Portugal poderá vir a ser a sede das empresas internacionais de transporte marítimo (Shipping)?
Eu penso que sim, tal como muitos atores do mar e não só, e uma prova evidente foram as amplas manifestações de apoio quando foi enunciada a intenção da criação de uma associação, que ocorreu recentemente designando-se esta por A4S – Associação 4 Shipping.
Atrasada pelo processo burocrático da sua legalização, resultante do momento pandémico que atravessamos, a A4S será certamente um passo de enorme importância para projetar o território português internacionalmente, e em particular Lisboa e a sua ampla região, como um Centro Internacional de Shipping, permitirá a emersão de um parceiro com capacidade de agregar e agir como interface entre os diversos atores económicos, educativos/formativos, ambientais, sociais e políticos associados ao mar que certamente contribuirão para o incremento e melhora das ações de política pública desta temática ─ transportes marítimos (shipping).
Também, através desta associação podemos melhorar a capacidade de diálogo e concertação, promover e tornar mais atrativo e competitivo o nosso território, e assegurar de forma coerente e consistente a sua promoção junto das empresas internacionais de transporte marítimo (shipping) de modo a que o vislumbrem como um possível destino futuro da sua sede.
Como provavelmente a existência deste novo player pode ajudar a que o governo venha a clarificar com precisão o responsável governamental pela política pública dos transportes marítimos, pois a atual situação é caracterizada por uma inação absoluta, deixando este setor de enorme relevância económica e social votado ao abandono.
Ora, tal é incompreensível, pois como é sabido esta atividade ─ shipping ─, de enorme valor económico e social, nacional e internacional, é o elo fundamental, mais eficaz e rápido para assegurar as rotas do transporte dos produtos importados e ou exportados, bem como da promoção de uma parte da interculturalidade entre povos proporcionada pela atividade do cruzeirismo.
Não sendo também de menosprezar a sua dimensão e diversidade de atuação, o que a torna dependente da necessidade de adquirir para a realização das suas atividades um conjunto de bens transacionáveis provenientes da agricultura, madeira e aglomerados, metalomecânica, construção e reparação naval, robótica, IA, automação, energéticos etc., setores nos quais Portugal é produtor e tem um enorme conhecimento e saber. É ainda uma atividade geradora de enorme capacidade de empregabilidade, e de uma contínua absorção de soluções criativas e inovadoras.
Pelo que agir no sentido de conseguir trazer para o território português a sede destas empresas internacionais é potenciar a economia portuguesa nas suas diferentes variáveis, gerar emprego, aumentar a capacidade de financiamento das atividades marítimas e outras a si associadas, ou seja em termos práticos e objetivos aumentar a relevância estratégica do “Mar português” no plano europeu e internacional.
O país já oferece hoje excelentes condições, bom clima, povo afável, segurança, níveis altos de formação, excelente capacidade empreendedora e de inovação, circunstâncias que revelam uma excelente oportunidade desde que os nossos atores públicos (governo e autarquias) e privados ajam concertadamente no sentido de melhorar algumas questões, nomeadamente no quadro legal desta atividade no âmbito da segurança social e fiscalidade, dando inclusive continuidade às ações que o governo vinha a executar num passado recente.
Pelo que o papel que esta recente associação pode vir a desempenhar para cimentar o reconhecimento do território nacional como um centro Internacional de shipping, convencendo as empresas de transporte marítimo, em particular todas aquelas que já tenham no seu modelo de governança e nas ações concretas da atividade da empresa um rumo que induza à descarbonização e preservação do ecossistema marinho a sedearem-se no nosso país, poderá contribuir como um impulsionador para o crescimento e desenvolvimento do “Mar português”, de forma abrangente e transversal a outros setores económicos do país direta ou indiretamente relacionados, tal como o turismo, a agricultura, a metalomecânica, finanças e seguros.