Quem disputa diz asneira


Falar, aparentemente dá prazer. Dizem-se coisas. Dizem-se muitas coisas. Por tudo e por nada, ouvimos opiniões, sobre tudo, sobre todos.


Sentir prazer é bom, faz-nos sentir bem. Acredito que seja essa a razão pela qual levamos por vezes ao limite a procura de experiências que nos satisfaçam. Talvez por isso, se tenha popularizado a máxima que diz: “O que é bom ou é pecado ou engorda”.

Dizer coisas pode ser sem dúvida alguma uma forma de alcançar o êxtase desejado. Falar, aparentemente dá prazer. Dizem-se coisas. Dizem-se muitas coisas. Por tudo e por nada, ouvimos opiniões, sobre tudo, sobre todos. Dizemos muito, falamos muito, afirmamos muito mais e tantas vezes, sem saber, depois de tudo ter sido dito, nada dissemos. Quiçá daí resulte a sensação de poder quando dizemos. Encontrámos nas redes sociais uma espécie de cátedra confortável de inesgotável satisfação. Hoje, opinar é para todos. Sempre foi. Só mudou o alcance que, não sendo de janela em janela, passou a entrar nas casas de todos nós.

De todos os lados chovem comentários, opiniões, julgamentos, críticas e teorias. As disputas, outrora travadas em campos próprios, são hoje concretizadas a partir de um sofá, de uma cama, da uma mesa de escritório ou então na rua, no jardim e até no lodo.

Diz o povo – que ainda sabe umas coisas – que quem muito fala pouco acerta. Mas, será então possível que o inversamente proporcional se verifique? Verificando-se, quem muito acerta pouco fala. Esta é provavelmente a verdadeira alma do negócio. Sim, de facto quem muito tem falado sobre a pandemia, por exemplo, pouco tem acertado. Os que falam, pouco ou nada sabem e quem sabe, pouco ou nada diz. Aliás, quem sabe, provavelmente tem tido pouco tempo para o dizer, já que se tem dedicado a fazer.

Não podia, porém, falar de disputa sem referir um dos maiores e mais controversos nomes da História Universal. A propósito do bicentenário da morte de Napoleão Bonaparte (5 de maio de 1821), ocorre-me referi-lo já que, enquanto militar, dedicou tanto tempo à disputa. Não lhe chegou um reino, quis um império. Por isso conquistou, matou, saqueou.

Napoleão soube como ninguém entusiasmar os seus exércitos. “Se eu avançar, sigam-me. Se recuar, matem-me. Se morrer, vinguem-me.” Ideia que lhe é atribuída e que reflete o sentido de vida que este estadista arrogou para si.

Seja como for, é, no meio de tanto outros, um exemplo de como nos perdemos quando a nossa vida se resume à disputa. Disputamos a casa, o carro, as joias, as viagens. Disputamos por causa de quase tudo. É por essas disputas que dizemos tantas e tantas asneiras. É por culpa das disputas que perdemos tanto do que nos rodeia.

Napoleão acabou desterrado, isolado numa ilha sem poder voltar para junto dos seus. Há quem defenda que foi a melhor forma de evitar que ele manipulasse aqueles que o podiam escutar. Era considerado perigoso pelo que dizia, pelo entusiasmo que as suas palavras provocavam no coração de quem o escutava. Matá-lo poderia significar uma mística heroica que muitos não desejavam.

De facto, facilmente se confirma que “quem disputa diz asneira”, principalmente se o fizer em voz alta.

 

Professor e investigador


Quem disputa diz asneira


Falar, aparentemente dá prazer. Dizem-se coisas. Dizem-se muitas coisas. Por tudo e por nada, ouvimos opiniões, sobre tudo, sobre todos.


Sentir prazer é bom, faz-nos sentir bem. Acredito que seja essa a razão pela qual levamos por vezes ao limite a procura de experiências que nos satisfaçam. Talvez por isso, se tenha popularizado a máxima que diz: “O que é bom ou é pecado ou engorda”.

Dizer coisas pode ser sem dúvida alguma uma forma de alcançar o êxtase desejado. Falar, aparentemente dá prazer. Dizem-se coisas. Dizem-se muitas coisas. Por tudo e por nada, ouvimos opiniões, sobre tudo, sobre todos. Dizemos muito, falamos muito, afirmamos muito mais e tantas vezes, sem saber, depois de tudo ter sido dito, nada dissemos. Quiçá daí resulte a sensação de poder quando dizemos. Encontrámos nas redes sociais uma espécie de cátedra confortável de inesgotável satisfação. Hoje, opinar é para todos. Sempre foi. Só mudou o alcance que, não sendo de janela em janela, passou a entrar nas casas de todos nós.

De todos os lados chovem comentários, opiniões, julgamentos, críticas e teorias. As disputas, outrora travadas em campos próprios, são hoje concretizadas a partir de um sofá, de uma cama, da uma mesa de escritório ou então na rua, no jardim e até no lodo.

Diz o povo – que ainda sabe umas coisas – que quem muito fala pouco acerta. Mas, será então possível que o inversamente proporcional se verifique? Verificando-se, quem muito acerta pouco fala. Esta é provavelmente a verdadeira alma do negócio. Sim, de facto quem muito tem falado sobre a pandemia, por exemplo, pouco tem acertado. Os que falam, pouco ou nada sabem e quem sabe, pouco ou nada diz. Aliás, quem sabe, provavelmente tem tido pouco tempo para o dizer, já que se tem dedicado a fazer.

Não podia, porém, falar de disputa sem referir um dos maiores e mais controversos nomes da História Universal. A propósito do bicentenário da morte de Napoleão Bonaparte (5 de maio de 1821), ocorre-me referi-lo já que, enquanto militar, dedicou tanto tempo à disputa. Não lhe chegou um reino, quis um império. Por isso conquistou, matou, saqueou.

Napoleão soube como ninguém entusiasmar os seus exércitos. “Se eu avançar, sigam-me. Se recuar, matem-me. Se morrer, vinguem-me.” Ideia que lhe é atribuída e que reflete o sentido de vida que este estadista arrogou para si.

Seja como for, é, no meio de tanto outros, um exemplo de como nos perdemos quando a nossa vida se resume à disputa. Disputamos a casa, o carro, as joias, as viagens. Disputamos por causa de quase tudo. É por essas disputas que dizemos tantas e tantas asneiras. É por culpa das disputas que perdemos tanto do que nos rodeia.

Napoleão acabou desterrado, isolado numa ilha sem poder voltar para junto dos seus. Há quem defenda que foi a melhor forma de evitar que ele manipulasse aqueles que o podiam escutar. Era considerado perigoso pelo que dizia, pelo entusiasmo que as suas palavras provocavam no coração de quem o escutava. Matá-lo poderia significar uma mística heroica que muitos não desejavam.

De facto, facilmente se confirma que “quem disputa diz asneira”, principalmente se o fizer em voz alta.

 

Professor e investigador