Neste momento vivemos com uma forte incerteza, não só com o presente mas principalmente com o futuro, como muitos afirmam é fundamental que a mensagem projetada através das políticas públicas anunciadas seja clara, bem como a estratégia delineada seja coerente, assertiva e que garanta um desenvolvimento e crescimento económico e social sustentável.
Pelo que, o uso da já famosa “bazuca europeia”, ainda não totalmente sufragada pelos diversos países e por isso não disponível, segundo os líderes políticos deve procurar responder de forma eficiente e eficaz às necessidades objetivas do país, procurando evitar erros passados, assegurando a sua aplicação em políticas públicas, e em setores e projetos que ajudem a recuperar e tornar mais resiliente a sociedade em geral e particularmente a economia.
Ora, estabelecer prioridades onde aplicar esta “bazuca” financeira, de cerca 45 mil milhões de euros, é fundamental e estratégico, e tal como já defendi nesta coluna o “Mar português” oferece condições distintivas e únicas, quer pela sua vasta área do território português, e pela sua dimensão, recursos, diversidade e capacidade de agregação e de escala pode garantir e representar um futuro muito mais auspicioso.
Por outro lado, o mar e os seus atores sempre foram capazes de demonstrar ser, e poder ser, um fator de recuperação e de resiliência para a economia do país, assim foi com agrado que tomei conhecimento através do jornal “Nascer do SOL” que o governo se prepara para alterar a versão inicial do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), melhorando a dotação financeira para o mar para cerca de 262 milhões, a ser verdade, este representa 0,5% do valor global da “bazuca”, só é pena que este montante continue a ser escasso para as amplas necessidades que o “Mar português” precisa e merece.
Com este reforço o governo pretende alargar o espectro das atividades marítimas, assegurando financiamento nas seguintes áreas “melhoria das condições de trabalho e segurança da pesca e portos”, “oferta formativa para a economia azul”, “operações de defesa do atlântico”, “hub azul”, rede de infraestruturas”, permitindo melhorar algumas reformas e o investimento necessário para alavancar o crescimento económico, tal como é objetivo do PRR.
Apesar de se reconhecer que o governo esteve atento às propostas que muitas instituições e atores individuais do mar formularam, reajustando o seu projeto inicial do PRR, continua-se a verificar que setores como a aquicultura offshore, indústria de transformação de pescado e biotecnologia azul não estão no radar desta reformulação. Assim, não aproveitar este financiamento excecional para fortalecer estas atividades, em particular a aquicultura offshore, é mais uma oportunidade perdida para fortalecer a produção de pescado em Portugal, suprir as necessidades de consumo dos portugueses, diminuir as importações, e reduzir o défice negativo da balança comercial, que neste setor se salda em mais de 1.000 milhões.
Por outro lado, continuar a adiar os apoios políticos, financeiros e outros para fortalecer, cimentar e desenvolver estes setores da economia azul é claramente um erro estratégico. Pois, a grande transversalidade destas atividades, permite não só aproveitar o que se investiga e inova em Portugal, as excelentes condições que o território marítimo oferece para este tipo de produção, como oferecer novas oportunidades às industrias tradicionais como por exemplo estaleiros navais e metalomecânica, potencia atividades emergentes como a biotecnologia e robótica, oferece robustez e proporciona condições para o aumento da exportação portuguesa proveniente da indústria de transformação do pescado, em sumula gera uma vasta e abrangente cadeia de valor totalmente sedeada no território português.