tudo cheio de mimosas. A pergunta é: se as associações, entidades e partidos políticos têm veias ambientais, nada contra, mas então se estão com tanta disponibilidade para fazer petições, façam também estas. Agora não é porque alguém acena, não gosta do partido que está na Câmara e tira uma fotografia para mostrar que isto é um problema. Podemos discutir a arquitetura das placas, outra coisa é perceber está licenciado, ir ao local e ver se fere. E aí até se pode dizer, no meu entender que não devia estar a plataforma, mas fazendo o curso do rio se calhar encontra problemas maiores. São plataformas de visitação. É uma praça em cima do rio apoiada em quatro pilares. A água corre igual.

Em relação à proposta do teleférico, a questão levantada pelo Bloco de Esquerda numa pergunta ao Governo foi que é proibido em áreas sujeitas a regimes de proteção a instalação de teleféricos ou funiculares. Neste caso será difícil haver um licenciamento…

Há milhares de viaturas dentro do parque nacional. Se vai visitar o miradouro, uma cascata, tem de deixar o carro. As pessoas vão a pé com os filhos pela mão e aquilo é só pó levantado pelos carros, não faz sentido nenhum. E por isso pusemos em cima da mesa a proposta do teleférico, pelo qual nos vamos continuar a bater.

Para ligar a Vila do Gerês ao miradouro da Pedra Bela.

Sim. Um quilómetro e meio antes da vila e na Pedra Bela existem duas casas florestais devolutas. Podiam ser o ponto de chegada e partida, com casas de banho, com condições para haver pessoas a trabalhar, deixar os carros. Mesmo a questão das casas de banho é importante. Quando uma pessoa vai na autoestrada, para numa estação de serviço. Na serra do Gerês vai à casa de banho onde? É que não há outra forma de dizer isto.

Mas pode fazer casas de banho sem fazer o teleférico.

Sim. As pessoas abanam com as bandeiras ambientais, mas conhecem o local? Conhecem o traçado da serra para dizer se tinha de haver algum corte enorme de madeira, se há algum carvalhal pelo meio? Tem pinheiro. Se tivesse uma espécie protegida… mas não tem. A lei não permite, mas a lei foi feita para quem? Se foi feita para as pessoas, altere-se a lei. Nós só podemos viver do turismo e o teleférico pode ser um atrativo, sem pôr em causa a questão natural e ambiental.

Apresentou o projeto com a atual lei. O que defende é que a lei seja alterada?

O que defendo é que a lei seja alterada neste tipo de situação. Precisamos de tirar os carros lá de cima e podia ser através de um meio elétrico. Isso permitiria recuperar património que existe e está devoluto e teria um retorno para a economia local ao criar melhores condições para a visita. E portanto defendo e vou continuar a defender o teleférico. Posso não conseguir, estamos de acordo, mas aí pergunto: não tiveram de deitar casas abaixo para passarem autoestradas? E as pessoas dessas casas o que tiveram de fazer, tiveram de sair? Como todos os projetos, penso que este poderia ser analisado antes de se dizer logo que não. Os projetos, este como todos, têm de ser elaborados, ter um anteprojeto, ter uma consulta prévia. Este projeto ainda nem nasceu e algumas pessoas já querem acabar com ele. Perguntem aos terra-bourenses se são contra ou a favor do teleférico, perguntem às pessoas que cá moram, porque isto é muito bonitinho mandar de Lisboa nos territórios dos outros com todas as condições à porta. Digo e repito: enquanto presidente da Câmara, se quiserem que seja figurante, venho de manhã, saio à noite e não faço nada. Nós não somos figurantes.

Nessa sua visão, não havendo essas intervenções, o que vai acontecer ao Gerês?

Vai continuar a perder gente, que é o que algumas pessoas querem para poder haver aqui alguns iluminados com a sua coutada. Se controlar a visitação, só alguns é que cá vêm. Se calhar acham que nós devíamos continuar na Pré-história, devem estar a pensar que os terra-bourenses homens deviam usar óculos de fundo de garrafa e as senhoras ainda deviam ter buço maior. Queremos ser iguais e queremos investimento, estamos inseridos em património nacional e por isso não devem só ser os terra-bourenses a investir do seu orçamento. Quando pedimos mais investimento para o parque nacional, é para que não se façam asneiras. Não sou contra nenhuma entidade, quero é que as entidades nos ajudem resolver os problemas e não se lembrem só do Gerês quando é julho e agosto e há férias. Nos estamos aqui o ano inteiro e por isso queremos criar condições para ter turismo o ano inteiro, turismo de qualidade e mais emprego. Há problemas que só se resolvem com dinheiro. Os autarcas sabem bem o que querem para o território e temos de estar em sinergia com as autoridades que superintendem. Se houver investimento, muitos dos problemas que temos atualmente acabam.

Falou da construção desregulada. Houve recentemente o desfecho da casa mandada construir por Cristiano Ronaldo à margem dos regulamentos, com acusações de crimes que prescreveram e que não vai ser assim demolida.

A casa do Cristiano Ronaldo está legal, é uma falsa questão. Sobre tudo isso prestarei declarações na comissão de inquérito da IGAMAOT e por isso não vou dizer primeiro o que irei lá dizer, porque seria de mau tom.

Há muitas casas nestas condições no concelho?

Em Terras de Bouro não, há alguns problemas, é certo, mas nada daquilo a que nos querem vincular.

Não querendo falar, o Cristiano Ronaldo vender a casa no Gerês foi má publicidade ou continua a ser boa?

O Cristiano Ronaldo construiu uma casa em Terras de Bouro, isso é um facto, e fala-se que vendeu ao Pepe. O que fica para sempre é que o Cristiano Ronaldo tem ou teve uma casa em Terras de Bouro. E isso não há dúvidas de que ajuda muito o turismo. Temos um barco turístico que já tínhamos antes da casa do Cristiano Ronaldo que faz a visita na albufeira da Caniçada e a casa quase parece que se tornou parte do roteiro, como em Lisboa há o castelo de S. Jorge… tudo ajuda, ninguém pense o contrário. O resto tenho a minha opinião como pessoa, mas como autarca tenho de ser mais contido. Mas está tudo a cair um bocado no exagero. Vê-se agora na comunicação social o Cristiano Ronaldo ser “enxovalhado” por uma marquise quando ele faz um trabalho até psicológico pelos portugueses sem cobrar dinheiro por isso.

Isso dá-lhe direitos especiais para fazer uma marquise?

Não dá direito de coisa nenhuma, com certeza, mas as pessoas também não podem ser massacradas. Se cometeu algum erro, algum crime, trata-se. Agora como é o Cristiano Ronaldo, caiu-lhe tudo em cima.

Sente que é difícil pôr um ponto no mapa do turismo, com toda a oferta que existe?

Exige esforço. De há 20 anos para cá os concelhos do interior têm tido um grande impulso, o país como um todo deve muito às companhias aéreas low-cost, há muitos portugueses que se não fossem as low-cost nunca tinham ido a lado nenhum e isso também trouxe milhares de pessoas a Portugal, que descobrem o melhor que nós temos. E isto é o nosso esforço, atrair e mostrar o que temos aqui e investir para o tornar melhor. Se tiver fruta feia, mais tarde ou mais cedo as pessoas passam, não entram e você fecha. Se tiver tudo arranjadinho, a fruta arranjadinha, bom preço, as pessoas passam e entram.

Houve há pouco tempo uma polémica sobre a compra de prémios turísticos. Já lhe propuseram pagar para aparecer em listas de destinos ou prémios de turismo?

Não. O Gerês é uma marca que começa a ser criada na escola primária. Pegava-se nos livros da escola e dizia: “Três serras de Portugal? Serra da Estrela, serra do Marão e Gerês”. E isto é transversal. A pessoa até nunca tinha ido ao Gerês mas gramava com o Gerês a toda a hora na escola primária. Depois veio a designação de parque nacional. E com o Instagram, Cristina, Tony Carreira, tudo ajuda. Claro que investimos em vídeos promocionais, divulgação, aparecer em programas, tudo isso é fundamental. Agora pagar por prémios, não. O maior prémio que tivemos foi sermos uma das 7 Maravilhas Naturais de Portugal e isso foi uma votação do público, não pagámos nada. Pagamos para cuidar.

Há cada vez mais municípios que oferecem incentivos para fixar mais pessoas, lá fora e cá. Em Terras do Bouro têm ido por aí?

Somos uma zona com muita emigração. Temos algumas casas vazias que ficam ocupadas no verão, houve um grande investimento em alojamento local e como não se pode construir em muitos sítios não há casas para alugar. Mesmo alojamento local, se fizer uma pesquisa, diria que 70% deve estar cheio até agosto ou setembro. Precisamos de ter gente, mas para isso acima tudo o mais importante é o emprego. Temos perdido pessoas como outras zonas do interior e o emprego é o elemento chave.

Estão agora a ser repetidos os censos. Tem ideia da dimensão da quebra de população?

Pelo menos de 10%.

Há aldeias desertas?

Não, mas tenho aldeias muito reduzidas, com 15 pessoas, lugares com seis ou sete pessoas. Mas o transporte escolar é assegurado pelo município todos os dias, o pão, o peixe, o apoio social está assegurado e com boa cobertura.

Quantas crianças nascem em Terras de Bouro por ano?

Não tenho esse número. Felizmente contribuí há dois anos com duas, gémeos. Temos incentivos à natalidade, 600 euros de apoio a cada criança que nasça, temos apoios para idosos, frequência do ensino superior, bolsas de mérito na escola.

Mas os jovens querem sair?

Não há sítio melhor para viver que estes territórios. O criança sai de casa e tem o vizinho que olha por ela, toda a gente sabe quem é. Nesse aspeto de recreio é ótimo. Estamos próximos da cidade, a 27 km de Braga. A pandemia levou as pessoas a pensar se querem continuar mesmo na cidade, em apartamentos. Muitas vezes as pessoas saíam daqui de casa dos pais para ir viver para a cidade porque era a cidade. E agora começam a pensar que o retorno pode ter vantagens.

E já se nota esse movimento, gente a sair de Braga?

Sim. E segundas habitações temos muitas.

Depois dos incêndios em 2017, sente que ficou maior receio da população ou mesmo de quem procura o Gerês no verão?

Não o sinto. Temos alguns incêndios, mas a maior parte é para renovar o pasto. Felizmente não temos tido problemas e vitimas, temos é tido infelizmente algumas vítimas em visitas a cascatas. Há muito cuidado de vigilância no parque e o dispositivo de prontidão, em particular a partir de 1 de julho.

Se o Gerês puder ser barómetro de civismo, os turistas deixam muito lixo nesta altura do ano?

Há um trabalho que tem de ser feito pelas autarquias e pelo parque. Se vamos a um sítio que está limpinho, tendemos a querer deixar tudo limpinho. Se está tudo sujo, há um desleixo. Era como antigamente os cafés, sabia-se que um café era bom se estava tudo sujo no chão com cascas de amendoins e papelinhos de café pelo chão. Isso é que era, o pensamento era “este café está assim porque trabalha muito”. E as pessoas deitavam para o chão e pronto. Hoje já não é assim. Há uma situação ou outra, mas não é um grande problema. Acho que nesse aspeto Portugal evoluiu muito. As pessoas deitavam os resíduos pela serra abaixo, os mostos, era muito diferente. E mesmo da parte dos turistas, a maior parte dos visitantes são jovens e os jovens hoje têm uma consciência ambiental que antigamente não havia. Tudo isso ajuda. Mas a autarquia tem de fazer a sua parte, tratar da recolha e assegurar que existem locais para as pessoas porem o lixo. Comparando com muitos sítios por aí fora… O Gerês é um local bonito e seguro.

Voltando ao início, está então com boas expectativas para o verão.

Sim, se o tempo ajudar, é uma procura enorme. Mas isto também tem muitos encantos no outono e no inverno e é isso que queremos incentivar. As cascatas no inverno são muito mais bonitas.