"O futebol é um romance. Assim como nos bons livros, o final é sempre inesperado”.
Paulo Coelho
Sou do Sporting desde de nasci – e já lá vão uns anitos – e estou obviamente feliz pela vitória no campeonato de futebol. Como fico feliz com tantas vitórias em campeonatos de outras modalidades.
Aprendi com o meu pai a ir a Alvalade, ainda pela mão dele. Eu era a sua companhia preferida naqueles domingos em que começávamos, logo de manhã, a ver os juniores e às vezes as “reservas”, como se chamava naquele tempo as hoje denominadas equipas B.
Depois do almoço, lá voltávamos a Alvalade para ver os seniores, às três da tarde.
Cada jogo era, para mim, uma festa. Havia o momento do nogat, no intervalo, ou do “estica”, um chupa-chupa que se colava ao céu-da-boca, mas que era delicioso.
O meu pai sofria muito com o jogo. Eu, solidário, também.
O caminho de regresso era normalmente feito a pé, com passagem pela Quinta de S. Vicente, onde eu tinha direito a um Sumol.
Os dias do futebol eram, portanto, bem preenchidos.
Nunca deixei de ser do Sporting, embora a paixão pelo futebol se resuma apenas aos 90 minutos do jogo. Tudo o resto – ou quase tudo – me é indiferente ou, muitas vezes, me revolte.
Falo, obviamente, do mundo do futebol, um local muito pouco recomendável.
E falo também da violência, que muitos justificam, erradamente, com paixão.
Gostar de futebol e vê-lo como um desporto como qualquer outro é exatamente o contrário. A violência é o oposto do desporto.
É por isso que, em homenagem ao meu pai, que me ensinou a saber ganhar e a saber perder, raramente assisto no estádio a um jogo de futebol.
Tenho pena que o jogo se tenha transformado num pretexto para a prática de vários crimes e que sirva muitas vezes de capa para enriquecimentos injustificados, ao mesmo tempo que futebol e política se misturam, para benefício de alguns.
É por isso que vibrei com a vitória do Sporting no campeonato de futebol, ao mesmo tempo que me indignei com o que passou fora do estádio de Alvalade.
A ineficácia das autoridades só tem justificação porque se trata de futebol.
Infelizmente, o futebol é muito mais do que um jogo.
Jornalista