Por Cristóvão Norte, deputado
É tema de extraordinário relevo a despromoção de Portugal do corredor aéreo verde com o Reino Unido. Concordemos ou não, é uma decisão legítima que compete às autoridades britânicas tomar. Já sabemos que as mesmas servem sempre interesses políticos próprios e quanto a isso estamos conversados. Porém, as justificações apresentadas já nos dizem respeito, pois têm incontroverso significado no modo como o nosso país é interpretado no domínio internacional.
E, nesse domínio, os governos britânicos merecem total repúdio. Justificar a retirada de Portugal da lista verde em razão de um alegado desenvolvimento de uma variante nepalesa – a qual no mundo ninguém conhecia até quinta-feira e que não é sequer reconhecida pela Organização Mundial de Saúde – e que no nosso país regista 12 casos!, é um absurdo.
Um absurdo perigoso para nós, porém útil para quem queria demonstrar a inevitabilidade da decisão. De facto, por força destas afirmações dos membros do Governo britânico está a perpassar a ideia de que uma nova variante, a dita nepalesa, a qual, segundo esses responsáveis, poderia não ser resistente à vacina embora não tenham qualquer fundamento para dizer isso, está a prosperar em Portugal.
Essa é uma política de medo, de terror, concebida para ultrapassar o repúdio público dos ingleses à decisão, que afeta a reputação do nosso país, não apenas nos limites das fronteiras britânicas, mas, ecoando nos principais meios de comunicação social, espalhando-se por toda a Europa, tal qual um vírus o faz, em silêncio, mas mortal.
É um assunto cuja gravidade não tolera que o Governo – que já averbou uma clamorosa derrota diplomática ao não conseguir evitar a despromoção da lista verde, ainda que tenha tido oportunidade para tal por força da realização da Champions League no Porto – mantenha um silêncio ensurdecedor e tolerante quanto a justificações que são um atentado ao interesse nacional e que põem em causa a recuperação económica nos próximos meses, um pouco por todo o país, mas especialmente na região do Algarve, a mais fustigada do país. Os turistas não desejam viajar para países e regiões que têm prevalência de variantes desconhecidas e essa percepção, como está bom de ver, não se erradica num mês nem está limitada na sua difusão.
Não ter uma posição firme no panorama internacional repondo a verdade, significa desproteger Portugal, os empregos, as empresas, a recuperação dos próximos meses, a qual, no curto prazo, estará sempre ancorada em setores cujas perdas brutais explicam uma fatia substancial do nosso recuo económico e social.
Não basta um tweet lateral, sem qualquer repercussão, a cargo do Ministério dos Negócios Estrangeiros para resolver o problema, sendo até confrangedor que a tão grande problema se adivinhe solução tão inútil. É preciso repor a reputação de destino seguro e cumpridor e esse desígnio cumpre-se na arena internacional. Em voz alta, enfrentando quem se tiver que enfrentar para repor a verdade, e não em sussurros quase cobardes. Cada hora que passa é menos uma oportunidade para impedir que essa tese perniciosa para Portugal vingue. Está nas mãos do Governo fazê-lo.