Ferro Rodrigues, de cravo na lapela, deu início àquela que é já a sua sexta intervenção como anfitrião da sessão solene do 25 de Abril no Parlamento. Referindo-se à pandemia que marcou o país, Ferro Rodrigues relembrou as quase 17 mil vítimas que a covid-19 já cobrou em Portugal, referindo o "horizonte de redobrada esperança" que veio com a chegada das diferentes vacinas contra o novo coronavírus.
Comparados com os 900 anos de história do país, garante o Presidente da Assembleia da República, os 47 anos de democracia são curtos, mas, ainda assim, defende como "marcantes as realizações da Democracia”, entre elas a criação do Serviço Nacional de Saúde e da Segurança Social, bem como os "feitos" na ciência portuguesa e a construção de infraestrutura em Portugal.
Ferro Rodrigues aproveitou ainda para relembrar a Constituição desenhada no seguimento da revolução dos cravos, “evocando todas e todos quantos, oriundos de projetos ideológicos tão distantes e quase incompatíveis, souberam convergir no essencial”, numa Constituição que “possibilitou uma grande multiplicidade de soluções de Governo e, mais que tudo, uma Constituição que garantiu estabilidade política. É essa a prova do tempo, a que a Constituição tem sabido resistir”, garantiu ainda Ferro Rodrigues.
"Em 47 anos, enfrentámos sucessivas crises financeiras e orçamentais, crises institucionais, crises migratórias, a crise climática que levará décadas a superar ou a crise pandémica que ainda atravessamos – e em todas, a Democracia foi fundamental para as enfrentar e superar", reforçou o Presidente da Assembleia da República.
Eduardo Ferro Rodrigues não poupou ainda nas críticas no seu discurso, garantindo que o 25 de Abril “não logrou ainda erradicar, em Portugal, as ideias e os valores que caracterizaram aquele período negro da nossa história, muitos deles adormecidos desde então", apontando o dedo às redes sociais e "aos promotores de falsas notícias, de ódio, de desinformação, de calúnias, de mentiras, contam-se por muitas centenas, e atingem milhões de alvos".
O Presidente da Assembleia da República deixou ainda uma mensagem para os partidos políticos do país, pedindo convergência "no que é essencial", e deixou ainda um ponto assente: “A experiência de 47 anos de Democracia representativa diz-nos que não há nenhuma crise que seja insuperável pelo Parlamento e pelo nosso sistema político”.
Ainda no âmbito do seu discurso, Ferro Rodrigues relembrou a "ferida aberta" da guerra colonial e das suas consequências no país, garantindo o Presidente da AR que "sessenta anos volvidos, há ainda marcas bem presentes deste passado, como sejam os discursos xenófobo e racista em algumas franjas da sociedade ou algumas representações sociais do período colonial", o que o leva a sugerir que o Parlamento discuta este assunto, já que lhe "cabe um papel da maior relevância no longo caminho que há ainda a percorrer, revisitando este período à luz dos valores democráticos, discutindo a memória do colonialismo e, 47 anos depois, refletindo sobre a presença colonial em África".
Para concluir, Ferro Rodrigues relembrou que o 25 de Abril "não tem proprietários", mas sim autores, e que esta é a altura de “celebrar o passado, mas com olhos no futuro”. A revolução “não tem proprietários, porque aos que participaram na libertação do País se seguiram várias gerações que ajudaram a construir o Portugal democrático em que vivemos”, concluiu o Presidente da Assembleia da República.