Quero começar por partilhar que, para mim, arraiais e diversão noturna, são manifestações culturais.
E como manifestações culturais que são, devem merecer a mesma atenção e o mesmo planeamento que todas as outras. Porventura são aquelas cujo planeamento se reveste de maior complexidade, mas isso não nos deve deter.
Mas o que é que têm em comum, diversão noturna e Santos Populares? São eventos para massas.
Venho há meses a alertar que precisamos de planear o desconfinamento. E planear desconfinamento é também planear o regresso às atividades em massa. Dito isto, quero clarificar que sou dos que entende que, com as informações que hoje dispomos, autorizar a realização de arraiais populares nos termos pré-pandemia é uma irresponsabilidade.
É verdade que a matriz de risco pode estar desadequada à realidade que vivemos. Desde logo porque o índice de transmissibilidade tinha maior relevância quando a taxa de mortalidade era elevada. Hoje, fruto do esforço de confinamento de todos e da chegada da vacina (administrada à população 50+ onde a taxa de mortalidade era elevadíssima), o número de mortes diárias diretamente relacionadas com este vírus reduziu para mínimos históricos.
Porém, significará isso que o pior já passou e que podemos relaxar e regressar a 2019?
Ninguém de bom senso poderá afirmar tal. Não se compreende o impacto das variantes e, sobretudo, não temos certezas definitivas quanto à eficácia da vacina.
No entanto, também não significa que tenhamos de continuar confinados.
Equilíbrio e planeamento são as chaves para a nossa vida em comunidade, nos tempos estranhos de pandemia que vivemos.
Todos os dias verificamos que a fadiga pandémica, definitivamente, se instalou. Há grupos de pessoas que se juntam depois do encerramento dos restaurantes, há festas clandestinas, porque simplesmente é difícil perceber os sinais contraditórios que o governo e as autoridades de saúde transmitem.
O Bairro Alto é disso exemplo, mas governo do País e DGS, continuam a não compreender que já devia existir um plano de ensaios para a abertura progressiva da diversão noturna e para o alargamento dos horários da restauração.
E depois dos exemplos mais recentes que vivemos, como podemos pedir a quem perdeu a sua vida social há meses que continue trancado e a abdicar do reencontro com a família e os amigos?
É um equilíbrio muito difícil.
E todos acompanhamos, de novo, os sinais contraditórios que nos são transmitidos. A Câmara Municipal de Lisboa anunciou que este ano não haverá, de novo, a realização de arraiais na cidade de Lisboa.
No mesmo dia em que a Diretora Geral da Saúde afirmou, a propósito da celebração dos Santos Populares, que “tudo pode ser feito desde que com contenção”.
A mesma responsável, lembrando as normas de distanciamento, uso de máscara e o evitar de grandes aglomerações, também dizia, “mas não podemos morrer na praia”.
Alguém acredita que com o decreto de não realização de arraiais oficiais as pessoas não vão sair à rua na noite de Santo António?
E o pior, é que poderá ser de forma desorganizada, de improviso, sem respeitar normas de segurança.
E depois vamos exigir à PSP que atue a jusante quando o Estado falhou a montante? Vamos exigir cargas policiais para dispersar as pessoas que estão frustradas porque ninguém planeou o desconfinamento?
Deveríamos ter organizado, a nível municipal, um conjunto de eventos onde, dentro dos recintos cada entidade se responsabilizava por assegurar condições de segurança, e na sua envolvente (para evitar acumulações), o Município, em articulação com a PSP e com a Polícia Municipal, criava todas as condições para manter a segurança de todos.
E de preferência, sem perderem emails.
Presidente da concelhia do PSD/Lisboa e presidente da Junta de Freguesia da Estrela