O Adeus do último Castro

O Adeus do último Castro


Raúl Castro vai abandonar a liderança do Partido Comunista Cubano, abrindo a porta a uma nova geração que terá de lidar com uma grave crise económica e a pandemia de covid-19.


É quase impossível imaginar Cuba sem a liderança dos irmãos Castro, Fidel e Raúl, de charuto na boca a proclamar as suas doutrinas marxistas-leninistas e revolucionárias.

Agora, esta dinastia prepara-se para dar lugar a uma nova «revolução»: Raúl Castro, de 89 anos, que se tornou líder do Partido Comunista Cubano (PCC) em 2016, sucedendo a Fidel, que morreu nesse ano, anunciou durante o congresso do partido, que começou na sexta-feira, que irá abandonar o cargo, oferecendo o lugar a Miguel Diaz-Canel, o atual Presidente cubano, e incentivou todos os políticos da sua geração e idade a seguirem-lhe o exemplo .

Esta mudança ocorre numa altura sensível para o país, que está a enfrentar uma das mais graves crises económicas da sua história, provocada pelo aumento das restrições dos Estados Unidos, sinais de dissidência política e a pandemia causada pela covid-19.

«Acho que nunca vi a situação do país tão má como está atualmente», disse Anaida González, uma professora de enfermagem reformada, citada pelo Financial Times.

«Este é um país de gado, mas não existe leite, manteiga, iogurte ou carne. As pessoas estão muito preocupadas com o estado do país, a pandemia e nada mais».

O PCC, que controla Cuba desde a revolução de 1959, irá legitimar durante o congresso, que decorre de cinco em cinco anos e termina na sexta-feira, as reformas políticas e financeiras que começaram a ser introduzidas em 2018, com uma profunda reforma constitucional.

Analistas cubanos estão convictos de que os novos governantes caminharão para uma economia menos centralistas e esperam que se ponha em prática uma maior abertura aos mercados exteriores.

Apesar destas mudanças, não é esperado que esta nova geração de líderes cubanos altere o modelo socialista que tem governado o país nem o regime unipartidário, segundo escreve a Reuters, mesmo com toda a pressão que tem em cima dos ombros.

«Grande parte da minha geração sente-se frustrada com o ritmo das mudanças», disse Jorge Quintana, residente de Havana, capital de Cuba, à agência de notícias, que referiu que entre todas as mudanças prometidas pelo governo em 2011, para uma maior abertura do governo, apenas 70% foram cumpridas. «Muitos emigraram à procura de um caminho diferente», disse.

Foram estas promessas não cumpridas por parte do governo, a par do acesso à internet, que abriu os horizontes a muitos cidadãos, assim como reformas sociais ao longo da década, que criaram uma dissidência interna que culminou em pequenos protestos dentro desta ilha na América Central e com vários cubanos a apelarem aos seus históricos rivais, os Estados Unidos, nomeadamente ao Presidente Joe Biden, para manter as apertadas restrições ao governo cubano.

Recuperar o apoio do povo é um dos maiores desafios de Diaz-Canel, uma tarefa árdua, dizem analistas citados pela Reuters, uma vez que o Presidente não possui a «legitimidade histórica» dos seus antecessores.

Um dos primeiros sinais da reforma governamental foi o anúncio da saída do ministro das Forças Armadas Revolucionárias, o histórico general Leopoldo Cintra Frías, de 79 anos.

O veterano juntou-se ao Exército Rebelde de Fidel Castro em 1957, quando tinha apenas 16 anos e foi proclamado Herói da República pelo Parlamento, que integra desde 1976.

Cintra Frías, o terceiro ministro da Defesa em 62 anos,é substituído por Álvaro López Miera… outro general veterano, de 77 anos.