O título desta crónica não é lapso, nem, acredito eu, ousadia extrema. Este texto insere-se numa coluna intitulada Politica 4.0 que aqui publico semanalmente há quase cinco anos, e que mantém o seu título porque a política concreta ainda vive demasiado em silos, máquinas doutros tempos e práticas que não incorporam todo o potencial das redes para aumentar a transparência, a mobilização e a participação cívica. Este quadro está a mudar todos os dias, com boas e com más intenções, mas na minha avaliação, olhar a politica numa perspetiva 4.0 continua a fazer todo o sentido e a posicionar-se uns passos à frente das dinâmicas concretas, como forma de as tentar antecipar e influenciar.
Ao mesmo tempo na organização económica e social um pouco por todo o mundo, a Internet das Coisas puxada pelo 5 G avança como uma onda imparável, enquanto nos laboratórios de prospetiva e investigação fundamental se começa a esboçar a rede de redes que dará corpo ao 6G.
O caminho percorrido até aqui tem sido desenvolvido sobre uma internet em evolução permanente, mas gerida, não sem atropelos e exceções, pelas redes de utilizadores, a partir de organismos independentes e sobre o patrocínio da Organização das Nações Unidas. Dificilmente essa boa prática resistirá à aceleração da segunda vaga da digitalização. É por isso essencial esboçar os alicerces éticos e políticos de governação do mundo novo, que designei de mundo 7.0.
Já usei neste espaço a sabedoria do grande poeta popular algarvio António Aleixo, quando a propósito das “fakenews” e da dificuldade de separar a verdade da mentira nos novos discursos de manipulação, lembrei a sua quadra que nos diz que “A mentira para ser segura/ E atingir profundidade/ Tem que trazer à mistura/ Qualquer coisa de verdade”. Ao falar de um mundo novo, Aleixo veio-me de novo à memória alertando-me para a necessária contenção. Escreveu o poeta “Vós que lá do vosso império/ Prometeis um mundo novo/ Calai-vos que pode o povo/ Querer um mundo novo a sério.
Mesmo com esta consciência, acho que não nos devemos cala, porque numa semana em que ainda temos dentro de nós os fortes sentimentos de liberdade que reviver abril sempre despertam, o meu maior desejo é que o povo queira mesmo um mundo novo a sério. Um mundo novo mais justo, mais sustentável e menos desigual.
Na passada semana, com forte empenho da Presidência Portuguesa da UE, a União conseguiu um ambicioso acordo institucional sobre a lei do clima. Na mesma semana Joe Biden juntou mais de 40 líderes mundiais na sua cimeira do Clima e a Comissão Europeia definiu o quadro ético para o desenvolvimento da Inteligência Artificial. Esta semana o Parlamento Europeu expressará o acordo final dos povos europeus a programas como o Horizonte Europa incluindo a criação do Instituto Tecnológico Europeu, o Europa Digital e o Programa Europeu do Espaço (nestes dois últimos representei os Socialistas e Democratas nas negociações como relator sombra).
Se este não é o tempo para o lançamento de uma nova governação 7.0 então quando será? Dia de S. Nunca a tarde é uma resposta popular, mas que não me convence.
Eurodeputado