Rankings das escolas.  “Há que arrancar a máscara”

Rankings das escolas. “Há que arrancar a máscara”


Dirigentes associativos veem os rankings como um processo pouco democrático que veio, em tempo de pandemia, acentuar ainda mais as desigualdades.


Discutem-se hoje mais uma vez os rankings das escolas: é o vigésimo ano em que se analisa a posição de cada escola secundária e de 3º ciclo com base nos resultados dos exames dos seus alunos. No ano passado, primeiro de pandemia, foram feitos apenas os exames necessários para que os alunos entrassem na faculdade, sendo por isso a amostra de resultados a analisar ainda mais reduzida. Este ano, a situação repete-se e diretores escolares só estão de acordo numa coisa: em não concordar com este método avaliativo.

Arrancar a máscara “Os rankings tratam de graduar as escolas numa falaciosa tabela classificativa à qual, de uma vez por todas, há que arrancar a máscara”, começa por dizer Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), ao i.

O professor e diretor escolar lembra que “os rankings revelam uma ínfima parte do trabalho dos alunos, revelam uma hora e meia de três anos”. Por isso defende que é necessário relativizar os resultados.

“Nem se devia chamar ranking das escolas mas sim ranking dos alunos”, sublinha Filinto Lima, acrescentando que “as escolas devem preparar os seus alunos para o ensino superior e não simplesmente para o acesso ao mesmo”.

Acentuar desigualdades Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), crê que os rankings são baseados “em critérios pouco democráticos e que, de alguma forma, permitem que algumas escolas sobressaiam sobre outras independente do trabalho que cada uma faz”.

O dirigente associativo considera impossível comparar, “por exemplo, uma escola da linha de Cascais, onde quase toda a gente tem emprego e formação superior, a uma escola do interior do país, que se situa numa zona rural, onde são mais comuns os problemas de ordem social e económica”. A situação pandémica veio acentuar as desigualdades que para alguns ainda não eram visíveis a olho nu. “Antes da pandemia, as escolas já eram o reflexo da comunidade mas os alunos estavam todos na escola e encontravam-se relativamente em pé de igualdade”, explica Manuel Pereira. Já durante a pandemia, o cenário não é, de todo, o mesmo: “Os alunos que tinham apoio em casa, naturalmente tiveram mais resultados do que aqueles que não tinham apoio em casa”.

Os rankings, que são calculados através dos resultados obtidos nos exames nacionais – e não são realizados a todas as disciplinas que os alunos têm – este ano vão basear-se no resultado de estudos que os alunos fizeram maioritariamente a partir de casa, em aulas online.

O diretor da ANDE afirma que não se pode “deixar de olhar para este fator como um fator que desequilibra e que criou um fosso maior entre os alunos que têm apoio e famílias estruturadas e aqueles que não têm”.

Apesar de afirmar que este método de avaliação cria “situações de absolutização que não são nada bons para o processo de aprendizagem”, Manuel Pereira não fecha os olhos e diz que “independentemente de não concordarmos com eles também não vamos dizer que somos cegos e que não olhamos para eles”.

O que aconteceu no ano passado? Em 2019, foram analisadas 1870 escolas – 629 eram do secundário (11º e 12º) e 1241 do básico (9º ano). Relativamente ao nono ano, o primeiro lugar foi para o Externato Escravas Sagrado Coração de Jesus e apenas uma escola pública teve lugar no top 20: a Escola Artística de Música do Conservatório Nacional. No que toca ao ensino secundário, a melhor classificação foi de 15,47 valores, no Colégio Nossa Senhora do Rosário. A primeira escola pública aparece em 38º lugar.

Como foram raros as aspetos que não tiveram de sofrer ajustes devido à pandemia, também o acesso ao ensino superior entrou nesta lista.

No ano passado as notas dadas pelos professores tiveram um maior peso no acesso à universidade, sendo que os exames deixarem de afetar a média interna. Assim, foram várias as escolas em que se notou uma maior discrepância entre a nota final do exame e a média interna do aluno, levando a Inspeção-Geral da Educação (IGEC) a estar alerta. Entre as escolas onde se fizeram notar os maiores desvios, ficaram as privadas, com prevalência nos distritos a Norte.

A inflação das notas por parte dos professores é algo a que se tem prestado atenção, uma vez que pode enviesar o acesso ao ensino superior.