O jogo está marcado para este sábado, dia 1º de Maio, em Dortmund. O Borussia recebe, para uma das meias-finais da Taça da Alemanha, uma equipa da II Divisão com o sumptuoso nome de Kieler Sportvereinigung Holstein von 1900 e.V., vetusta instituição cuja fundação data de 7 de outubro de 1900 e celebrará, não tarda, os seus 120 de existência.
Claro que ninguém fez ao Kiel, como é mais popularmente conhecido, nenhuma espécie de favor. A sua tarefa até este momento foi realizada passo a passo e com toda a competência. Ora vejam: 1. FC Rielasingen-Arlen (7-1); Bayern de Munique (2-2 após prolongamento e 6-5 no desempate por grandes penalidades); Darmstadt-98 (1-1 após prolongamento e 8-7 no desempate por grandes penalidades); e Rot-Weiss Essen (3-0). Que não haja o atrevimento de tirar o mérito de um pequeno clube que deixou bem cedo pelo caminho o campeão da Europa, Bayern de Munique.
As Cegonhas: é assim que os adeptos os conhecem. Voam alto nos céus da Germânia à medida que a época corre para o seu final. Em quartos na classificação da II Bundesliga, a onze pontos do primeiro (Bochum) e a cinco do segundo (Greuther Fürth), a subida parece ser um assunto adiado.
Calma, no entanto, se estão por aí a casquinar que esta rapaziada da província do Schleswig-Holstein é apenas um grupo de labregos a dar largas à sua perene alegria. De parolos não têm nada e, em relação ao futebol alemão, têm posto de honra da velha aristocracia agora reduzida a uma antiga opulência. No Campeonato Alemão, nome com que foi criada, em 1903, aquilo que é a atual Bundesliga, o Kiel teve o seu zénite glorioso no ano de 1912, quando conquistou uma obra de museu, a Viktoria, uma estatueta em prata representado a deusa romana da vitória que servia para premiar os campeões alemães. É o único título nacional que embolsou, embora em termos regionais some troféus atrás de troféus, desde a Gauliga Nordmark à Gauliga Schleswig-Holtstein, passando pela Regionalliga Nord, pela Oberliga Nord e pela Schleswig-Holstein Cup.
União. Como muitos clubes alemães, o Kil nasceu de uma fusão. Neste caso entre o Kieler Fußball-Verein von 1900 e o Kieler Fußball-Club Holstein. Os primeiros anos foram de sucesso e 1910 trouxe a final perdida por 0-1 após prolongamento frente ao Karlsrüher. O Campeonato Alemão jogava-se a eliminatórias para obviar o excesso de deslocações. A desforra surgiu dois anos mais tarde contra o mesmo adversário e pelo mesmo resultado.
A I Grande Guerra devastou muitos clubes alemães e o Kiel foi um deles. Os jovens perdiam as vidas nas trincheiras em vez de as ganharem nos campos de futebol. Os custos foram duros e a equipa perdeu capacidade competitiva, a despeito de ter conseguido chegar a uma nova final do campeonato alemão em 1930, sendo derrotados pelo Hertha de Berlim por 4-5.
Se a primeira das guerras foi terrível, o III Reich não revelou qualquer sensibilidade para com as organizações desportivas alemãs. O futebol foi reorganizado em Gauligas, conforme as regiões, e só ultrapassando essa fase era possível disputar o campeonato principal. Quando a II Guerra chegou ao fim, ergue-se a Budesliga (a nível nacional por completo) e o Kiel andou meio a boiar entre a II e a III, sem grandes perspetivas desportivas e económicas. Recentemente, abriu uma parceria com um grupo americano, o San Francisco Glens, pertencente à United States League II, e projetou-se para um futuro de estabilidade na I Divisão. Até lá é preciso suar a camisola até a deixar encharcada. Mas a meia-final da Taça da Alemanha neste sábado serve para provar que o caminho pode ser esse…