Se há palavra que cada vez que é pronunciada por um governante arranca logo um sorriso de qualquer cidadão minimamente informado, essa palavra é INQUÉRITO.
Já repararam certamente a quantidade de vezes que, por cada caso mais ou menos bicudo, ou mesmo sem importância, se decide fazer um inquérito.
Por dá cá aquela palha, inquira-se!
E assim se vão empurrando os problemas com as respetivas barrigas primo-ministeriais, ministeriais ou mesmo secretariais.
Os nossos governantes adotaram há muito o velho provérbio “enquanto o pau vai e vem, folgam as costas”, ao mesmo tempo que são exímios na arma futebolística de chutar para canto.
Confiantes na proverbial falta de memória nacional, os decisores políticos, sabendo da morosidade de cada inquérito, confiam que o tempo vai atenuar o problema e, em muitos casos, resolvê-lo.
A justiça anda a passo, num mundo que corre cada vez com maior velocidade. E não é por acaso.
Enquanto se aguardava pelo inquérito aos incidentes junto ao estádio de Alvalade, na celebração do título do Sporting, o Governo preparava cuidadosamente – supõe-se – a vinda de milhares de adeptos ingleses para assistirem no Porto à final da Champions.
Vejamos então, um filme dos acontecimentos.
A ministra Mariana Vieira da Silva garantiu categoricamente que os adeptos ingleses vinham e regressavam no mesmo dia, com teste feito e em situação de bolha, em voo charter, deslocação para duas zonas de espera de adeptos, daí para o estádio e depois do jogo de volta para o aeroporto”.
Foi exatamente o que aconteceu como todos vimos.
Os milhares de adeptos que confraternizaram nas ruas do Porto estavam certamente numa bolha imaginária à volta de toda a cidade.
As reações do Governo no pós-match foram ainda mais caricatas.
O secretário de Estado do Desporto, João Paulo Rebelo, depois de uma importante inauguração de uma vedação de um estádio de futebol, no Algarve, considerou que a realização da final no Porto “foi um sucesso desportivo. Do ponto de vista económico, também terá sido positivo. Do ponto de vista sanitário, não sou a pessoa indicada para falar”.
Do ponto de vista sanitário, falou a ministra da Saúde: “O facto de haver outros que não cumpram as regras, não é de certeza um álibi para aquilo que gostaríamos de fazer.
Finalmente, o primeiro-ministro, António Costa, considerou inicialmente que no dia da final da Liga dos Campeões “houve situações de manifesto incumprimento”, e que “há sempre lições a tirar”.
Mas, lá está, a situação não teria sido tão má como parecia, porque, segundo ainda António Costa, as imagens televisivas “foram repetidas em ‘‘loop’’, criando a ilusão que eram continuadas”.
A culpa, portanto, foi dos jornalistas. E talvez também da bolha.
Conclusão: Se a bolha rebentou, o que é que o Governo está à espera para mandar fazer um inquérito?
Jornalista