Gus Greensmith fez um percurso atípico até chegar aos ralis. Quis ser futebolista e passou cinco anos nas camadas jovens do Manchester City, onde foi “guarda-redes dos sete aos 12 anos, e não era mau na baliza”. A passagem pelos relvados terminou no preciso momento em que experimentou um kart. “Desisti do futebol quando me apercebi que ter um motor e quatro rodas era muito mais excitante. Quando se anda no limite, com árvores ao lado e perto de ter um acidente, o sentimento de superação é extraordinário. Para ser honesto, essa é a principal razão de gostar tanto de conduzir” fez questão de sublinhar o piloto da Ford, atualmente com 24 anos.
Não teve a menor dúvida em trocar de luvas e optar pelos automóveis, mas reconhece que a experiência no futebol foi importante: “Um guarda-redes tem reflexos muito apurados, isso ajudou-me a dar os primeiros passos no desporto automóvel.” Os ambientes são também muito diferentes, pois “os pilotos são pessoas mais fechadas, especialmente quando se trata de assuntos pessoais”.
Filho de um magnata do petróleo, contou com o apoio familiar numa fase inicial, mas isso teve um preço. “Fiz um acordo com o meu pai. Ele apoiava-me, mas, se tivesse más notas nos estudos, as corridas acabavam”. O jovem estudante/piloto cumpriu a palavra: “Falhei os reconhecimentos para o Rali de Portugal de 2015 porque estava na faculdade a fazer exames”, lembrou Gus Greensmith.
A sua primeira grande competição foi o campeonato do mundo de karting em 2012, onde defrontou pilotos como Charles Leclerc, atualmente na Ferrari. No ano seguinte, fez o campeonato britânico de ralis com um Nissan Micra o que “foi fundamental para ter a noção de velocidade”. O passo seguinte foi dado no WRC2, a antecâmara da elite, e, em 2019, chegou à primeira divisão do WRC (World Rally Championship). Estreou-se no Rali de Portugal, onde surpreendeu pela rapidez – chegou a andar em 7º – mas acabou fora de estrada. “Foi uma mega sensação ser piloto oficial da M-Sport Ford. Sempre pensei que esse dia iria chegar. Era uma questão de confiança”. Nessa temporada disputou três provas no WRC.
No Rali de Portugal deste ano terminou em 5.º com o Ford Fiesta WRC, com uma exibição muito segura, só um furo o impediu de ir ao pódio – “o ritmo e as performances foram boas. Igualei meu melhor resultado no campeonato do mundo, e temos condições para sermos mais fortes no futuro”.
Da faculdade para as florestas Adrien Fourmaux operou um verdadeiro “milagre médico” quando abdicou do curso de medicina para viver o seu sonho. Perdeu-se (por enquanto) um cirurgião, ganhou-se um piloto, hoje com 26 anos.
A aventura começou em 2016 quando foi distinguido pela federação francesa como o melhor jovem piloto, entre 5000 candidatos. Durante algum tempo conciliou os estudos com os ralis. Com o calendário a apertar, a medicina ficou em ponto morto (estava a frequentar o quarto ano…), mas teve a compensação de ser campeão francês na categoria Júnior em 2018. “Sempre estive muito concentrado nos estudos, mas quando surgiu a oportunidade de fazer ralis não podia recusar. A medicina foi a minha primeira escolha, mas sou apaixonado pela condução”.
A sua vida mudou com a formidável exibição no Rali de Monte Carlo de 2019 com um WRC2, a partir desse momento entrou no radar da M-Sport. “O meu objetivo é disputar o campeonato do mundo de ralis, mas tenho que mostrar que o mereço. Um piloto, tal como um médico, deve sempre questionar-se”.
Com comprovada capacidade para trabalhar sob pressão, e muito rigoroso na forma de abordar os ralis, referiu: “Não estou muito preocupado em comparar os meus tempos com os dos outros pilotos, estou mais focado em aprender”.
Com a paragem forçada do campeonato do mundo em 2020, o estudante de medicina, que se tornou piloto profissional, trocou o carro de ralis por um furgão para ajudar na distribuição de bens a quem estava na linha da frente na luta contra a covid-19.
A carreira de Adrien Fourmaux ganhou maior dimensão este ano com a entrada na equipa oficial da Ford para conduzir o Fiesta WRC. “Tenho a consciência do desafio que me espera, e estou determinado a fazer o melhor possível. Os ralis e a medicina exigem muito rigor, concentração e método de trabalho”.
O Rali de Portugal constituiu um duplo desafio: “Não conhecia a prova e nunca tinha conduzido um WRC em piso de terra”. O sexto lugar final deixou-o, por isso, satisfeito. “Foi dos ralis mais difíceis da minha carreira, algumas classificativas são incríveis. A condução nem sempre foi perfeita, mas aprendi imenso.”