Se António de Oliveira Salazar tinha como alcunha trocista OBotas, por via do calçado que usava invariavelmente, ao comemorarem-se os 25 anos da sua chegada ao poder, precisamente no dia 27 e abril, o lambe-botismo tomou de assalto todos os periódicos deste país que parecia existir apenas pela sua inquebrável vontade. “Entre Abril de 1928 e Julho de 1932, como Ministro das Finanças, toda a sua tarefa foi executada em termos exemplares”, podia ler-se num vespertino lisboeta.
“O restabelecimento o equilíbrio orçamental, seguido do saneamento das finanças públicas e da moeda, eram considerados pelo novo ministro como uma condição indispensável de toda uma vasta obra de ressurgimento nacional que tinha em vista. O professor Oliveira Salazar dedicou-se quase inteiramente ao desempenho da sua missão com um êxito e um acerto que o tornaram credor do interesse geral e do reconhecimento dos seus compatriotas!”
Passemos a mais um naco de prosa grandiloquente: “O prestígio internacional que alcançou e se exprimiu por inequívocas demonstrações de estima, apreço e aplauso, tornaram-no rapidamente a figura maior da política portuguesa cujo concurso foi considerado indispensável à realização de empreendimentos mais vastos e seguros.
A figura do professor Oliveira Salazar adquiriu, entre 1928 e 1930, uma autoridade e uma popularidade que correspondiam à exigência colectiva de uma remodelação dos quadros e dos métodos políticos dominantes”.
Nesse dia, a censura ficou com as mão a abanar. Nunca o culto da personalidade atingira tais exageros. Eram laudas atrás de laudas. “No seu espírito, era de uma reforma moral, afectando todos os sectores e modalidades da sociedade portuguesa que se tratava e fora essa que, através de tudo, como estudante, professor, conferencista, jornalista e político, advogara amplamente.
A nação estava ao fim de algum tempo preparada para tentar uma experiência que exigia, para ser levada a cabo, paciência e energia íntima, poder de convicção e o propósito firme de não deixar a sua realização a meio e não descurar nenhum sector que pudesse contribuir para a sua eficiência”.
Salazar sorriria de orelha a orelha aquele seu sorriso sem lábios, simplesmente riscado na pele. “Foram novas e dolorosas condições que teve de enfrentar, com ânimo e firme atenção de salvaguardar a independência de Portugal, sem quebra da nossa dignidade e da nossa imensidão do mundo!” Só faltava um amén…