Traíram o poeta-soldado


Sem dar por ela, cheguei à idade de começar a ser avô. Para já, avô dos netos dos primos/amigos/irmãos que me devolvem aos dias dos meus filhos ainda meninos, agora adultos mas para sempre meninos cá dentro no enorme lugar que lhes pertence.


Com o meu companheiro Bernardo Trindade, carrego quilos de livros a caminho de Águeda e à casa cor-de-rosa que fica precisamente na esquina da ternura onde morou, em tempos, a minha infância. É na infância que nos explicam a maldade, mas é como adultos que percebemos todas as faces horrendas que ela nos pode mostrar.

A crapulosa mãe que me roubou a minha filha Francisca para a entregar a um pai de plástico com a conivência cavernícula dessa seita do Ministério Público (uma organização proto-fascista cujos resultados são imagem da mais pura incompetência), não se limitou a tirar-lhe um pai. Tirou-lhe também avós e tios e  irmãos e primos, alguns tão iguais a ela que só a estupidez fingida pode continuar ainda a alimentar-lhe a grotesca vidinha parola e social na qual passa escondida nas sombras daquilo que realmente é – uma mentira em forma de mulher.

O poeta Luís Augusto Palmeirim, que foi seu antepassado autêntico e hoje daria voltas na tumba se tivesse consciência da indignidade de certa gente a quem deixou o nome, escrevia ao estilo ultra-romântico que foi o seu: “Sou um poeta-soldado/Não sei à missão mentir/Neste canto magoado/Disse tudo sem fingir”. Frequentou o colégio militar, pegou em armas para se juntar aos revolucionários de Maria da Fonte contra Costa Cabral, foi jornalista e dramaturgo, tradutor e contista. Era, como se dizia, gente de bem.

O que só serve para provar que de boas raízes brotam ervas daninhas. Poeta-soldado na estrada que conduz a Águeda que foi, para além de tudo, a terra da minha mais alegre liberdade, bate-me  o coração com mais força quando a estrada começa a subir depois da ponte. É aí que habitarão para sempre os meus princípios. Que não se vergam à canalha.


Traíram o poeta-soldado


Sem dar por ela, cheguei à idade de começar a ser avô. Para já, avô dos netos dos primos/amigos/irmãos que me devolvem aos dias dos meus filhos ainda meninos, agora adultos mas para sempre meninos cá dentro no enorme lugar que lhes pertence.


Com o meu companheiro Bernardo Trindade, carrego quilos de livros a caminho de Águeda e à casa cor-de-rosa que fica precisamente na esquina da ternura onde morou, em tempos, a minha infância. É na infância que nos explicam a maldade, mas é como adultos que percebemos todas as faces horrendas que ela nos pode mostrar.

A crapulosa mãe que me roubou a minha filha Francisca para a entregar a um pai de plástico com a conivência cavernícula dessa seita do Ministério Público (uma organização proto-fascista cujos resultados são imagem da mais pura incompetência), não se limitou a tirar-lhe um pai. Tirou-lhe também avós e tios e  irmãos e primos, alguns tão iguais a ela que só a estupidez fingida pode continuar ainda a alimentar-lhe a grotesca vidinha parola e social na qual passa escondida nas sombras daquilo que realmente é – uma mentira em forma de mulher.

O poeta Luís Augusto Palmeirim, que foi seu antepassado autêntico e hoje daria voltas na tumba se tivesse consciência da indignidade de certa gente a quem deixou o nome, escrevia ao estilo ultra-romântico que foi o seu: “Sou um poeta-soldado/Não sei à missão mentir/Neste canto magoado/Disse tudo sem fingir”. Frequentou o colégio militar, pegou em armas para se juntar aos revolucionários de Maria da Fonte contra Costa Cabral, foi jornalista e dramaturgo, tradutor e contista. Era, como se dizia, gente de bem.

O que só serve para provar que de boas raízes brotam ervas daninhas. Poeta-soldado na estrada que conduz a Águeda que foi, para além de tudo, a terra da minha mais alegre liberdade, bate-me  o coração com mais força quando a estrada começa a subir depois da ponte. É aí que habitarão para sempre os meus princípios. Que não se vergam à canalha.