Hóquei em patins. Meninas voando sobre rodinhas…

Hóquei em patins. Meninas voando sobre rodinhas…


Terminou, no domingo, a Liga dos Campeões feminina de hóquei em patins – como de habitual, passou despercebida apesar de termos tido três equipas portuguesas como candidatas – ganhou o Generali Palau de Plegamans.


Há uma velha frase que diz que o hóquei em patins é um desporto praticado num país (Portugal), numa região (Catalunha), numa cidade (Monza, em Itália, com a maioria dos clubes a serem vizinhos), e numa rua (em Córdoba, na Argentina, onde a grande maioria das organizações são porta com porta). Se nos restringirmos ao hóquei em patins feminino, podemos reduzir a frase ao país e à região.

Curiosamente, para os da minha geração, a patinagem era algo de feminino. É evidente que havia Adrião e Livramento, e Rendeiro, Xana e Sobrinho, e ainda fui ver muitos jogos ao pavilhão de Alvalade – em frente à 10A – e ao da Luz, barulhentamente encaixado debaixo do Terceiro Anel, mas no jardim zoológico eram sempre as meninas que dançavam sobre patins com aquela inesquecível e gigantesca figura cor de ébano que lhes ensinava os primeiros passos. Facto: o hóquei em patins feminino é praticamente ignorado entre nós, tal como o masculino é praticamente ignorado em toda a Europa e a despeito de ter sido inventado pelos ingleses que dominaram os primeiros títulos continentais.

No passado domingo, o Generali Paulau de Plegamans bateu na final o Voltregá (6-1) e conquistou a sua primeira Liga dos Campeões. Quase clandestinamente, estiveram três equipas portuguesas nos quartos-de-final desta prova que os catalães dominam a seu bel-prazer. O Clube Atlético de Campo d’Ourique foi eliminado pelo Telecable de Gijón (2-7), o Benfica foi afastado pelo Voltregá (2-3) e o surpreendente Stuart Hóquei Clube de Massamá não resistiu à força do futuro campeão (2-9).

Apesar de se apresentar praticamente como uma competição fantasma – em Portugal, dos grandes, só o Benfica aposta na modalidade; em Espanha, o Barcelona já foi 31 vezes campeão, desde que a competição se estabeleceu em 1970 (em Portugal só surgiu em 1992) – vale a pena notar que, tal e qual acontece com os homens – 8 vitórias de clubes nacionais, Sporting (3), Benfica (2), FC Porto (2) e Óquei de Barcelos (1), contra 46 dos espanhóis – é o cabo dos trabalhos para uma equipa portuguesa vencer esta competição.

A primeira edição da Liga dos Campeões feminina só teve lugar em 2007, com a fase final marcada para Sant Hipòlite de Voltregrá. Os da casa não chegaram à final que foi vencida pelo Club Patin Gijón (das Astúrias, vá lá!) perante o Arenys de Munt (1-0). Logo no ano seguinte, a decisão foi marcada para a Mealhada, e finalmente o Voltregá (domina a prova com 6 títulos) ganhou, batendo a primeira equipa portuguesa a chegar à final, a Fundação Nortecoope. Tivemos de esperar até 2013-14 para que os franceses do Noisy le Grand, aproveitando o facto de jogar em França, em Coutras, na Gironda, quebrar o ciclo de finais exclusivamente espanholas, apesar da derrota face ao Alcorcón (3-4). Em 2014-15 deu-se a única vitória portuguesa, graças ao Benfica, que em Manlleu, nos arredores de Barcelona, bateu os franceses do Coutras por 5-2 – em 2017-18 as encarnadas surgiram na terceira e última final de equipas nacionais, perdendo em Lisboa com o Gijón por 3-4.

Sobra uma devastadora superioridade dos nossos vizinhos do lado: 13 títulos (Voltregá 6, Gijón, 5, Alcorcón e Generali Palau de Plegamans com um) e nada leva a crer que esse círculo virtuoso e vitorioso vá algum dia ter fim, tal e qual como acontece com os homens que – e a despeito de este ano a final-four ter sido disputada por quatro clubes portugueses (Sporting, Benfica, FC Porto e Oliveirense) – têm andado verdadeiramente às beatas, tirando proveito de anos de menor fulgor dos campeões espanhóis. Para já, tudo leva a crer que a chegada de Sporting e FC Porto às provas femininas fariam o nosso campeonato mais competitivo – quebrando, quem sabe, a hegemonia do Benfica que já vai em sete títulos consecutivos.