Onze meses volvidos desde que o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, afirmou que “não iremos salvar a TAP a qualquer preço”. Dez meses volvidos após a operação de aquisição da posição accionista de um privado por 55 milhões de euros, talvez o único caso internacional conhecido de quem obteve qualquer valor na alienação de participação accionista de companhias aéreas no decurso da crise; nove meses volvidos após a decisão de injeção pelo Governo, a título de emergência, de 1200 milhões de euros na TAP, os quais, na previsão dos seus responsáveis, provavelmente não seriam integralmente necessários; oito meses volvidos após ser nomeado, a título interino, um quadro da companhia aérea, sem experiência executiva prévia, para conduzir a mesma no decurso desse período, o qual o ministro das Infraestuturas estimava em escassas semanas, o tempo necessário para contratar uma empresa multinacional para encontrar a personalidade adequada para o exercício da função; sete meses volvidos após o ministro das Infraestruturas se comprometer que a TAP começaria a devolver ao Estado os empréstimos em 2025; seis meses volvidos após o anúncio por parte do ministro das Infraestruturas de que afinal o presidente da Comissão Executiva da TAP seria escolhido impreterivelmente até ao final do ano, por recurso a um rigoroso processo de seleção conduzido por uma multinacional, o qual apenas foi contratado mais de dois meses após o anúncio original; seis meses volvidos desde que o Governo inscreveu para o exercício orçamental de 2021 mais 500 milhões de euros para a TAP, para além dos 1200 milhões entregues na íntegra até janeiro de 2021; cinco meses volvidos desde que foi enviado para a Comissão Europeia o plano de reestruturação da TAP que envolve o compromisso de verbas públicas no montante de 3,7 mil milhões de euros, o qual o Governo estimava aprovação da Comissão Europeia em fevereiro; quatro meses volvidos desde que a verba orçamental comprometida para 2021 a favor da TAP foi revista, ascendendo a 970 milhões e não a 500 milhões, como antes previsto; três meses volvidos após os detalhes do plano terem sido sonegados ao parlamento, tendo o Governo submetido uma versão minimalista, a qual furta-se ao escrutínio e adensa a opacidade em todo o processo; dois meses volvidos desde que se demitiram dois membros da Comissão Executiva, encontrando-se a mesma sem a estabilidade necessária para os desafios que a empresa enfrenta; um mês volvido desde que o Governo reviu a sua posição e assumiu, em reação a notícias de que o processo de seleção e recrutamento do presidente da Comissão Executiva se encontrava finalizado, que nenhuma decisão seria tornada pública antes da aprovação do plano de reestruturação ser aprovado em Bruxelas; uma semana volvida desde que o putativo nomeado para o lugar terá revisto a sua posição e rejeitado o convite, alegadamente por impossibilidade de escolher a equipa que iria liderar, receio de interferências políticas que limitem a autonomia de gestão e a indefinição quanto ao plano de reestruturação. A caótica gestão política da TAP é uma galeria de horrores, liderada por um Governo que se deseja perpetuar no comando da empresa e exercer sobre a mesma um domínio avassalador, transformando-se numa coutada de poder à custa dos portugueses. O preço deste calvário fica a cargo dos portugueses. E o Governo nas decisões que toma não parece fazer para que o preço seja o menor possível.
Deputado