1. Duas semanas depois de ter mandado instaurar um inquérito às circunstâncias que permitiram que largos milhares de pessoas se juntassem nos festejos do campeonato ganho com todo mérito pelo Sporting, não se passou rigorosamente nada. A culpa vai morrer solteira e o tempo irá diluir as responsabilidades. É uma estratégia óbvia que isenta o Governo na pessoa de Cabrita, a Câmara de Lisboa, a PSP, a DGS e o clube.
O inquérito vai juntar-se a outros que nunca se concluíram, apesar de anunciados com fanfarronice. Só que, desta vez, a questão é mais grave. Isto porque é inevitável associar a grande concentração ao aumento de contágios que estamos a verificar em termos de pandemia. Por mais que se diga que, de tudo aquilo, só resultaram mais 20 casos detetados, é óbvio que se trata de uma explicação inverosímil. É verdade que a multiplicação de doentes já não tem as consequências de há meses, em que num instante se enchiam os cuidados intensivos e crescia assustadoramente o número de mortes.
Com a vacinação em massa, as coisas são menos perigosas, sobretudo para os mais velhos. Ainda bem. Mas, enquanto os critérios de medição não forem alterados, Portugal inteiro está em perigo de voltar atrás, atrasando o tímido relançamento a que assistimos com a retoma do turismo. O vírus chinês não desapareceu. Anda por todo lado na versão original e nas suas perigosas variantes. É preciso atuar sempre preventivamente com a maior responsabilidade, face à evolução da situação. Ora, foi exatamente o contrário disso que sucedeu quando o ministro Cabrita falhou. Deveria ser corrido do Governo, sair pelo seu pé ou, pelo menos, assumir a sua quota parte de responsabilidade. Mas não. Serve de escudo a António Costa, enquanto o tempo vai diluindo o caso. Só falta a culpa ser endossada ao Vieira e ao Jesus, que não ganharam o campeonato!
2. A convenção do Bloco de Esquerda teve poucas novidades. Às críticas ao PS, à confirmação de Louçã como uma espécie de Papa Emérito do Grupo, juntou-se, na intervenção final, um previsível discurso de Catarina Martins focado no ataque a Rui Rio, pela sua normalização do Chega. Catarina cumpriu totalmente com a missão de manter o PS no poder, qualificando-o de moderado e radicalizando o PSD. António Costa deve já ter mandado um gigantesco ramo de cravos à líder bloquista. Catarina tornou óbvio que o Bloco tem pouco espaço de crescimento. O momento glorioso da reunião foi a visão profética de Louçã sobre Mariana Mortágua ministra das Finanças. Já temos a nossa Varoufakis, que abriu portas à direita grega e desgraçou ainda mais as finanças helénicas. Nem Ventura pede tanto!
3. Segundo a imprensa, funcionários do PSD estão a ser chamados ao Ministério Público no quadro de um inquérito ao suposto pagamento de salários de funcionários do partido através da Assembleia da República. Essa alegada prática constituiria um financiamento partidário ilegal. No PSD, a gestão das matérias de recursos humanos e de finanças tem sido entregue a Hugo Carneiro, deputado e secretário-geral adjunto, muito próximo de Rio. A comprovar-se uma prática ilegal, haverá que questionar se Carneiro mantém condições para um dia regressar ao seu lugar de origem no Banco de Portugal, uma instituição que, agora com Mário Centeno, está a tentar recuperar a sua credibilidade, fortemente abalada nos últimos anos. Todos os quadros do BdP devem realmente voltar a ter um perfil à prova de bala, como sucedia até à sua politização.
4. O Conselho de Jurisdição do PSD não sancionou e apenas repreendeu Rui Rio por não ter acatado uma decisão do congresso que impunha ao partido que pugnasse no Parlamento pela convocação de um referendo sobre a Eutanásia. A decisão foi dar liberdade de voto aos deputados quando a matéria foi discutida. As culpas foram transferidas para Adão Silva, o líder parlamentar, que levou uma repreensão, a pena mais leve, mas muito simbólica, dado o seu estatuto. É o típico resultado à portuguesa. Ninguém se aleija. Ninguém perde a face, começando no presidente do Conselho de Jurisdição e acabando no líder do partido que até tinha admitido a hipótese de se autossuspender se fosse sancionado. Antes assim, para que se concentrem todos nas autárquicas e em fazer oposição ao Governo.
5. As eleições autárquicas são as únicas que compete ao Governo marcar. Neste momento há três hipóteses, com as suas vantagens e inconvenientes. São elas 26 de setembro, e 3 ou 10 de outubro. Em setembro ainda há gente de férias, embora haja alguma antecipação na reabertura de aulas. O 3 de outubro colide com uma possível ponte. O dia 10 é, pois, o mais provável. Se assim for, as eleições têm de ser marcadas em julho, devendo as coligações e as listas de candidatos ser fechadas em agosto. Uma azáfama estival.
6. Há sempre uma Odemira perto de si. A dois passos de Lisboa, na Quinta do Anjo, Palmela, junto a uma urbanização com golfe e tudo, nasceu um campo fotovoltaico e, agora, uma vasta área de estufas. É a nossa agricultura industrial que aproveita qualquer local, mesmo em sítios improváveis. Claro que nas imediações andam migrantes que demandam o nosso país na legitima busca de trabalho. Esperemos que as autoridades locais não deixem de verificar as condições de habitação em que se encontram estes trabalhadores. Carlos Sousa, um autarca de referência que dirigiu Setúbal, é agora candidato e favorito em Palmela. É bom que esteja atento no seu programa, até porque aquele concelho é dos que mais exporta no país, ou não tivesse lá a Autoeuropa e magníficos produtores de vinhos. Fica o alerta. Palmela merece melhor gestão do que tem.
7. Pela primeira vez em vários anos, uma assembleia geral (AG) da mutualista Montepio Geral não foi totalmente controlada por Tomás Correia ou herdeiros. Aconteceu no passado dia 17. À reunião magna compareceram muitos mutualistas que travaram uma tentativa de impor um regulamento eleitoral para os órgãos sociais que continuaria a perpetuar o grupo que trouxe o universo Montepio para uma situação calamitosa. Desta vez, porém, alguns dos 600 mil mutualistas decidiram mostrar que não estão disponíveis para fazer figura de corpo presente, enquanto outros põem e dispõem de tudo, perante a passividade das autoridades de supervisão e, durante muito tempo, dos próprios auditores contratados.
Mesmo assim, o grupo instalado no poder fez circular uma informação, segundo a qual o novo regulamento eleitoral tinha sido aprovado, o que é falso. Lamentavelmente, a Lusa e outros órgãos de informação, reproduziram essa comunicação. Esta fake news destinava-se a desmobilizar a participação na AG que estava a fugir ao controlo do grupo dirigente, apesar dos esforços feitos pelo malicioso padre Melícias na condução dos trabalhos. Na verdade, estes apenas foram suspensos. Recomeçam hoje à noite. Espera-se que contribuam para o Montepio encetar a transformação que lhe devolva a credibilidade que merece uma instituição com 180 anos. As eleições previstas para o fim do ano serão decisivas.