No presente, como no passado, perpetuamos as nossas ideias através da escrita. Escrevemos em cadernos, em diários, em livros, em folhas soltas e até em pequenos pedaços de papel. Isto todos sabem, porém, o que nem todos alcançam é o que se revela na caligrafia, pois o caráter pessoal de cada um de nós esconde-se em cada uma das letras, em cada traço, em cada ponto.
Os que estudam grafologia dominam a arte de interpretar a personalidade pela escrita. Em cada traço, inconscientemente, revelamos o nosso perfil, os nossos maiores defeitos e virtudes.
Já alguém disse um dia que habitualmente escrevemos tanto com as mãos como com a cabeça e por essa razão a escrita é um trabalho sintonizado entre as ambas. É um todo.
Este ano, à semelhança de outros, pedi aos meus alunos, já na primeira aula, que escrevessem uma frase seguida da sua assinatura sem lhes explicar a razão: “Três tristes tigres bebem coca-cola”. Escreveram. Como bons alunos que são, seguiram as minhas indicações, entregaram prontamente a folha e esqueceram o assunto.
Agora, em pleno terceiro período, chegou o momento de lhes explicar a razão de ser daquele exercício. Desta vez aproveitei uma afirmação de um deles para lhes revelar o dito mistério – parece que o professor nos lê a mente. Sim, há artes que permitem que o professor o faça. Expliquei-lhes que um dos segredos para os cativar é conhecê-los muito além das aparências bem como além das impressões dos professores nas reuniões de avaliação. É uma verdadeira delícia estudar as personalidades de cada um deles, aliás, é maravilhoso acompanhar a evolução e a flexibilidade emocional por que cada um passa ao longo do ano.
Aqui e ali lá se revelam os espíritos mais tímidos e nervosos na letra pequena e também se revela o autoritário, teimoso e corajoso na escrita de grande dimensão. Por sua vez a escrita pontiaguda e angulosa revela sinais de estima por si mesmo, de energia, um temperamento vivo, tenaz e sarcástico. A letra de forma oval denota sentimentos de generosidade e de gosto artístico, além de confiança exagerada na opinião alheia. Mesmo o ponto da letra i revela-nos a atenção aos detalhes, a impaciência ou distração.
Mais do que estudar a caligrafia de cada um, importa estudar pessoas. Aprender a viver e a conviver com as características de uns e outros. A linha que separa o defeito da virtude parece ser muito ténue. Afinal, o que distingue a teimosia da persistência ou a desconfiança da prudência? Neste processo permanente de aprendizagem, não nos faz mal nenhum conhecer um pouco melhor os que nos rodeiam através destes pequenos sinais, afinal, esta pode ser uma ferramenta importantíssima para tirarmos o maior partido das qualidades daqueles que connosco vivem, estudam ou trabalham. Se chegou até aqui, por certo que a primeira coisa que fará a seguir será olhar para a sua letra e avaliá-la. A segunda, olhar para a letra dos outros e julgá-los. Porque não julgar o primeiro e avaliar o outro?
Professor e investigador