Gdansk é um daqueles nomes que fazem tremer as traves mestras da História. Antiga cidade real da Polónia e maior porto do país, foi invadida pelos exércitos nazis de Adolf Hitler no dia 1 de Setembro de 1939 e a II Grande Guerra explodiu nesse momento. Hoje à noite serve de palco para a final da Liga Europa, entre o Manchester United e o Villareal, e é certo que se a vitória cair para o lado dos ingleses, não teremos apenas uma dupla vitória inglesa nas duas taças europeias em vigor, como não deixará ninguém surpreendido se colocarmos lado a lado, comparativamente, as armas ao dispor de cada conjunto.
“Submari Groguet”, apelidam carinhosamente os adeptos do Villareal o seu clube que só se estreou na Europa na época de 2002-03, na Taça Intertoto, ou melhor, numa fase da Taça Intertoto que se disputava no meio de uma tal confusão que chegava a ter três campeões numa só época, já que não tinham a decisão baseada em eliminatórias e sim em pontuações por grupo. O sarrabulho é de tal ordem que, mesmo que aqui registe duas vitórias dos valencianos na tal Intertoto, não tenho tempo nem espaço para explicar como lá chegou, algo que também foge ao espírito do artigo.
Submarino Amarelo, portanto. E há que dizer que, surgindo tão tarde nas compitas internacionais, o Villareal já soma nada menos de 34 jogos na Liga dos Campeões e um total de 125 na Liga Europa. Depois de ter atingido as meias-finais da então Taça UEFA, em 2003-04 (Valência, 0-0 e 0-1), repetiu o feito na Liga dos Campeões de 2005-06 (Arsenal, 0-0 e 0-1) e da Liga Europa de 2010-11 (FCPorto, 3-2 e 1-5), e de 2015-16 (Liverpool, 1-0 e 0-3). Esta época, uma final. Finalmente!
A zerificação total! Manchester United, a equipa dos Diabos Vermelhos, e Villareal vão encontrar-se pela quinta vez nas competições europeias. E, não têm muito para se orgulhar quando nos debruçamos sobre os quatro jogos anteriores. Acabaram todos como começaram: a zero. Pode falar-se da zerificação completa entre estes dois parceiros que, esta noite, vão ter de se tirar das suas tamanquinhas e fazer algo para que o jogo não embique na direção dos sempre irritantes desempates por grandes penalidades.
Entretanto, para confirmação dos vossos próprios olhos, aqui ficam os tais zeros de aborrecer as piranhas do Amazonas: 2005-06, Grupo D da Liga dos Campeões (no qual também estava o Benfica): 0-0 e 0-0, apurando-se o Villareal para a fase eliminatória na qual foi despachando gente fina destas lides, a começar pelo Rangers (1-1 e 2-2), seguindo-se o Inter de Milão (1-0 e 1-2) para ser afastado nas meias-finais pelo Arsenal, como já vimos.
O encontro posterior deu-se na época de 2008-09, de novo na fase de grupos da Liga dos Campeões: 0-0 e 0-0. Suficiente para deixar para trás Aalborg e Celtic, encontrando nos oitavos-de-final o Panathinaikos (1-1 e 2-1) para cair aos pés do amaldiçoado Arsenal (1-1 e 0-3). Esta época a vingança foi dura ao tirar o Arsenal da Liga Europa nas meias finais (2-1 e 0-0), impedindo essa enormidade que seria ter quatro ingleses nas finais que esta semana se vão decidir.
O Manchester United, agora recomposto de alguma desorganização que acompanhou a chegada de Ole Gunner Solskjaer, é um velho e relho fidalgo de tudo quanto é taças da Europa, tendo tido a sua estreia na tão longínqua época de 1956-57. À sexta presença, já somava quatro meias-finais. Em 1967 bateu o Benfica na final de Wembley e tornou-se na primeira equipa inglesa a ganhar a Taça dos Campeões Europeus, tendo-lhe somado mais duas em 1998-99 e 2007-08, além de uma Taça das Taças, em 1990-91 – precisamente o ano em que os clubes ingleses cumpriram o seu castigo de ter sido banidos da Europa por cinco épocas – e uma Liga Europa bem recente, em 2016-17.
Se tudo se reduzisse a números, quase que mais valia entregarem logo o troféu em Old Trafford. Mas do outro lá da barricada está uma força demolidora. Chama-se Unai Emery Etxegoien, nasceu em Hondarribia, no País Basco no dia 3 de Novembro de 1971, fez uma carreira modesta como jogador e é, hoje em dia, o técnico verdadeiramente especialista em vencer Ligas da Europa. Até ao momento, esta será a sua quinta final da competição, tendo vencido três com o Sevilha (2013–14, 2014–15, 2015–16) e chegado ao jogo decisivo com o Arsenal em 2018-19. Impressionante!
Não admira que os “hinchas” do Submarino Amarelo confiem no seu treinador em toda a plenitude. Se o sétimo lugar na Liga Espanhola não foi digno de festejos, Emery estará pronto para meter outra vez as mãos na segunda taça mais importante das competições entre clubes europeus. Se alguém pode provocar medo aos Diabos Vermelhos é ele. E deseja-se que não se repitam os zero-a-zeros.