O que falta a Lisboa para se tornar numa “magnet city”?


Assim como as empresas competem entre si por mais clientes, também as cidades contemporâneas competem entre elas por mais residentes, investimento e projeção internacional.


O conceito de “magnet city” é definido pela capacidade que uma cidade revela para atrair ou repelir pessoas, sendo este conceito cada vez mais abordado nas estratégias, programações e implementações dos planeamentos urbanísticos e na definição das políticas públicas municipais.

Uma cidade que tenha uma forte capacidade de atração é um foco de interesse para captar novos residentes, turistas e investimento em negócios, que misturados resultam em ideias inovadoras, novas áreas de investimento, requalificação das infraestruturas existentes e aumento da taxa de emprego. Por oposição, uma cidade que se encontre num movimento tendencialmente inverso, repele, tal e qual um íman, os seus residentes e afasta o investimento económico, conduzindo ao desemprego, à medida que os estabelecimentos vão encerrando. Usualmente, o primeiro indicador desta tendência é a desertificação do coração da cidade, com o encerramento dos estabelecimentos comerciais e das unidades hoteleiras.

O regresso da cidade-Estado, uma realidade progressiva e iminente, verifica-se na proporção em que a sua autonomia, assente na vertente económica e política, aumenta perante o Estado central, bem como a sua rede internacional lhe permite aceder a outras âncoras de perspetivas que a emancipam da conjuntura nacional. Assim como as empresas competem entre si por mais clientes, também as cidades contemporâneas competem entre elas por mais residentes, mais investimento e maior projeção internacional. Ao fim e ao cabo, cidades como Londres, Paris, Nova Iorque, Singapura e outras, construíram a sua própria marca, exportando-a além-fronteiras, num mercado internacional competitivo, em que concorrem para a captação de eventos internacionais, para o aumento da sua taxa de turistas, para acolher sedes de empresas multinacionais, etc… Atualmente, podemos observar que são muitas as cidades que estão na vanguarda da reabilitação urbana, nas políticas verdes e energéticas, nas redes de transporte e inclusive na relação estabelecida com o cidadão, quando comparadas com o desempenho do poder central nestas áreas.

O que determina a capacidade de atração de uma cidade ou o que faz com que os residentes desejem abandonar uma cidade e trocá-la por uma outra?

São várias as razões que levam um cidadão a mudar de cidade: o elevado preço da habitação, o congestionamento do trânsito, poluição extrema, instabilidade social, desemprego, etc… Problemas que pela sua transversalidade e dimensão não podem ser tratados exclusivamente pelo poder municipal, sendo imperativo que, para a sua resolução, sejam convocados outros parceiros, partes interessadas na inversão de uma tendência de repulsa: académicos, empresários, líderes associativos, partidos políticos que estejam na oposição, investidores, grupos de cidadãos da comunidade… Mas, acima de tudo, é necessário visão, liderança e perseverança nos objetivos a atingir.

Os postulados para reunir as condições de uma cidade ser adjetivada como “magnet” assentam em indicadores que demonstram a atração de jovens criadores de riqueza e conhecimento; que a cidade se renova fisicamente com frequência; que a identidade da cidade está bem definida; que a cidade está conectada a outras cidades, fazendo parte de várias redes de cidades existentes; que a inovação e a tecnologia borbulham, originando ideias criativas e diferenciadoras; e que a cidade procura o seu autofinanciamento, atraindo o investimento privado, bolsas de investigação, em detrimento da dependência dos apoios estatais.

A promessa de uma melhor qualidade de vida concorre, primordialmente, para a decisão de escolha de uma cidade, associada ao clima e às condições de acesso e de saída da cidade escolhida. Mas há outros fatores de igual relevância que são motores de busca para os possíveis novos residentes: a cultura, a inclusão e a juventude. Uma cidade com uma população jovem tem outro tipo de infraestruturas e de ofertas para momentos de lazer que não se encontram em comunidades mais envelhecidas. A efervescência própria da dinâmica de uma comunidade jovem beneficia, quando bem acautelada e projetada, as gerações mais envelhecidas que necessitam de respostas inovadoras para os problemas de sempre. Esta conjugação entre novos e velhos é sinónimo de uma harmonia desejável e ambicionada para uma comunidade plena e enriquecida socialmente.

E Lisboa? Qual a estratégia a seguir para caminharmos rumo a uma cidade cosmopolita e atrativa para novos investidores, investigadores, jovens criativos e outros tantos que valorizem a quantidade de horas de sol que temos por ano, a luz que o Tejo reflete sobre as ruas da cidade, a paz e segurança que nos permite passear pela cidade ao anoitecer?

 

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